Longe do Planalto e viajando pelo país, o casal Jair Bolsonaro e Michelle Bolsonaro buscam reverter a imagem de seu passado de militantes eleitorais malsucedidos. Ao contrário da última eleição municipal, em 2020, quando Bolsonaro era Presidente da República, o ex-presidente está mais ativo nas eleições para prefeito deste ano e está ativo, viajando para fazer campanha para seus aliados. Também diferente de há quatro anos, o ex-chefe do Executivo mudou de vida pedindo votos para seus aliados nas ruas, em carreatas e manifestações.
Um forte exemplo dessa nova postura ocorreu ontem (3/8), durante a convenção do MDB que oficializou a candidatura do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, à reeleição. O evento, no estacionamento da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), contou com a presença de Bolsonaro, do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), do ex-presidente Michel Temer (MDB) e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Com posição de destaque no palco da convenção, Bolsonaro defendeu Nunes como seu nome para a capital paulista e disse que o prefeito já provou suas qualidades durante seu mandato. “A todos vocês de São Paulo, não é hora de perguntar, pedir será daqui a alguns dias, mas confiem em nós, façam comparações, vejam o que têm para escolher, não há dúvida de que Ricardo Nunes é adequado e nome justo para São Paulo certamente terá uma administração melhorada e obviamente melhorada com ele à frente da prefeitura.”
O ex-presidente quer melhorar seu desempenho como militante eleitoral. Em 2020, fez campanha em suas “lives eleitorais” para 58 candidatos e abriu espaço para candidatos em transmissões de sua mesa no Alvorada, utilizando estrutura governamental. Exibia pequenos cartões com o nome e número do candidato. Ele até usou o intérprete oficial de Libra para esse fim. Cada transmissão durou entre 40 minutos a uma hora.
Ele foi abordado por muitos apoiadores candidatos, mas disse que não poderia fazer campanha para todos. “Não posso citar todos. Sei que tem gente brava comigo por aí. Dos 500 mil candidatos a vereador, acredito que 10%, cerca de 50 mil, me apoiam. Não dá para falar de todos. Tem gente quem disser não vai votar mais em mim Paciência”, afirmou em uma dessas lives.
Desses 58, Bolsonaro pediu votos para 15 candidatos a prefeito e 43 vereadores. Conseguiu eleger apenas cinco prefeitos e 10 vereadores. Às vezes, ele nem sabia para quem estava fazendo campanha. Seus ministros, filhos e conselheiros enviaram-lhe seus “peixes” para propaganda. “De quem é esse peixe?” perguntou Bolsonaro no meio da transmissão.
Michelle participou de forma mais discreta que o marido na campanha de 2020, mas teve seus favoritos, para quem fez propaganda. A então primeira-dama apoiou pelo menos quatro candidatos a vereador naquela eleição e nenhum deles foi eleito. O mais conhecido deles foi o ex-ginasta Diego Hypolito, do PSB, candidato em São Paulo. Hoje comentarista de ginástica nas Olimpíadas de Paris, Hypolito era próximo do casal Bolsonaro e posta fotos com os dois. Na disputa, porém, obteve 3.783 votos, tendo sido o 202º mais votado.
Este ano, Michelle assumiu outro papel. Com a derrota de Bolsonaro na sua candidatura à reeleição e a inelegibilidade do ex-presidente até 2030, a ex-primeira-dama tornou-se uma líder proeminente da direita do país. Seu nome é cogitado para concorrer à Presidência da República e sempre aparece nas pesquisas de opinião.
Michelle hoje preside o PL Mulher e está empenhada em eleger o maior número de candidatas mulheres em todo o país. Nesse ativismo, o casal Bolsonaro apareceu esta semana pregando em vídeos e mensagens contra a proximidade do PL e alianças com o PT em coligações eleitorais.
“O PL Mulher, na pessoa do seu presidente nacional, vem por este meio reforçar a decisão adoptada pelo Partido Liberal, que proíbe qualquer tipo de coligação com partidos de esquerda. acontecendo na Venezuela e que os partidos brasileiros se manifestam a favor desse regime ditatorial. Não queremos que o Brasil tenha esse mesmo destino”, foi o manifesto de Michelle.
Virada de chave
Nesta eleição, o comportamento do casal é diferente. Bolsonaro tem participado diretamente da articulação das chapas, apoiando e vetando nomes, gravando muitas mensagens por onde passa para aliados e participando de eventos e carreatas. Essa mobilização também visa mantê-lo no centro das atenções, mesmo que seja pouco provável que reverta sua situação de inelegibilidade para uma “revanche” contra Luiz Inácio Lula da Silva daqui a dois anos.
A família Bolsonaro tem repetido que 2026 começa agora. Uma frase de efeito que realmente se aplica a todos os espectros da política. Os prefeitos e vereadores que serão eleitos este ano são futuros líderes eleitorais de futuros candidatos ao Palácio do Planalto, aos governos estaduais e ao Congresso Nacional e Assembleias Legislativas.
A missão de Bolsonaro é manter a representação à direita e, no campo eleitoral, eleger mais prefeitos significa, por exemplo, ter uma bancada forte no Senado em 2026, objetivo declarado deste grupo, atualmente minoritário naquela Câmara.
Desde o início do ano, Bolsonaro já visitou cerca de 20 cidades, entre os principais colégios eleitorais do país. Esteve em São Paulo, Rio e Belo Horizonte. A estimativa do PL de vitória das prefeituras depende do interlocutor. O presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, já falou em 1.500 prefeitos eleitos pelo partido. Bolsonaro, mais comedido, estima entre 500 e 1 mil.
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