O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está considerando sugerir uma segunda eleição na Venezuela. A saída é discutida como alternativa para mitigar a crise entre o regime de Nicolás Maduro e a oposição, representada por Edmundo González. Até agora, o governo brasileiro limitou-se a exigir a divulgação dos registos eleitorais, sem reconhecer o resultado avalizado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que reelegeu o ditador.
A informação foi confirmada pelo assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, em entrevista ao jornal Valor Econômicopublicado esta terça-feira. Segundo ele, porém, a ideia é apenas uma possibilidade, que nem foi discutida com os presidentes da Colômbia, Gustavo Petro, e do México, Andrés Manuel López Obrador.
Os três líderes e os respetivos corpos diplomáticos trabalham para mediar a crise entre Maduro e González e encontrar uma “solução negociada” para o conflito. Ambos se declararam vencedores nas eleições, mas o atual presidente ampliou a repressão. Pelo menos 1.200 dissidentes já foram presos.
A sugestão de refazer a eleição foi levantada pelo presidente Lula na reunião ministerial da última quinta-feira. Disse também que não é possível reconhecer a vitória de Maduro sem a divulgação da ata e que o chavista não poderá reclamar se for chamado de ditador se não provar que venceu de forma limpa.
Segundo Amorim, a sugestão de pedido de nova eleição foi dele, mas a proposta ainda não está madura. Ele comparou a medida a um segundo turno e ressaltou que a ideia tem tração com outros atores internacionais. No entanto, haveria uma nova onda de contrapartidas, como o levantamento de sanções dos Estados Unidos e da Europa e a permissão da participação de mais observadores internacionais.
No entanto, o próprio conselheiro especial admitiu que a proposta depende da aprovação tanto de Maduro como da oposição, o que pode ser difícil. O fracasso da primeira tentativa de realização de eleições livres, os Acordos de Barbados, também aumenta o cepticismo em relação à ideia.
Espera-se que Lula discuta a possibilidade com Obrador e Petro em um telefonema ainda esta semana. Havia expectativa no Planalto de que a convocação ocorresse na segunda-feira, o que não se concretizou por dificuldades nas agendas dos três chefes de Estado. A linha de ação atual é que os presidentes conversem separadamente com Maduro e González para tentar superar a crise.
Justin Trudeau
Lula recebeu, nesta terça-feira, um telefonema do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, com quem conversou sobre a situação na Venezuela. Segundo nota divulgada pelo Planalto, o canadense elogiou a posição brasileira na crise, principalmente o diálogo com as duas partes envolvidas e os pedidos de transparência.
Lula disse que houve uma série de erros da comunidade internacional em relação à Venezuela, citando a imposição de sanções, especialmente pelos Estados Unidos e pela União Europeia, e o reconhecimento de Juan Guaidó como presidente nos últimos anos. Sem base eleitoral, Guaidó declarou-se presidente.
Lula também comentou sobre o diálogo entre Brasil, Colômbia e México para evitar o aprofundamento da crise na Venezuela. “O mais importante é manter a América do Sul livre de conflitos, com prosperidade e harmonia”, sustentou. Convidou o primeiro-ministro a participar na cimeira dos líderes democráticos, que se realiza à margem da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, no dia 24 de setembro.
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