Um novo tipo de réptil que parece ser algo como uma mistura de crocodilo e dinossauro e que viveu há 237 milhões de anos, antes mesmo da idade de dinossaurosfoi descoberto no Brasil.
O exemplar possuía dentes em forma de adaga, adaptados para cortar carne, corpo esguio e ágil e dorso coberto por escudos dérmicos, que deveriam formar uma carapaça.
Mas era pequeno entre seus pares da época, apenas 1 metro de comprimento e 25 centímetros de altura.
Ele compartilhava o habitat com espécies com aparência de crocodilo, como a sua, mas que atingiam sete vezes o seu tamanho.
batizado por Parvosuchus aurelioio animal tinha seu fósseis descrita pelo paleontólogo Rodrigo Müller, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul.
“Não esperava encontrar o crânio no meio da rocha. Como inicialmente só era possível ver vértebras, acreditei que não estaria preservado”, diz Müller à BBC News Brasil.
No campo da paleontologia, é muito incomum encontrar crânios de animais que viveram há centenas de milhões de anos.
“Exemplos do Triássico Médio (247 milhões e 237 milhões de anos atrás) costumam ser encontrados como fragmentos de ossos, partes da coluna vertebral, pedaços da perna”, diz o paleontólogo Alexandre Kellner, um dos maiores especialistas em pterossauros do planeta e também diretor do Museu Nacional, no Rio de Janeiro.
A pedido da BBC News Brasil, ele leu e avaliou o artigo científico em que o fóssil foi descrito por Müller.
“Foi muita sorte ele ter encontrado a cabeça do animal, pois é uma fonte muito rica de informações. É uma raridade em nossa profissão”, comenta Kellner.
O estudo em que Müller descreve as novas espécies encontradas foi publicado nesta quinta-feira (20/6) na revista científica Relatórios Científicosdo grupo Natureza.
Como o novo réptil foi encontrado
O fóssil chegou à universidade como doação em janeiro deste ano.
Ele foi encontrado pelo médico Pedro Lucas Porcela Aurélio, entusiasta da paleontologia, conhecido entre os cientistas da região de Santa Maria.
Ele encontrou a rocha onde o crânio estava localizado há cerca de cinco anos. “Encontrei em uma visita de campo a uma propriedade rural em Paraíso do Sul”, diz ele, referindo-se à cidade gaúcha.
Hoje com 66 anos, Aurélio diz que é paleontólogo amador desde os tempos de faculdade.
“Quando comecei o curso de medicina na UFSM, comecei a acompanhar alguns estudantes de biologia.”
Com o tempo, tornou-se prática comum sair com paleontólogos em busca de achados, e é comum nesta área que os cientistas aceitem esse tipo de ajuda de entusiastas voluntários.
Na região estão os Sítios Paleontológicos de Santa Maria, área de referência para estudos por abrigar fósseis do período dos dinossauros (que começaram a caminhar pela Terra há 230 milhões de anos, 7 milhões de anos depois do novo réptil brasileiro) e antes deles.
No mesmo local onde Aurélio encontrou a rocha com o crânio, cinodontes (precursores dos mamíferos) e dicinodontes (parentes ainda mais distantes dos mamíferos).
A nova descoberta estabelece ainda o sítio fóssil “Linha Várzea 2”, nome dado pelos cientistas ao local específico onde o fóssil foi escavado.
O médico guardou a rocha durante anos e só recentemente, ao observá-la, percebeu que ali poderia existir um fóssil de interesse científico. Em janeiro, doou o item à UFSM.
O pequeno réptil
“Ver aquele crânio ali, completamente completo, foi emocionante, minhas mãos tremiam e tive que deixar o fóssil sobre a mesa até processar que tinha um réptil desconhecido na minha frente”, lembra o paleontólogo Rodrigo Müller.
Após realizar os procedimentos técnicos para estudar o animal, o cientista iniciou o trabalho de descrevê-lo.
