O ex-policial militar Ronnie Lessa, denunciado como autor da morte de Marielle Franco, disse em depoimento à Polícia Federal (PF) que a execução da vereadora lhe renderia um loteamento irregular na zona oeste do Rio de Janeiro e uma estimativa de lucro de mais de US$ 20 milhões (R$ 100 milhões). Trechos do vídeo depoimento de Lessa foram exibidos neste domingo, 26, no Fantástico, da TV Globo. O miliciano diz ainda que os dirigentes chegaram a citar o então deputado estadual Marcelo Freixo (PT) como possível alvo do grupo político.
O conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) Domingos Brazão e o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) foram presos em março pela Polícia Federal (PF) suspeitos de terem ordenado o assassinato do conselheiro. A Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou, na denúncia, que os irmãos Brazão tinham interesse em flexibilizar regras para a exploração de loteamentos na zona oeste do Rio, mas as iniciativas do PSOL “se tornaram um problema sério” para o negócio.
A defesa de Domingos Brazão afirma que “não há elementos e provas que sustentem a versão de Ronnie Lessa”. Para os advogados de Chiquinho Brazão, a delação premiada “é uma criação mental desesperada em busca de benefícios e há muitas contradições, fragilidades e inverdades”.
O que disse o executor confesso de Marielle:
Lucro de R$ 100 milhões
Segundo Lessa, os irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão lhe propuseram o controle de dois loteamentos em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, em decorrência da morte de Marielle.
A exploração de atividades criminosas por lá, como o “gatonet” e o transporte clandestino, pode render mais de US$ 20 milhões (R$ 100 milhões). “Havia muito dinheiro envolvido”, disse o ex-policial.
Criação de nova milícia
Segundo o ex-policial militar, o controle dos loteamentos, sem mencionar quando os projetos começariam, levou à criação de uma nova milícia sob sua liderança.
“Íamos criar uma nova milícia. Então, haveria exploração de gatonet, exploração de kombis, venda de gás… A questão valiosa é depois. A manutenção da milícia que vai trazer votos”, afirmou Lessa.
Plano para matar Freixo
O assassino confesso da vereadora e motorista carioca Anderson Gomes, em 2018, afirmou que em uma das conversas que teve com Domingos Brazão, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado chegou a citar Marcelo Freixo como um dos alvos do grupo. Atual presidente da Embratur, foi deputado estadual e presidiu uma CPI que investigou milícias no estado.
“A certa altura, em 2017, se não me engano, ele veio com um assunto relacionado ao Marcelo Freixo (…) No meio de 20 seguranças? qualquer pessoa aí, estamos provocando o Marcelo Freixo, tirei isso da cabeça dele, não cobrou mais. Essa foi a nossa primeira entrada em relação aos crimes”, disse Lessa.
O miliciano afirmou ainda que outros nomes do PSOL também foram citados.
“Não só em relação à Marielle. Ele sempre falou do Marcelo Freixo. Ele falou do Renato Cinco. Tarcísio Motta… Ele falou dessa pessoa. E ele demonstrou, portanto, um interesse diferente por essas pessoas, pelo povo do PSOL “, ele disse.
Nas redes sociais, Freixo afirmou que Ronnie Lessa “é um psicopata sem respeito pela vida”.
“Ronnie Lessa é um psicopata. É uma pessoa sem respeito pela vida. Quantas pessoas ele matou antes de Marielle? A psicopatia dessa pessoa, assim como sua covardia, somam-se a um Rio de Janeiro onde o crime, a polícia e a política estão não separado”, escreveu ele no X (antigo Twitter).
Tire Marielle do caminho
Em outro trecho do depoimento, Lessa atribuiu a ordem de execução de Marielle Franco aos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão. Segundo o miliciano, ela foi citada por Brazão como “um obstáculo” à expansão dos negócios dos milicianos. Esse foi apontado como um dos motivos do assassinato do vereador.
“Marielle foi colocada como um obstáculo. Ela teria convocado algumas reuniões com diversas lideranças comunitárias justamente para falar sobre esse assunto, para que não houvesse adesão a novas subdivisões milicianas”, afirmou Lessa. “Então, foi isso que o Domingos (Brazão) nos disse, rapidamente: ‘Marielle vai atrapalhar e nós vamos acompanhar isso, para isso ela tem que sair da frente”, disse ela.
Rivaldo Barbosa
Lessa afirmou ainda que Domingos Brazão disse que o ex-chefe da Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, denunciado por envolvimento na trama de assassinato da vereadora, recebeu dinheiro para protegê-los após a execução de Marielle. Barbosa foi apontado como um dos autores intelectuais do crime.
Segundo Lessa, o papel do delegado seria “redirecionar” a investigação do caso para outro lugar.
“Disseram o tempo todo que o Rivaldo estava vendo isso, que o Rivaldo já está redirecionando e virando o canhão em outra direção, que ele teria que resolver isso de qualquer maneira, que ele já tinha sido pago por isso no ano passado, no ano anterior, ele Ele foi bem claro com isso: ‘ele já recebeu desde o ano passado, vai ter que consertar’ Então aí, o clima já estava um pouco mais tenso, até na forma como ele falou”, disse. .
A defesa de Rivaldo Barbosa nega envolvimento do policial no crime. Segundo os advogados, o agente nunca teve contato com os irmãos e não recebeu dinheiro de atores ilícitos.
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