Estava tudo parado no Congresso, agora as coisas vão começar a andar, para melhor, como a regulamentação da reforma tributária, ou para pior, no caso da PEC das Praias, veremos nas próximas semanas. Após as eleições municipais, os parlamentares realizaram uma espécie de obstrução disfarçada, em que se recusaram a votar propostas de extrema importância, porque as emendas parlamentares ao Orçamento da União permaneceram suspensas. Aguardavam uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino, que cobrou a adoção de mecanismos que garantissem clareza e transparência na distribuição dessas emendas.
Nesta segunda-feira, em decisão monocrática, o ministro liberou o pagamento das emendas parlamentares conhecidas como RP9 (emenda do relator) e RP8 (emendas da comissão) e emendas do Pix, desde que atendidas as regras constitucionais relativas à transparência, rastreabilidade e controle. público. A decisão está a ser submetida a referendo em plenário numa sessão virtual extraordinária, que começou às 18h desta segunda-feira, e que deverá ser concluída esta terça-feira, até às 23h59.
Na liminar, o ministro Dino estabeleceu novos critérios para liberação de alterações, como a indicação do autor e beneficiário final dos recursos no Portal da Transparência, além da separação entre o relator do Orçamento e o autor das alterações. Determinou também que a medição da transparência, pelo Executivo, ocorra antes do repasse dos recursos, que deverá ser analisado caso a caso. Em relação aos objetivos das emendas em comissão, o ministro exigiu a necessária identificação nominal do parlamentar ou instituição que a sugeriu ou, ainda, a autoria da recomendação de emenda à bancada, para que todo o processo orçamentário seja documentado.
A conta não é pequena. Para 2024, foram autorizados R$ 49,17 bilhões em emendas parlamentares, R$ 37,6 bilhões empenhados (ou seja, reservados para pagamento) e R$ 23,3 bilhões efetivamente pagos, considerando os chamados “restos a pagar”, emendas reservadas de anos anteriores. Com a suspensão das alterações há três meses, restam R$ 25 bilhões para serem pagos em dezembro. O governo pretende negociar a liberação dessas alterações para aprovar os regulamentos da reforma tributária e o pacote tributário, sem alterar o Imposto de Renda, que foi adiado para o próximo ano.
No entanto, ainda há insatisfação no Congresso. Dino exigiu que, a partir do ano que vem, a liberação das chamadas emendas Pix (um verdadeiro absurdo, pois os recursos poderiam ser destinados sem necessidade de projeto, diretamente nas contas dos beneficiários) só fosse feita com a devida apresentação de um trabalho planeje com antecedência e em contas específicas. Para as alterações deste ano e do ano passado, que ainda não foram implementadas, foi concedido um prazo de 60 dias para resolver a exigência de apresentação de plano de trabalho. Caso o plano não seja apresentado, o pagamento deverá ser suspenso novamente.
Patrimonialismo
É aí que mora o problema, porque muitos desses recursos foram negociados em troca de apoio eleitoral. Em sua decisão, Dino destacou que cabe ao Tribunal de Contas da União (TCU) acompanhar e julgar as contas relativas às alterações do Pix. Ou seja, normas regulatórias, da Câmara e/ou Senado, e normas administrativas, do Executivo, não podem modificar esta competência constitucional. Um aspecto importante é a obrigatoriedade de observar os critérios e orientações técnicas do gestor federal do Sistema Único de Saúde (SUS), antes de liberar recursos. Houve pressa em destinar emendas às “organizações da sociedade civil de interesse público”, as OSIPS, que atuam no setor saúde, sem considerar as prioridades do SUS.
A Controladoria-Geral da União (CGU) teve papel decisivo na restauração da transparência das alterações do Orçamento, ao apontar o descumprimento de requisitos de transparência e rastreabilidade na execução de emendas parlamentares de todos os tipos. Trata-se de um valor de R$ 186,3 bilhões pagos entre 2019 e 2024, com origem e destino desconhecidos. A existência dessas emendas, que violavam as diretrizes constitucionais para a elaboração e execução do Orçamento da União, já havia provocado uma decisão da agora aposentada ministra Rosa Weber, que presidia o Supremo na época. Por descumprimento da ADPF 854, de dezembro de 2022, o pagamento dos aditivos acabou suspenso pelo Ministro Dino.
O Congresso reagiu de forma muito negativa ao freio de arrumação, o que levou à realização de uma audiência de conciliação em agosto de 2024. As emendas do Pix enquadraram o patrimonialismo na política, em dezenas de municípios para os quais são destinados milhões de reais. Cada parlamentar tem direito a mais de R$ 50 bilhões em emendas, alguns chegam a destinar quase R$ 150 milhões em recursos. Há municípios em que as principais autoridades e empresas estão ligadas ao mesmo grupo político, quando não à família do parlamentar. Mais de uma dezena de parlamentares estão sendo processados, em segredo, por desvio de recursos dessas emendas.
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