O resultado do PT nas urnas no primeiro turno das eleições municipais, com aumento no número de municípios e vereadores, foi comemorado pelo partido. Porém, frustrou quem esperava um avanço considerável da esquerda após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. Com 248 municípios, o PT está longe de atingir o recorde de 630 prefeituras de 2012, após nove anos no comando do Executivo federal. Enquanto isso, ganham espaço as siglas de direita e centro-direita, que hoje formam a base do governo federal — especialmente PSD, União Brasil, MDB e PP.
Analistas entrevistados por Correspondência avaliam que o desempenho do PT na eleição do dia 6 deixou a desejar. A sigla precisa repensar sua estratégia para os próximos anos, como admitiu o próprio Lula na semana passada. O presidente terá que se aproximar dos partidos centristas para manter a governabilidade e tentar ser reeleito, ou indicar um sucessor em 2026. O PT, por sua vez, atribuiu o avanço da direita e do centro-direita ao repasse de alterações parlamentares.
“Temos que rediscutir o papel do PT nas eleições para prefeito. O PT, nessas eleições, 80% dos nossos prefeitos foram eleitos em cinco países (estados), todos no Nordeste. Grande do Sul não tivemos uma boa participação em São Paulo; em Minas Gerais vencemos nas duas cidades que governamos, Juiz de Fora e Contagem, que já governamos com duas mulheres”, disse Lula em entrevista. com a Rádio O Povo/CBN na sexta-feira.
No primeiro turno das eleições, o PT aumentou o número de prefeituras de 183 para 248, um aumento de 35,5%. Também disputará o segundo turno em 13 cidades, sendo quatro capitais: Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS), Cuiabá (MT) e Natal (RN). Além disso, o partido elegeu 22 vice-prefeitos em alianças com 14 partidos. O número de vereadores, por sua vez, passou de 2.668 para 3.118, 16,8% a mais que na última votação.
Em nota, a Comissão Nacional do PT comemorou o resultado e avaliou que a disputa foi influenciada pela cifra bilionária das emendas parlamentares destinadas, em sua maior parte, aos partidos de centro-direita. “O resultado do primeiro turno de 2024 aponta para o início da recuperação eleitoral do PT nos municípios, num cenário que mais uma vez favoreceu a eleição ou reeleição de candidatos dos partidos de centro-direita e direita dominantes no Congresso Nacional, com acesso a emendas parlamentares bilionárias e no comando das máquinas públicas municipais”, diz o texto, citando a taxa de reeleição de 80%.
Porém, o vice-líder do governo na Câmara, Reginaldo Lopes (PT-MG), demonstrou, ontem, decepção com o resultado do partido no primeiro turno. “O desempenho decepcionante do partido do presidente mais icônico da história do Brasil expõe nosso desligamento com a realidade. O mundo mudou e novas demandas surgiram. Precisamos nos reinventar para nos conectarmos com jovens, trabalhadores urbanos e rurais, mulheres e empresários que movimentam a economia. Sem isso estamos fadados ao fracasso”, escreveu em suas redes sociais.
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), por sua vez, afirmou que o desempenho do PT ficou dentro do esperado. “Vamos lembrar aqui que o auge do nosso número de prefeituras foi em 2012, quando elegemos 630 prefeitos. Depois, em 2016, caímos para 252, quando começou o nosso calvário, com o impeachment da Dilma, a Lava Jato, a desconstrução do o PT, que foi muito difícil em 2020, tínhamos 183. Agora, tínhamos 248 e ainda estamos disputando o segundo turno”, destacou.
Paradigma
O cientista político Rodriggo Morais destaca que o PT deve buscar atualização interna. “Nesta era de ações políticas psicoativas, o paradigma de conquista e manutenção do poder mudou drasticamente e o PT ainda não conseguiu acompanhar esses novos fenômenos eleitorais, pois não possuem as categorias científicas corretas que traduzam as camadas de expectativas inconscientes dos eleitores e resolver os formatos de utilização das novas ferramentas disponíveis”, afirmou. “Além disso, o governo tem margem de ação mínima, pois sobrevive sob pressão de forças geopolíticas externas no contexto de uma guerra comercial híbrida e restringido internamente por um Congresso com poder de execução orçamental nunca antes visto”, destacou.
Para o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e doutor em ciências políticas Sérgio Praça, o resultado do PT nas urnas “não foi um desastre, mas foi muito ruim”, considerando que é um partido com a Presidência da República e , historicamente, organizado . Ele lembrou que, no caso da disputa à prefeitura de São Paulo, onde o partido apoia a candidatura de Guilherme Boulos (PSol), o efeito do apoio de Lula não teve o impacto esperado e o psolista quase não chegou ao segundo turno.
Para ele, para ser reeleito em 2026 ou nomear um sucessor, Lula terá que se aproximar ainda mais do Centrão, como PSD, MDB e União Brasil, que registraram grande crescimento nas prefeituras. “Os cargos de confiança no governo federal, por exemplo, estão muito concentrados no PT. Ele terá que distribuir mais e também ganhar algum tipo de controle sobre as emendas orçamentárias. Sem isso, sua reeleição será difícil”, afirmou. .
Para o coordenador de estados e municípios da BMJ Consultores Associados, Aryell Calmon, as opiniões negativas sobre a atuação do PT estão relacionadas a uma expectativa muito grande sobre o papel de Lula na eleição. “A verdade é que as duas coisas não estão relacionadas. A imagem de Lula é muito maior que a do próprio partido”, comentou o sociólogo. Calmon atribuiu o avanço do PT em algumas prefeituras ao uso da máquina pública por Lula, com investimentos em alguns municípios estratégicos.
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