O Brasil chegou à COP 29 nesta segunda-feira (11/11) sem a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sob críticas de ambientalistas pela nova meta climática, anunciada na noite de sexta-feira, véspera da conferência. O vice-presidente Geraldo Alckmin lidera a delegação brasileira, que inclui também os ministros do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, e dos Transportes, Renan Filho.
O evento internacional traz um novo ciclo de anúncios das chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Essas definições são formas de atingir os objetivos estabelecidos pelo Acordo de Paris, com 196 países, e devem ser apresentadas até fevereiro de 2025. O tratado assinado em 2015 visa reduzir a emissão de gases de efeito estufa e limitar o aquecimento médio do planeta em 1,5ºC. .
A NDC brasileira será apresentada por Alckmin durante a COP-29, mas foi considerada muito branda pelos especialistas. A decisão estabelece que o país reduzirá as suas emissões líquidas de gases com efeito de estufa em 59% a 67% até 2035, em comparação com os níveis de 2005. Isto deverá resultar numa redução entre 850 milhões e 1,05 mil milhões de toneladas de gás dióxido de carbono até à data. Comparativamente à primeira NDC nacional, segundo o governo, verifica-se um aumento de 13% a 29% da “ambição em termos de redução de emissões absolutas”. A meta foi ratificada em 2016.
A implementação ocorrerá através do Plano Climático, que visa mitigar os efeitos das emissões de CO2 e criar adaptação aos impactos das alterações climáticas. A proposta ainda está em desenvolvimento pelo governo federal.
O tema principal da conferência será o financiamento de ações de combate e adaptação às alterações climáticas, especialmente para os países menos desenvolvidos. Há expectativa de formação de um consenso que substitua a promessa de transferência de US$ 100 bilhões feita pelos Estados Unidos, que nunca foi cumprida. “É a questão mais importante. Nada acontece sem resolver a questão do financiamento. Nos países em desenvolvimento, a maioria das metas está condicionada ao recebimento de financiamento externo. E é justo que o façam, porque não foram as maiores causas do problema.” ele explicou. O coordenador de política internacional do Observatório do Clima, Claudio Angelo, disse ao Correio.
“Por exemplo, sou um país da Ásia e comprometi-me a reduzir 35% das minhas emissões. Mas, com os meus próprios recursos, apenas cortei 5%. Se considerarmos apenas as partes das metas dos países que não estão condicionadas a medidas externas financiamento, em 2030 você não terá corte, haverá um aumento de 1% nas emissões”, ilustrou ainda.
Para Angelo, o Brasil chega com uma grande responsabilidade, pois será sede da COP 30 no ano que vem, em Belém, no Pará. Ele avalia que, apesar das contradições internas em relação ao meio ambiente, o país demonstra compreensão da responsabilidade que tem no debate climático e chega com propostas “mais progressistas que a média”. O grande problema da conferência de Baku é o esvaziamento.
Frustração
Apesar do compromisso brasileiro, a NDC avançou na semana passada decepcionou os ambientalistas, que esperavam metas mais ambiciosas. Também há críticas à falta de transparência até o momento, já que o governo federal não apresentou detalhes sobre o plano de redução de emissões.
“(Os números) estão em desacordo com a justa contribuição do Brasil para a estabilização do aquecimento global em 1,5ºC. Também estão em desacordo com os compromissos já assumidos pelo governo e com a promessa do Presidente da República de zerar o desmatamento. no país — em Somadas, essas políticas levariam a emissões líquidas inferiores a 650 milhões de toneladas em 2035″, avalia o secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini.
Segundo ele, o governo omitiu informações cruciais no comunicado, como detalhes sobre o desmatamento e a expansão dos combustíveis fósseis. Astrini afirmou ainda que o Observatório fará uma análise completa da NDC posteriormente, quando houver transparência “como convém a um país que pretende ser líder no processo multilateral de combate à crise climática”.
O Greenpeace Brasil também considerou insuficiente a meta nacional anunciada, mas exigiu sua implementação. “Dada a magnitude dos impactos da crise climática que o país vem sofrendo em todo o seu território, esperávamos ambição, mas o percentual de redução não atinge o que o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) defende como mínimo para 2035” , defendeu a diretora-executiva da entidade, Carolina Pasquali.
Para ela, uma vez anunciada a meta, o governo federal precisa explicar como chegará a esse patamar. Pasquali destacou que é preciso cumprir o compromisso com o desmatamento zero e frear a exploração de novas jazidas de gás e petróleo, principalmente na Amazônia.
“Nosso Congresso Nacional também precisa parar de lutar contra a legislação ambiental e parar de aprovar leis que fragilizam o que já está sendo feito. Precisamos de ambição e ação, e não podemos mais dar passos para trás”, enfatizou o líder do Greenpeace Brasil
“COP 30 dias”
O Brasil dá atenção especial ao evento, mesmo com a ausência de Lula, pois tem menos de um ano para organizar sua própria COP. Em Baku, na quarta-feira, o Brasil realizará o “COP 30 Day”, onde o governo do Pará e o governo federal apresentarão os preparativos para o evento. Um dos anúncios mais esperados da conferência é quem será o presidente da COP 30, autoridade responsável por liderar a organização e as negociações com outros países. O mais citado pelo governo, no momento, é o embaixador André Corrêa do Lago, secretário de Clima, Meio Ambiente e Energia do Itamaraty. Ele é o principal negociador do Brasil em questões ambientais.
No entanto, o cargo é normalmente ocupado por autoridades com estatuto ministerial no país anfitrião. Se o Brasil decidir manter a tradição, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, são os maiores candidatos. A liderança do COP é composta por quatro cargos: presidente, CEO e dois campeões de alto nível.
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