“Na planície avermelhada, os juazeiros estendiam duas manchas verdes. Os infelizes haviam caminhado o dia todo, estavam cansados e com fome. Normalmente caminhavam pouco, mas como haviam descansado muito na areia do rio seco, a jornada havia progredido bem, há três léguas procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros aparecia ao longe, por entre os galhos nus da caatinga rala.
Arrastaram-se até lá, lentamente, Sinha Vitória com o filho mais novo esparramado no quarto e o tronco de folhas na cabeça, Fabiano sombrio, balançando, o aye no ombro, a cabaça pendurada numa alça presa ao cinto, o fuzil de pederneira na mão dele. ombro. O menino mais velho e o cachorro Baleia seguiram atrás.
Os Juazeiros se aproximaram, recuaram, desapareceram. O menino mais velho começou a chorar e sentou-se no chão.
— Vamos, seu maldito demônio, gritou o pai.
Vidas Secas (Editora Record), romance de Graciliano Ramos, publicado em 1938, com 176 páginas, é uma obra-prima da literatura brasileira. Retrata a vida miserável de Fabiano e sua família de migrantes rurais obrigados a se deslocar, de tempos em tempos, para áreas menos afetadas pela seca. São cenas que parecem distantes, principalmente depois que a calha do Rio São Francisco irriga grande parte do semiárido nordestino, mas que podem se repetir em regiões inimagináveis, como os igarapés e várzeas da Amazônia, e áreas alagadas do Pantanal, castigado pela seca e em risco de desertificação.
Segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), o país enfrenta a maior seca desde 1950, com exceção do Rio Grande do Sul. Nas últimas semanas, muitas cidades ficaram cobertas de fumaça, incluindo Brasília e São Paulo, com origem em incêndios florestais na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal.
Nesta semana, cerca de 244 cidades brasileiras registraram clima semelhante ao do Saara, que varia de 14% a 20% de umidade. Assim como Brasília, cuja seca invernal é famosa, as cidades de Barretos, Marília e Tupã, em São Paulo, registraram apenas 7% de umidade; Goiânia, Luziânia e Morrinhos, em Goiás; Parnaíba e Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul; e Itaituba, em Minas Gerais. As altas temperaturas e a fumaça pioram as condições sanitárias. A situação deverá piorar ainda mais.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), setembro, último mês do inverno, começou com forte onda de calor. Em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, as temperaturas máximas chegaram a 40°C; no interior de São Paulo e Minas Gerais, as cidades chegaram a 39°C. Talvez o Brasil, esta semana, seja o país mais quente do mundo, o que está diretamente relacionado ao aquecimento global, causado pelo “efeito estufa” — emissão de gases que retêm o calor solar na atmosfera terrestre, principalmente dióxido de carbono e gás metano . Zerar o desmatamento é a maneira mais barata, eficaz e rápida de conter o aquecimento.
100 dias
Estamos na maior e mais extensa seca já registrada, com muitos locais sem chuva há mais de 100 dias, o que provoca baixa umidade. Muitas cidades estão perto de atingir o nível de umidade do deserto do Atacama, no Chile, que é de 5%, o mais seco do mundo.
Ontem, na Comissão de Meio Ambiente do Senado, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, alertou que o Pantanal poderá deixar de existir até o final do século. Na audiência com senadores, ela disse que será necessário aumentar esforços e recursos para combater as consequências das mudanças climáticas. Ela propôs ao Congresso a criação de um quadro regulatório de emergência climática, que exclua da meta fiscal do governo federal os recursos gastos nessas condições.
No Congresso, há uma negação encoberta em relação ao aquecimento global, com a qual a maioria dos políticos não se preocupa, especialmente nas fronteiras agrícolas e mineiras. Este ano, o Brasil registrou o maior número de incêndios desde 2010. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram 68.635 registros. Segundo o Inpe, mais de 80% desses surtos ocorreram na Amazônia e no Cerrado. Muitas são causadas pela seca, mas também existem atividades criminosas.
Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), ontem, a Usina Hidrelétrica Santo Antônio teve que desligar parte de suas unidades geradoras devido à extrema seca do Rio Madeira, em Rondônia, e está funcionando com apenas 14% das turbinas . O rio atingiu o nível mais baixo já observado em quase 60 anos, chegando a 1,02m.
A Região Amazônica enfrenta um período de seca extrema. O Oceano Atlântico Norte é mais quente que o normal e mais quente que o Atlântico Sul, e o fenômeno El Niño inibe a formação de chuvas. Com 3 mil km² de extensão, o Rio Madeira abriga duas das maiores hidrelétricas do Brasil: Jirau e Santo Antônio, que geram energia para todo o país.
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