O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros de Estado falaram sobre a eleição de Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos com diferentes graus de preocupação —desde o tom protocolar adotado pelo chefe do Executivo até críticas abertas ao republicano. Apesar da expectativa de que a relação pragmática entre os dois países seja mantida, o retorno do líder norte-americano deixa os aliados de Lula apreensivos, principalmente pela política econômica republicana e pelo fortalecimento do bolsonarismo no cenário nacional.
“Meus parabéns ao presidente Donald Trump pela vitória eleitoral e pelo retorno à presidência dos Estados Unidos. A democracia é a voz do povo e deve ser sempre respeitada”, disse Lula. “O mundo precisa de diálogo e trabalho conjunto para ter mais paz, desenvolvimento e prosperidade. Desejo sorte e sucesso ao novo governo.”
Em entrevista aos senadores Jorge Kajuru (PSB-GO) e Leila Barros (PDT-DF) —que estreou um quadro na Rede TV—, Lula disse esperar uma relação civilizada com o norte-americano. “Não conheço Trump pessoalmente, conheço Trump pelo que ouvi, li artigos, vi na televisão, mas espero que a convivência seja civilizada, (tal como) já tive com Bush, que era do Partido Republicano. Festa”, destacou. “Espero que ele se preocupe em trabalhar para que o mundo tenha paz”, acrescentou.
Lula não ligou inicialmente para Trump, como faz com os aliados, e como pretendia em caso de vitória da democrata Kamala Harris. A possibilidade, porém, é cogitada, mas há temor de que o presidente eleito deboche do chefe de Estado brasileiro e até publique a conversa nas redes sociais.
O Chefe do Executivo chamou Trump de mentiroso durante a campanha eleitoral. Na semana passada, ele declarou seu apoio ao candidato democrata. “Acho que Kamala vencer as eleições é muito mais seguro para fortalecermos a democracia. É muito mais seguro”, avaliou, em entrevista ao canal francês TF1. “Vimos como era o presidente Trump no final do seu mandato, realizando aquele ataque ao Capitólio, algo que era impensável de acontecer nos Estados Unidos. Porque os Estados Unidos se apresentaram ao mundo como um modelo de democracia, e esse modelo ruiu. Agora temos ódio destilado todos os dias”, acrescentou.
Apesar da divergência ideológica com o republicano, Lula não repetiu a postura do ex-presidente Jair Bolsonaro, que demorou 38 dias para cumprimentar o atual chefe de Estado dos EUA, Joe Biden, em 2020.
Tanto o governo quanto o Palácio do Itamaraty calculam que a relação Brasil-Estados Unidos é sólida e será mantida de forma pragmática, mesmo que haja uma distância pessoal entre os dois presidentes. No cenário externo, porém, o Brasil perderá um importante aliado em questões como mudanças climáticas, transição energética e tributação dos mais ricos, prioridades da política externa brasileira com a presidência do G20, este ano, e da COP30, em 2025.
Expansão da parceria
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, seguiu a linha de Lula: tom protocolar e em defesa do diálogo entre os dois países. “Felicito a vitória eleitoral de Donald Trump como 47º presidente dos Estados Unidos da América, com a esperança de que seja um período de promoção da paz, do desenvolvimento económico e social e de uma expansão ainda maior da parceria entre o Brasil e os EUA”, ele destacou, em aviso. Os demais dirigentes palacianos não comentaram, mas replicaram a declaração de Lula em suas redes.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por sua vez, foi claro ao expressar preocupação com os efeitos de Trump na economia global e possíveis repercussões no Brasil. Ele citou as medidas protecionistas que o republicano anunciou durante a campanha, como taxar todos os bens importados em 10% para reduzir a carga tributária interna, mas lembrou que é preciso esperar para ver se o plano econômico será realmente colocado em prática quando ele toma posse. Casa Branca ou se permanecerá no campo das promessas eleitorais.
“Na campanha foram dias de muitas coisas que causaram apreensão no Brasil e no mundo. Causam preocupação nos mercados emergentes, nos países endividados e na Europa. O dia amanheceu mais tenso no mundo”, disse aos jornalistas à porta do Ministério das Finanças. “Temos que esperar um pouco e cuidar da nossa casa. Cuidar do Brasil, em termos de finanças, de economia, para ser o menos afetado possível seja qual for o cenário externo”, completou.
Ainda sobre a economia, o ministro dos Transportes, Renan Filho, publicou artigo de opinião no portal Brasil 247 e aproveitou para defender a proposta de corte de gastos adotada por Haddad, que deve ser anunciada ainda esta semana. “Com a vitória de Trump nos EUA, este trabalho torna-se mais urgente. Tem que ser rápido e preciso para vencer a resistência internacional que pressiona o dólar”, argumentou.
O tom mais duro dentro do governo foi adotado pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira. Ele se manifestou em suas redes sociais antes mesmo de Lula e fez fortes críticas a Trump. “A nação mais rica do mundo elegeu um presidente que cultiva os piores valores humanos. Ele nega as alterações climáticas e a ciência e apoia a extrema direita no mundo. Tempos difíceis para a humanidade”, escreveu.
Mudanças climáticas
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, comentou que os Estados Unidos continuam responsáveis pela redução das emissões de carbono. “Mesmo em períodos muito difíceis, o esforço climático conseguiu avançar. Agora estamos vivendo uma situação limite, porque não há mais espaço para adiar absolutamente nada do que está acontecendo. num processo de combate às emissões de CO2 que temos”, declarou.
Marina relembrou o recente furacão Milton, na Flórida. “Há uma parte da população americana que não quer ver a continuação do que aconteceu agora, com os furacões, nos EUA. É uma realidade que cada vez mais pessoas irão responsabilizar os seus governos, independentemente da sua ideologia ideológica. espectro, porque são as suas vidas que estão comprometidas, os seus bens”, destacou.
Segundo o ministro, “temos uma governação muito forte no mundo”. “Na época do presidente Bush (2001-2009), havia quase um tabu em falar sobre biodiversidade e alterações climáticas. Mesmo assim, isso progrediu em todo o mundo. Na primeira administração de Trump, apesar da sua posição, fizemos avanços significativos na governação clima global”, comparou.
No seu primeiro mandato, Trump afastou os EUA do Acordo de Paris, assinado em 2015, que determina a redução dos gases com efeito de estufa até 2030 em vários países. Existem 195 nações que fazem parte do tratado internacional. As leis ambientais também foram enfraquecidas sob sua administração.
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