O apoio popular à proposta de emenda à Constituição (PEC) para acabar com o cronograma de trabalho 6×1 deve pressionar os parlamentares a referendarem o texto esta semana. A medida está em fase de coleta de assinaturas e precisa da aprovação de 171 deputados, um terço do total. No entanto, apenas 71 apoiaram o projeto até agora. Por outro lado, uma petição online conta com mais de 1,3 milhão de assinaturas. O assunto se tornou um dos mais comentados nas redes nos últimos dias.
O texto foi apresentado pela deputada Erika Hilton (PSol-SP), e formulado pelo movimento social Vida Além do Trabalho (VAT), liderado pelo vereador carioca Rick Azevedo (PSol). Seu objetivo é acabar com o turno 6×1, em que os funcionários trabalham seis dias por semana e têm apenas um dia de folga. A configuração é muito comum em setores como comércio e indústria, mas é considerada exaustiva e abusiva pelos apoiadores do projeto.
A PEC pretende alterar o trecho da Constituição que limita a jornada de trabalho a oito horas diárias e 44 horas semanais para incluir outras possibilidades de distribuição da jornada de trabalho, como a escala 4×3, defendida pelo ICMS. O texto deve alterar a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que estabelece um dia como período mínimo de descanso dos trabalhadores.
A medida enfrenta resistência na Câmara. Erika Hilton coleta assinaturas há seis meses. No entanto, o parlamentar reconhece que algumas propostas podem levar anos para alcançar o apoio necessário e começar a tramitar. O texto é criticado, principalmente, por partidos de direita, mas também não teve a tração esperada na esquerda —o que tem causado atritos na ala.
Todos os 13 deputados do PSol assinaram o projeto, mas apenas 37 dos 68 petistas tiveram o mesmo posicionamento. Quatro deputados do PCdoB, três do PDT, um da Rede e um do PSB também apoiaram. Os partidos de direita e centro-direita, por sua vez, manifestaram pouco apoio: União Brasil, com quatro assinaturas; PSD com dois; e Rede, Republicanos, PSDB, Solidariedade, PP, PL e Avante com um cada. O PL se posicionou coletivamente contra o fim da escala 6×1, mas Fernando Rodolfo (PL-PE) apoiou a medida.
Oposição
Os críticos do fim da escala 6×1 argumentam que a medida pode prejudicar as empresas, que precisarão contratar mais funcionários para cobrir seus turnos e terão maiores gastos com folha de pagamento. Para Hilton, embora haja sim a necessidade de as empresas reorganizarem seus quadros em caso de aprovação da PEC, a mudança será benéfica e representa um aumento na produtividade dos trabalhadores.
“Há evidências e estudos ao redor do mundo mostrando que a redução do horário de trabalho é benéfica para a produtividade e para a economia. E não há estudos mostrando que a escala 6×1 é boa para a economia”, escreveu o deputado em X, ontem. Ela incentivou seus seguidores a pressionarem os parlamentares para que assinassem a medida.
O assunto explodiu nas redes sociais no fim de semana. No sábado, a campanha contra a escala 6×1 foi o assunto mais comentado no X, ultrapassando a marca de 135 mil postagens. Na internet, a maioria dos comentários foi de apoio à medida e crítica aos parlamentares que não assinaram a PEC.
O deputado Bolsonaro Nikolas Ferreira (PL-MG) foi um dos mais procurados pelos apoiadores. Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também. Nas contas do Instagram dos dois parlamentares, usuários lembraram que os deputados trabalham apenas três dias por semana, em geral, nas atividades do Congresso, enquanto muitos de seus eleitores são obrigados a trabalhar na escala de 6×1.
Na prática, a proposta da deputada Erika Hilton ainda não está em andamento. Será apresentado à Mesa Diretora da Câmara dos Deputados caso consiga recolher as 171 assinaturas necessárias. Depois disso, caberá ao presidente da Casa decidir quando será enviado à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para análise de admissibilidade e, caso aprovado, será encaminhado a uma Comissão Especial para ser discutido e recebido. alterações.
Aprovada na Comissão Especial, a PEC é enviada ao Plenário, e exige a votação de três quintos dos deputados (308), em dois turnos. Depois disso, a medida deverá ser apreciada de forma semelhante pelo Senado Federal, e também aprovada com três quintos dos votos (49) em dois turnos. Caso isso ocorra sem alterações, o texto segue para sanção. Se houver mudanças, porém, volta para a Câmara.
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