A repercussão do anúncio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre os critérios de reajuste do Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF) no pacote de ajuste fiscal apresentado pelo governo federal na semana passada, uniu partidos do direita, esquerda e centro no Congresso Nacional. Lideranças políticas representantes do DF criticam a medida e têm trabalhado em conjunto para evitar que a proposta seja aprovada pelo Legislativo. A pressão deve aumentar esta semana, e dúvidas sobre o nome do relator do texto pairam entre os parlamentares ouvidos pelo Correspondência.
Se aprovado, a capital federal terá a mesma cláusula de reajuste do Fundo de Desenvolvimento Regional. Ou seja, as transferências da União para o DF deixarão de ser calculadas com base na variação da Receita Corrente Líquida (RCL) da União. A base de correção será o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) —principal indicador da inflação no país. No modelo atual, que utiliza o RCL, os recursos enviados ao Governo do Distrito Federal (GDF) por meio do FCDF acompanham a oscilação da receita nacional. Portanto, se a receita da União aumenta, os recursos do fundo para o capital também aumentam.
Os críticos desta mudança afirmam que os serviços essenciais de saúde, segurança e educação serão prejudicados pela redução das transferências e, consequentemente, receberão menos investimento. A senadora Leila Barros (PDT) avalia que a mudança na base de cálculo do FCDF é “inoportuna e preocupante”. Ela destacou que a proposta chega em “momento inoportuno”, citando acontecimentos recentes na capital federal, como a tentativa de ataque ao Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 13 de novembro.
“Estamos estudando os impactos financeiros desta proposta, mas é importante destacar que qualquer medida que reduza recursos destinados às forças de saúde e segurança públicas ocorre em momento inoportuno, principalmente diante do crescimento de atos violentos contra os Três Poderes da República “, declarou o senador. Ela e os demais deputados ouvidos pelo Correio ainda não souberam dar mais detalhes sobre o relatório da proposta e se a discussão será adiada para 2025.
“Inaceitável”
O deputado Fred Linhares (Republicanos) disse que levou o assunto ao conhecimento do líder de seu partido, Hugo Motta (PB), e tem trabalhado nos bastidores do Congresso para obter o apoio de apoiadores contrários aos cortes. A representação informou que, ainda esta semana, a bancada se reunirá para discutir o assunto. “Estou conversando internamente com a bancada do Distrito Federal e com o Partido Republicano para alinhar estratégias”, disse.
Para Linhares, o combate à redução das verbas do FCDF é movido pela preocupação com a “qualidade de vida de todos que moram no DF”, e não apenas com os “números do Orçamento”. “Não aceitaremos cortes que prejudiquem a nossa segurança, saúde e educação”, defendeu.
Ainda na semana passada, o deputado Julio Cesar (Republicanos) compartilhou sua posição nas redes sociais, afirmando que a medida anunciada pelo governo federal é um “retrocesso inaceitável”. Segundo ele, a proposta prejudica a população do DF ao afetar a manutenção de políticas públicas de serviços essenciais à população local. “Não podemos permitir que a Polícia Civil, a Polícia Criminal, a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros, além da saúde e da educação, sejam impactadas por uma redução injusta de repasses”, pontuou.
Representante do PT no DF, a deputada Erika Kokay também se posicionou contra a redução dos recursos do FCDF. “Da mesma forma que conseguimos evitar retrocessos no fundo em 2023, quando o relator do marco fiscal, que é do mesmo partido do vice-governador, tentou mudar as regras de reajuste do fundo, modificando a proposta enviado pelo governo Lula, trabalharemos para construir o mesmo movimento para evitar qualquer prejuízo em relação ao FCDF, que existe porque Brasília é a capital da República.
No ano passado, o texto do marco fiscal previa mudança na correção dos valores do Fundo em 2024. Porém, o relator do texto na Câmara na época, deputado Cláudio Cajado (PP-PA), cedeu às pressões do GDF contra a mudança, e a mudança foi retirada do texto final. A Secretaria de Planejamento, Orçamento e Administração do DF informou que a capital deixaria de receber cerca de R$ 87 bilhões em 10 anos se a correção do FCDF fosse regida pelo IPCA.
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