Primeiro, ele descobriu que era membro do grupo Gracilisuchidaeque são da mesma linhagem que jacarés e crocodilos modernos, embora não seja possível dizer que este seja seu ancestral.
Esta constatação, por si só, já seria considerada chocante pela comunidade científica. Até hoje, só havia outros três registros de animais desse tipo em todo o planeta, um na Argentina e dois na China.
Havia suspeita de que havia exemplares de Gracilisuchidae no Brasil, mas este é o primeiro fóssil a comprovar isso de forma inequívoca.
“Naquela época, todos os continentes se uniam, formando a Pangéia, e por isso temos gracilisuquídeos na América do Sul e também na China”, explica Müller.
Porém, além de encontrar características do animal que o revelassem como integrante desse grupo de quadrúpedes terrestres que percorreu o que hoje é o Brasil, mas há 237 milhões de anos, o pesquisador identificou traços únicos no exemplar que tinha em mãos.
“A região do crânio, onde estão alojados os músculos responsáveis pela mordida, tem um formato observado apenas nos gracilisuquídeos e que consiste na redução de uma das aberturas, chamada de janela laterotemporal”, descreve o paleontólogo.
Mas acrescenta que o fóssil também apresenta “características únicas, que justificam a criação de uma nova espécie, que incluem as órbitas mais altas em comparação com as observadas noutros gracilisuquídeos, a articulação craniomandibular localizada acima da linha dos dentes e o púbis (osso da cintura pélvica). muito curto”.
Em outras palavras, é uma espécie totalmente nova, a Parvosuchus aurelioi. “Parvosuchus” combina a palavra latina parvus (pequeno) e do grego como nós (crocodilo), em referência ao pequeno tamanho do animal em comparação com outros predadores de sua época.
No mesmo habitat, o pequeno réptil teve que dividir espaço com, por exemplo, o colossal Prestosuchus chiniquensisum réptil quadrúpede com mais de sete metros de comprimento, quase o dobro do tamanho de um crocodilo do Nilo moderno.
“Esses predadores se destacaram. Por outro lado, também havia dicinodontes muito grandes, que são animais herbívoros e do tamanho de um rinoceronte”, descreve Müller.
Sobre o ambiente naquela época, avalia que devia ter temperaturas muito mais elevadas do que hoje, “e a maior parte da biodiversidade estava restrita às bordas do supercontinente, pois a região central era muito árida”.
A segunda parte do nome da espécie, auréliohomenageia o médico Pedro Lucas Porcela Aurélio, que doou o fóssil à universidade.
Para ele, a descoberta “não foi fruto do acaso, mas de uma busca metódica, uma busca onde se misturam aprendizado e prazer”.
Alexandre Kellner, do Museu Nacional, no Rio, comemora a descoberta. Do ponto de vista científico, destaca que “aprendemos um pouco mais sobre a diversidade reptiliana que existiu no nosso país em tempos anteriores à época dos dinossauros”.
Para ele, isso pode ajudar nos estudos sobre a evolução das espécies. “Influenciando as ideias que temos sobre o parentesco entre esses animais”, acrescenta.
Porém, Kellner também vê maior sentido em investir em pesquisas desse tipo: “A curiosidade científica, em busca de entender como o planeta é do jeito que é, é algo inerente à condição humana, que nos diferencia de um leão, de um gatinho , um beija-flor. Devemos divulgar e guardar as evidências que descobrimos para que nossas gerações futuras possam ter acesso ao nosso conhecimento.”
Você gostou do artigo? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:


Dê sua opinião! O Correio tem espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores através do e-mail sredat.df@dabr.com.br
como fazer emprestimo consignado auxilio brasil
whatsapp apk blue
simular site
consignado auxilio
empréstimo rapidos
consignado simulador
b blue
simulador credito consignado
simulado brb
picpay agência 0001 endereço