São Paulo é uma cidade alfa, a mais populosa fora da Ásia e o maior centro comercial, financeiro e cultural da América do Sul. Representa 10% do PIB do Brasil e 30% do PIB de São Paulo. Abriga 63% das multinacionais instaladas no Brasil e responde por um terço da produção científica do país.
Com 11,45 milhões de habitantes, é a cidade mais rica e desigual do país, com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) (0,805) —os bairros mais centrais, em geral, têm IDH acima de 0,9, que desaba na periferia para cerca de 0,7. Os investimentos públicos e o planejamento urbano concentraram-se entre os rios Pinheiros, Tietê e Tamanduateí, que beneficiam o topo da pirâmide social, cuja base ocupa áreas com infraestrutura precária.
Esta contradição é evidente na distribuição de rendimentos, mas também na educação, saúde, transportes, saneamento básico, habitação e segurança pública. Não faltam temas relevantes para os candidatos a prefeito apresentarem suas propostas. Mas não foi isso que prevaleceu no debate de ontem, com a participação dos principais concorrentes à prefeitura de São Paulo. Nunes, Boulos, Marçal, Datena e Tabata optaram por duros ataques pessoais.
O prefeito de São Paulo, candidato à reeleição, logo no início do debate chamou Marçal de “tchutchuca do PCC”, após seu adversário afirmar que o colocaria na cadeia caso fosse eleito. Nunes saiu do controle porque foi acusado de receber repasses de recursos municipais desviados de unidades de educação infantil de São Paulo, quando ainda era vereador.
Tabata também acusa Marçal de ter ligações com o PCC e afirma que a organização criminosa estava por trás da fortuna do influenciador —preso em 2005 durante a Operação Pégaso, contra a maior quadrilha especializada em hackear contas bancárias pela internet. Em 2010, Marçal foi condenado a quatro anos e cinco meses de prisão semiaberta pela Justiça Federal de Goiás, mas recorreu da pena por oito anos, até o caso expirar em 2018.
No debate, Marçal rejeitou estas acusações e disse ser alvo de um “consórcio de comunistas”. Ele insinuou que Datena vendeu seus quatro saques nas eleições anteriores. Desafiado, o apresentador chamou o adversário de “bandido” e o acusou de andar “de braços dados com o PCC”. Marçal usou a tela dividida para provocar os adversários e fazer gestos com as mãos, principalmente a letra M, com três dedos para baixo.
Parecia que o debate se concentraria nos reais problemas da cidade, quando Boulos criticou a privatização da Sabesp, sendo contestado por Nunes. Mas a temperatura estava alta e a queda continuou. Houve uma aliança tácita contra Marçal e Nunes, que também lutavam entre si, entre Boulos, Datena e Tabata. Cada vez que a discussão sobre políticas públicas parecia evoluir, como quando provocada por perguntas de jornalistas, os candidatos desciam para ataques pessoais, também alimentados por repetidos direitos de resposta. Só no final, ao despedirem-se, os cinco traçaram um conjunto de propostas para a cidade. Mas então já era tarde demais.
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