Por Antonio Lavareda* e Vinícius Alves* – As competições municipais no Brasil costumam ser oportunidades para os eleitores se conectarem com questões relacionadas ao cuidado e à boa gestão da cidade em que vivem. Mas muitas vezes também promovem discussões mais amplas sob a influência de líderes nacionais ou estaduais, que entram em cena oferecendo apoio aos candidatos na arena local. Além disso, já foram caracterizados por nós como “barômetros ideológicos”, capazes de medir ou atualizar o peso dos campos políticos, e de sinalizar perspectivas para o sistema nacional nas eleições subsequentes.
Em algumas ocasiões, provocam discussões acaloradas sobre o comportamento dos eleitores e a formação de preferências, reacendendo debates importantes para os estudiosos da comunicação política. Mais do que isso, também são capazes de suscitar reflexões abrangentes sobre a qualidade da representação no país e a influência do arranjo federativo no funcionamento da democracia brasileira.
Este ano, algumas dessas discussões ganharam destaque ao longo do processo eleitoral e outras durante a pré-campanha. Neste texto destacamos alguns dos mais presentes. Seriam as disputas municipais capazes de replicar a clivagem Lula (PT) x Bolsonaro (PL), tão discutida no cenário político nacional? Quem levaria vantagem numa polarização das disputas locais, aliados de Bolsonaro ou de Lula? Quais as perspectivas para o desempenho dos candidatos a prefeito neste ano? É possível projetar o crescimento dos partidos de direita com base nas intenções de voto dos principais concorrentes em 2024? Quais partidos se destacariam nesse contexto? Será que o horário tradicional (e por vezes subestimado) da televisão ainda é capaz de exercer influência no contexto da corrida de 2024?
Chamamos inicialmente a atenção para o efeito da presença na competição de prefeitos em exercício. Em 2020, esse fator mostrou-se decisivo para definir os concorrentes vitoriosos nas capitais e municípios com mais de 200 mil eleitores. Neles, a taxa de sucesso dessas candidaturas se aproximou de 77% (cerca de três em cada quatro representantes das maiores cidades brasileiras que buscaram a reeleição em 2020 foram bem-sucedidos).
Nas eleições de 2024, dada a evolução das intenções de voto dos principais concorrentes até ao momento, projeta-se um efeito semelhante, com uma taxa de sucesso para os titulares de pelo menos 60% nas capitais e 80% nos restantes municípios do G103 (aqueles com o possibilidade de um segundo turno). Vale considerar que algumas dessas disputas não serão resolvidas no primeiro turno, o que poderá fazer essa projeção oscilar, mais ou menos, mas nada indica até o momento que este ano eleitoral será disruptivo em relação à sua força.
Neste ponto, observamos que o número de candidatos a prefeito nas capitais aumentou consideravelmente (de 13, em 2020, para 20, em 2024). Lembramos também que nas últimas eleições os candidatos à reeleição concorreram num contexto potencialmente mais favorável à renovação dos seus mandatos. A continuidade tinha forte apelo eleitoral e parecia a opção mais segura face a uma grave crise de saúde pública.
Sobre o tema da polarização, que continua influente no contexto da política nacional, é necessário destacar que o ex-presidente Bolsonaro (PL) e o presidente Lula (PT) não são figuras tão presentes ou marcantes no quadro geral das disputas deste ano. na maioria das cidades brasileiras. Com exceção de algumas competições em que colocam seu time em campo, os dois personagens mais influentes no atual cenário da política brasileira não são decisivos na estruturação da corrida municipal em todo o país, pelo menos não na dimensão que se conjectura a partir de 2022 em diante.
Feita esta observação sobre os limites da polarização, é possível notar que a competição deste ano apresenta uma situação mais favorável para o PL nos grandes centros metropolitanos. É visível o desempenho superior do PL em relação ao PT: o partido de Bolsonaro lidera em cinco capitais, enquanto o Partido dos Trabalhadores está à frente em apenas uma, Teresina. Nos demais municípios que compõem o G103, temos nove lideranças do PL e cinco do PT. Além desta contagem, o Partido Liberal também se projeta com maior força para as prováveis disputas no segundo turno. Enquanto o PL ocupa o segundo lugar em quatro capitais e 17 cidades do G103, os petistas ficam em segundo lugar em três capitais e em 12 dos maiores municípios.
A situação mais favorável do partido de Bolsonaro em relação ao partido de Lula deve ser entendida no contexto do nosso sistema político, historicamente mais favorável aos partidos diretos na arena local. Nesta perspectiva, vale também destacar que o seu voto nacional agregado cresceu desde as eleições de 2016. A respetiva proporção nacional de votos para presidente da Câmara foi inferior a 30% em 2012, atingiu cerca de 38% em 2016 e passaria a ser superior a 54% em 2020. Uma tendência que provavelmente se repetirá nas eleições deste ano. Considerando a classificação ideológica adotada por especialistas acadêmicos e a evolução das intenções de voto dos candidatos desse segmento, partidos como PSD, União Brasil e PL terão destaque.
O avanço da direita se projeta em detrimento da atuação da esquerda e do centro, tanto nas capitais como nos grandes municípios. Se já havia se fortalecido com as eleições de 2020, quando venceu em quase metade das capitais e grandes cidades (respectivamente, 46% e 53%), as eleições deste ano sinalizam um cenário ainda mais favorável para o destacado campo ideológico (atualmente lidera em 73% nas capitais e 64% nos municípios do G103).
Por outro lado, os desafios para a esquerda e para o centro são consideráveis. Se em 2020 os dois espectros tiveram sucesso, respectivamente, em cinco e nove capitais (aproximadamente 19% e 35% deste subconjunto), hoje a esquerda lidera em apenas três, e o centro em quatro capitais. Examinando a situação em outros municípios com possibilidade de segundo turno, é possível projetar um contexto igualmente desafiador (os partidos de esquerda lideram em 14 grandes cidades, tendo vencido em 11 deste subconjunto nas últimas eleições). O mesmo para o centro, que venceu em 20 e hoje lidera em 15 dos municípios que reúnem os maiores eleitorados do país.
Por fim, vale destacar que o tempo de televisão ainda se apresenta como um importante recurso de campanha, associado às candidaturas mais concorridas a prefeito. Embora os novos meios de comunicação, especialmente as redes sociais, atraiam muita atenção e ganhem cada vez mais influência na dinâmica das recentes eleições, a TV não pode ser subestimada. Ainda mantém a sua relevância, o que fica evidente quando observamos que os primeiros colocados têm, em média, cerca de 220 segundos de exposição diária, enquanto os candidatos na segunda posição têm aproximadamente 175 (algo em torno de 45 segundos a menos). , em média, em relação aos líderes). Em seguida, em ordem decrescente de visualização de TV, estão os posicionados em terceiro lugar, que possuem menos de 100 segundos.
Nota-se, portanto, que o tempo de exibição da publicidade está fortemente associado ao posicionamento dos candidatos na disputa de 2024. Cerca de 69,2% dos candidatos das capitais com maior tempo de TV estão hoje na liderança, enquanto algo em torno de 23,1% ocupam o segundo lugar. Apenas 7,7% dos que têm mais tempo de TV estão na terceira posição. Em resumo, 85% dos concorrentes que ficam em primeiro ou segundo lugar na disputa pelas capitais têm o maior ou o segundo maior tempo de exposição no tempo livre.
*Antonio Lavareda é presidente do Conselho Científico do Ipespe.
*Vinícius Alves é diretor do Ipespe Analítico, responsável pelo Índice CNN de onde foram extraídos os dados citados
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