A sucessão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), teve, ontem, um capítulo que pode indicar como a novela chegará ao fim, em fevereiro do ano que vem. Na comemoração dos 35 anos do líder do Republicanos, deputado federal Hugo Motta (PB), em restaurante da Asa Sul, Lira anunciou que o anfitrião terá seu apoio na disputa pelo cargo, nas eleições de 2025 Participaram do almoço líderes de diversos partidos de base e de oposição.
“Receber um abraço do presidente Arthur Lira e dos principais amigos no meu aniversário. Relações de confiança, diálogo, lealdade e muitas lutas diárias. Construir amizades e parcerias verdadeiras é um compromisso que tenho, olhar nos olhos, conversar em harmonia e em benefício do Brasil”, postou Motta, em seu Instagram, com foto do encontro.
O líder do Republicanos despontou como principal favorito para suceder Lira desde que o presidente do partido, deputado Marcos Pereira (SP), anunciou sua desistência da candidatura. Inicialmente, o nome do presidente da Câmara era o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA). Como sua postulação enfrenta forte oposição dos partidos que compõem o Centrão, e a postulação do líder do PSD, Antônio Brito (BA), não decola a ponto de se tornar competitiva, Lira mudou o rumo da conversa e , agora, reforça a posição de Motta.
Alcolumbre
No União Brasil, a mudança na trajetória do presidente da Câmara está sendo interpretada como uma espécie de traição por muitos parlamentares, e que pode até contaminar a eleição da Mesa do Senado. O partido aposta na habilidade política do senador Davi Alcolumbre (AP) para que ele retorne ao cargo que ocupava, antes da gestão de Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Com a expectativa do Centrão de se juntar a Motta na Câmara, o apoio a Alcolumbre ganha um novo fator.
Apesar da ascensão do deputado republicano na corrida sucessória, nem Elmar nem Brito desistiram da intenção de disputar o cargo mais importante da Câmara. O deputado do PSD conta ainda com o apoio do presidente do partido, Gilberto Kassab, que tem grande influência no Congresso. O líder do União Brasil, por sua vez, obteve audiência ontem com Luiz Inácio Lula da Silva, em mais um movimento para ganhar a simpatia do Palácio do Planalto. O Presidente da República, porém, tem reiterado que não tomará partido de ninguém nesta disputa.
O nome de Motta apela, principalmente, ao bolsonarismo, força importante no Congresso. O líder do PL, deputado Altineu Côrtes (RJ), que participou do almoço de aniversário, disse que a festa do ex-presidente Jair Bolsonaro deveria fechar com o colega republicano.
“É um nome excepcional, terá o apoio do PL”, garantiu. Outro ponto a favor de Motta, para Côrtes, é que a bancada o considera o mais “independente” dos três candidatos em relação ao governo federal.
O líder da federação PT-PCdoB-PV, Odair Cunha (PT-MG), que declarou que submeterá o nome de Motta à bancada, ressaltou que, nesta disputa, “não cabe debater a questão do governo versus oposição, mas apenas, garantir a escolha de um nome que garanta o funcionamento harmonioso e independente do Poder Legislativo”.
“Quanto menos disputas secundárias, melhor será para os interesses do Brasil. O importante é a união em torno da aprovação de projetos relevantes que busquem o desenvolvimento sustentável e beneficiem, de forma ampla, toda a sociedade brasileira”, destacou Cunha, em postagem em suas redes sociais.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), prefere não comentar os assuntos que estão sendo conduzidos pelas principais forças políticas na Câmara do governo. Ele defende a posição do Palácio do Planalto de não interferir no processo sucessório do Congresso.
“O governo não vai se envolver”, frisou.
Elmar vai para Lula
Nas últimas 48 horas, Elmar e o líder do PSD, deputado Antônio Brito (BA) —que também disputa a presidência da Câmara— decidiram manter as respectivas campanhas até que um deles saia com viabilidade de vitória. Quem estiver melhor posicionado para vencer a eleição receberá o apoio do outro, que desistirá da disputa. O negócio foi fechado na noite de segunda-feira, já circulando rumores de que Lira afastaria Elmar.
O líder do União Brasil sentiu o golpe, mas não interrompeu a campanha. Na terça-feira, ele procurou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, para solicitar audiência com o presidente da República. Elmar fez questão de postar o encontro em seu Instagram pessoal, onde esteve acompanhado dos ministros Juscelino Filho (Comunicação) e Celso Sabino (Turismo) —colegas de partido.
“Reunião com o Ministro Padilha e nossos representantes no governo federal, Juscelino Filho e Celso Sabino. Reafirmamos nosso compromisso com o Brasil. A União Brasil foi convocada pelo presidente Lula, ainda antes de sua posse, para integrar a coalizão de apoio ao governo, e nós temos feito a nossa parte. Estamos empenhados em garantir a estabilidade política e social, fortalecer as instituições democráticas e promover medidas que façam a diferença”, publicou.
Ontem à tarde, Elmar foi recebido por Lula. Fontes partidárias disseram que a estratégia do deputado é aguardar as eleições municipais, pois a aposta é que a União Brasil saia mais forte, com vitória em muitas cidades importantes, aumentando o poder do seu líder na Câmara.
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