A assinatura do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE) é um marco para a diplomacia internacional, após 25 anos de negociações. O tratado cria um dos maiores blocos comerciais do planeta, um contraponto às mudanças geopolíticas com o retorno de Donald Trump, tradicionalmente mais protecionista, à presidência dos Estados Unidos, que pretende aumentar a rivalidade com a China, maior parceiro comercial do Brasil.
A conclusão oficial do acordo UE-Mercosul é saudada por diplomatas e especialistas em comércio exterior, mas reconhecem que ainda existem obstáculos no caminho para que ele se torne realidade entre as 31 economias dos dois blocos, que movimentam anualmente um Interno Bruto Produto (PIB) de aproximadamente US$ 22 trilhões.
“O texto do acordo está definitivamente fechado. Não haverá problema. A dificuldade está no processo de ratificação na União Europeia. Acredito que essas dificuldades serão superadas, e o acordo será assinado e ratificado”, destacou o CEO (principal executivo) do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington.
Ele acredita que a ratificação pelos demais países europeus deverá ser concluída até o final de 2025, quando o Brasil assumirá a presidência pro tempore do Mercosul, no segundo semestre do ano.
Para o diplomata, o mais antigo da história brasileira, a dificuldade estará no processo de ratificação do acordo devido à oposição da França e de outros países, mas é um “grande avanço para uma nova inserção do Mercosul no comércio internacional”. “O acordo também é um elemento positivo para o Brasil no novo contexto geopolítico com o crescente confronto entre EUA e China”, acrescentou.
A União Europeia é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com quem o país teve um fluxo comercial de US$ 92 bilhões em 2023, e o acordo é estratégico em vários aspectos, segundo informações do Ministério das Relações Exteriores (MRE).
Segundo estimativas da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), as exportações do Brasil para o bloco europeu deverão aumentar em mais de US$ 7 bilhões no curto prazo. O tratado comercial eliminará as tarifas de acesso aos mercados europeus para 97% dos produtos industriais e 77% dos produtos agrícolas do Mercosul, dentro de 10 anos, e abrange 242 linhas tarifárias da UE e cerca de 109,8 mil milhões de dólares em importações. do bloco. “O acordo entre o Mercosul e a UE envolve 25% da economia global e 780 milhões de pessoas. É um acordo estratégico”, comentou o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana.
Problema
O presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro, destacou que a conclusão do acordo entre o Mercosul e a União Europeia “é um passo muito importante” para o Brasil e o bloco, mas o texto ainda precisa ser aprovado. revisado e aprovado pelos parlamentos dos países de ambos os blocos.
“O acordo ainda terá de ser aprovado por cada país da União Europeia e é aí que reside o problema. Está a acontecer a mesma coisa que em 2019, quando o acordo foi aprovado, mas depois o assunto nunca mais foi discutido”, disse. lembrado.
Um dos principais efeitos desse acordo, na avaliação de Castro, são as vantagens políticas para o Brasil, no curto prazo, e mostrar que o país pode exportar produtos manufaturados e tem credibilidade e confiabilidade para chegar a acordos de negociação entre grandes blocos.
“Mas, basicamente, é o primeiro grande acordo. Isso vai mostrar ao mundo que o Brasil tem condições de produzir manufaturados e, principalmente, de continuar exportando commodities”, destacou Castro.
Ele lembrou que, agora, será fundamental que o Congresso avance na conclusão da reforma tributária. “O país precisa reduzir custos, caso contrário abriremos o mercado para a União Europeia, e eles ocuparão esse espaço. Mas, se não tivermos um preço competitivo, não conseguiremos ocupar mais espaço. é extremamente importante, agora, que esse acordo acelere a aprovação da reforma tributária no Congresso, para que possa contribuir para a redução do Custo Brasil”, destacou.
Segundo ele, “se isso acontecer, poderemos exportar mais para a União Europeia”. “Exatamente aproveitando os benefícios do acordo em geral. O acordo é muito importante para o Brasil, no aspecto político, mostrar ao mundo que o país é capaz de chegar a um acordo no futuro.”
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