O Conselho Fiscal do Regime de Recuperação Fiscal (RRF) de Minas Gerais considera irregular o aumento de 300% concedido ao governador Romeu Zema (Novo), ao vice-governador Mateus Simões (Novo) e aos secretários estaduais no ano passado, pois não cumpre as regras do programa de renegociação da dívida estadual com a União.
Guilherme Laux, representante do Ministério da Fazenda no conselho, e Roberto Pereira, representante do Tribunal de Contas da União (TCU), consideraram que o governo Zema descumpriu a proibição de concessão de “aumento, reajuste ou reajuste de remuneração” . O representante do governo mineiro, Marcos Augusto Diniz, se absteve.
O parecer foi emitido em março após consulta do Sindicato dos Servidores de Tributação e Fiscalização (Sinfazfisco-MG) e revelado pelo jornal O Tempo. O Estadão também obteve o documento.
A lei do Regime de Recuperação Fiscal estabelece como exceção a concessão de recuperação salarial para correção de perdas inflacionárias. A inflação foi de 6,34% em 2022 e 4,62% em 2023. Zema sancionou o reajuste de 300% em maio do ano passado.
Em ação no Supremo Tribunal Federal (STF) ele justificou que era preciso corrigir uma inconstitucionalidade: seu salário deveria servir de teto para os mineiros, mas havia servidores que ganhavam mais que o governador. Antes do aumento, Zema recebia R$ 10,5 mil, valor que não era reajustado desde 2007.
O principal problema de Minas Gerais é a dívida de R$ 164 bilhões com a União. As parcelas da dívida não são pagas desde o final de 2018 com base em liminares do STF que foram renovadas sucessivamente desde então.
Zema defendeu inicialmente a adesão ao MRR, que permite a renegociação da dívida em troca de medidas para conter o aumento dos gastos públicos. Com dificuldade em convencer os deputados estaduais, o governador obteve autorização do Supremo para usufruir dos benefícios do programa, ou seja, refinanciar a dívida, desde que cumprisse as contrapartidas – entre elas, não conceder aumentos acima da inflação.
Em nota, o governo de Minas Gerais afirmou que o reajuste de 300% para Zema e a cúpula do governo mineiro não muda a situação atual. “Conforme orientação do próprio Conselho Fiscal, o ajuste indicado foi devidamente anotado no Plano de Recuperação revisado. Dessa forma, não coloca em risco a permanência no RRF ou o processo de aprovação de adesão ao regime”, afirmou o executivo.
O Ministério das Finanças, no entanto, tem uma visão diferente. O ministério disse ao jornal mineiro que a medida pode ser um obstáculo para a ratificação da adesão de Minas Gerais ao RRF.
No final do ano passado, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), apresentou uma proposta alternativa ao Regime de Recuperação Fiscal: a possibilidade de os Estados federalizarem as estatais para reduzir a dívida e reduzir o índice, atualmente IPCA mais 4% de juros.
O projeto de Pacheco foi apresentado no início do mês e ainda não há certeza de quando será aprovado no Senado e na Câmara dos Deputados. O tempo é um fator importante: o ministro do STF, Edson Fachin, prorrogou a suspensão do pagamento da dívida à União apenas até 1º de agosto.
Na tentativa de ganhar tempo para que o projeto de Pacheco vire lei, o governo Zema pediu que o prazo fosse prorrogado até o dia 28 do mesmo mês, quando o mérito da ação será julgado em plenário. Ainda não houve resposta. Porém, caso o pedido seja negado, o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Tadeu Martins Leite (MDB), disse que colocará em votação a adesão ao RRF no dia 1º de agosto.
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