O Exército israelense bombardeou a Faixa de Gaza nesta quarta-feira (19) e entrou em confronto com milicianos do Hamas, um dia depois de anunciar que preparava uma “ofensiva” contra o movimento libanês Hezbollah na cada vez mais tensa fronteira norte do país.
Testemunhas e a Defesa Civil de Gaza, dirigida pelo Hamas, relataram mortes em bombardeios israelenses no oeste de Rafah, no sul do território palestino, onde pelo menos sete pessoas morreram, segundo fontes médicas.
No fim de semana, o exército israelita anunciou uma “pausa” diária nos combates numa estrada crucial a leste de Rafah para facilitar a entrega de ajuda humanitária, coincidindo com o festival muçulmano de Eid al-Adha. No entanto, um porta-voz da ONU afirmou que “isto ainda não se traduziu na prestação de mais ajuda às pessoas que dela necessitam”.
Os mais de oito meses de guerra, desencadeados pelo ataque do Hamas ao sul de Israel em 7 de Outubro, deixaram o território palestiniano à beira da fome, segundo a ONU.
O ponto de passagem de Rafah, cidade fronteiriça com o Egipto, está fechado desde que as tropas israelitas entraram na zona, no início de Maio, e o posto de controlo de Kerem Shalom, perto da fronteira israelita, “opera de forma limitada, também devido aos combates na região, “, disse o porta-voz adjunto da ONU, Farhan Haq.
Nas últimas semanas, houve uma “melhoria” na entrega de ajuda no norte da Faixa de Gaza, mas “uma deterioração drástica no sul”, explicou o porta-voz à imprensa. “Existem produtos básicos nos mercados do sul e centro de Gaza. […] muitas pessoas não podem pagar por eles”, alertou.
A guerra em Gaza aumentou as tensões na região, com as forças israelitas e o movimento xiita libanês Hezbollah, apoiado pelo Irão e aliado do Hamas, a trocarem tiros quase diariamente na fronteira entre Israel e o Líbano.
– Bombardeios no sul do Líbano –
O Exército Israelense disse na noite de terça-feira que “os planos operacionais foram aprovados e validados para uma ofensiva no Líbano”. Horas depois, os seus aviões bombardearam locais do Hezbollah no sul do país vizinho.
A agência nacional de notícias libanesa relatou bombardeios israelenses em várias áreas do sul do Líbano na manhã de quarta-feira, incluindo a vila fronteiriça de Khiam, onde um fotógrafo da AFP viu uma grande coluna de fumaça.
Por sua vez, o Hezbollah reivindicou um ataque de drones contra as forças israelitas perto da cidade fronteiriça de Metula, e o Exército israelita anunciou mais tarde que o movimento libanês lançou “aproximadamente 15 projécteis” em direcção a Kiryat Shemona, no norte de Israel, dos quais “muitos foram interceptados”.
O Hezbollah afirmou ter disparado “dezenas de foguetes Katyusha” e relatou a morte de quatro de seus combatentes.
– “Guerra total” –
O anúncio do Exército israelita de que os seus planos para uma ofensiva no Líbano tinham sido aprovados e um aviso do Ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Israel Katz, ameaçando destruir o Hezbollah numa “guerra total” coincidiram com uma visita a Beirute de Amos Hochstein, um emissário dos EUA. O presidente Joe Biden, que viajou à região com o objetivo de reduzir as tensões.
A guerra entre Israel e o Hamas começou em 7 de outubro, quando militantes islâmicos mataram 1.194 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo um levantamento baseado em dados oficiais israelitas.
Em resposta, Israel lançou uma ofensiva que resultou em pelo menos 37.396 mortes em Gaza, também na sua maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território palestiniano, governado pelo Hamas desde 2007.
– Bombardeios “indiscriminados” –
A nível interno, o primeiro-ministro israelita de direita, Benjamin Netanyahu, enfrenta uma onda de críticas pela forma como lidou com a guerra em Gaza e por não ter conseguido libertar os reféns.
Tanto Netanyahu, como o seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, e três líderes do Hamas são alvo de mandados de prisão emitidos pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
Um relatório da ONU divulgado na quarta-feira documenta seis bombardeios israelenses “indiscriminados e desproporcionais” que mataram pelo menos 218 pessoas nos primeiros dois meses da guerra.
Os bombardeamentos envolveram “uso suspeito” de bombas pesadas, indica o documento, um tipo de arma cujo fornecimento foi interrompido pelos Estados Unidos em maio, devido ao receio de que Israel as utilizasse na sua ofensiva contra Rafah.
Os bombardeamentos tiveram como alvo áreas “densamente povoadas”, como campos de refugiados, uma escola e um mercado, disse o gabinete dos Direitos Humanos da ONU, que observou que o uso de bombas pesadas “provavelmente constitui um ataque indiscriminado proibido”.
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