Pesquisa do Instituto Paraná, divulgada nesta quarta-feira no site Poder 360, mostra que a repercussão do indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outras 36 pessoas, incluindo cinco generais quatro estrelas, por tentativa de golpe de Estado, não afetou o popularidade do antigo Chefe do Executivo. Talvez tivesse acontecido o contrário: se as eleições presidenciais fossem realizadas hoje, Bolsonaro teria 37,6% dos votos, contra 33,6% do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A pesquisa acendeu luz amarela no Palácio do Planalto, que enfrenta as repercussões do ajuste fiscal elaborado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que, nesta quarta-feira, fez pronunciamento oficial em emissoras nacionais de rádio e TV para anunciar a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil. A medida, uma das promessas de campanha do presidente Lula, surge no contexto de um pacote de corte de gastos que será enviado ao Congresso nos próximos dias.
A pesquisa Paraná Pesquisas foi realizada de 21 a 25 de novembro de 2024, com margem de erro de 2,2 pontos percentuais, para mais ou para menos, ou seja, coletou dados no período em que se tornou público o inquérito policial federal que acusa Jair Bolsonaro de ter sido um dos organizadores de um golpe de Estado, frustrado no final de 2022 e que quase aconteceu em 8 de janeiro de 2023, uma semana após a inauguração do Lula, quando Bolsonaro esteve em Miami, nos Estados Unidos.
Até o momento, o noticiário generalizado sobre a tentativa de golpe no mundo político consolida a avaliação de que Bolsonaro estará fora da disputa das eleições de 2026, talvez até preso, porém, sua narrativa de que tudo não passa de uma armação do ministro Alexandre de Moraes, o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Polícia Federal dividem opiniões, como mostra a pesquisa. A ampla divulgação dos detalhes da conspiração ainda não foi suficiente para desconstruir essa narrativa entre os setores que apoiam Bolsonaro.
Na pesquisa foram criados sete cenários, sendo o primeiro deles com Bolsonaro na disputa, embora ele seja inelegível. Os outros possíveis candidatos seriam Ciro Gomes (PDT), com 7,9%; Simone Tebet (MDB), com 7,7%; e Ronaldo Caiado (União Brasil), com 3,7%. A pesquisa foi realizada nas 27 unidades da Federação, com 2.014 eleitores com 16 anos ou mais. No segundo cenário, Lula teria 34,2%, e Michele Bolsonaro, 27%.5; Ciro, 7,9%; Simone, 8,2%; e Caiado, 6,4%.
Sem Michele, o quadro é um pouco mais favorável para Lula, com 34,7%, e seu principal adversário seria Tarcísio de Freitas, com 24,1%. Os demais candidatos seriam Ciro, 11,5%; Simone, 8,4%; e Caiado, 5,3%. Ratinho Junior e Romeu Zema, em dois cenários distintos, teriam 15,2% e 12,2%. A desagregação da oposição em diversas candidaturas, de certa forma, favoreceria uma candidatura ligada a Bolsonaro, ao forçar um segundo turno. Esse nome seria o de seu filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Testado em dois cenários sem Lula, Fernando Haddad teria entre 14,5% e 14,9%.
Não à toa, o ministro foi o escolhido para anunciar a ampliação da faixa de isenção da tabela do Imposto de Renda, contra a qual sua equipe econômica resistiu bastante. Atualmente, o recolhimento do IR segue uma tabela escalonada, em que ficam isentas rendas até R$ 2.259,20. A partir desse valor, as alíquotas variam entre 7,5% e 27,5%, dependendo da faixa salarial. A partir de 2026, haverá isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. Como porta-voz dessa medida, Haddad passaria por um primeiro teste perante a opinião pública, como possível substituto de Lula em 2026.
O pacote
O governo trabalha para neutralizar os danos causados pelo pacote fiscal, que vem sendo preparado há meses e, nas últimas semanas, tem sido alvo de uma batalha silenciosa entre ministros. Para compensar o aumento das despesas com a ampliação da isenção do Imposto de Renda — estimada em R$ 50 bilhões por ano — o governo vai propor a tributação de lucros e dividendos superiores a R$ 50 mil por mês no pacote tributário. Hoje, esses ganhos são isentos. Segundo fontes do Planalto, a tributação compensaria integralmente o aumento das despesas com a ampliação da isenção do Imposto de Renda.
Nesta quarta-feira, as propostas foram apresentadas por Lula e Haddad aos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em reunião no Palácio do Planalto, na qual o Os ministros da Casa Civil, Rui Costa, e das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Nesta quinta-feira, o pacote será apresentado aos líderes das bancadas, antes de ser enviado oficialmente ao Congresso. Para viabilizar o ajuste, o governo precisa aprovar uma proposta de emenda à Constituição (PEC) e um projeto de lei complementar (PLP) para reduzir despesas, mas ainda não divulgou o conteúdo dos cortes.
O cronograma de discussão das propostas pelo Congresso está previsto para terminar no dia 23 de dezembro, quando começa o recesso. Até lá, esta será uma agenda controversa para o governo, que já é atingido de ambos os lados: o mercado exige um ajuste fiscal mais rigoroso do que o anunciado, enquanto Lula e a maioria dos ministros tentam mitigar os seus efeitos negativos sobre a opinião pública com o ampliação da faixa de isenção do IR.
Entre as principais medidas em discussão está o corte de benefícios fiscais, com revisão de incentivos fiscais, como o programa Perse, que beneficiou o setor de eventos, e redução parcial da isenção de folha de pagamento. A previsão é que essa mudança economize cerca de R$ 6 bilhões. Haverá limite de compensação para créditos tributários de até R$ 10 milhões; teto para reajuste do salário mínimo, de 0,6% para 2,5% acima da inflação; e revisão dos benefícios previdenciários e salariais.
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