O relatório do principal projeto de regulamentação da reforma tributária (PLP 68/24) inclui armas e munições no imposto seletivo (IS), o chamado “imposto do pecado”. Das mais de 2 mil alterações apresentadas, 642 foram acatadas no parecer protocolado na última segunda-feira (9/12) pelo relator, senador Eduardo Braga (MDB-AM).
Segundo o parlamentar, a inclusão das armas foi feita por “convicção pessoal”. “Não é sensato isentar as armas num país onde morrem mais pessoas do que na guerra. Não tenho arma, não a uso, não tenho capacidade. A questão da segurança precisa de ser resolvida pelo Aparelho de Estado, e não privadamente é uma convicção que tenho. A minha razão não é ideológica, é consciência”, sublinhou.
O aparelho havia sido retirado do texto na Câmara dos Deputados por pressão da “bancada da bala”, frente parlamentar que defende armas civis. Tal como estava, itens díspares, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas, tinham todos a mesma taxa de imposto padrão.
Braga admitiu que não sabe se a medida será mantida. Na última votação na Câmara, a emenda apresentada pela federação PSol-Rede para incluir armas no “imposto do pecado” foi rejeitada por 316 x 155, com duas abstenções. Tributação extra será imposta sobre produtos considerados prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente.
O relator manteve a isenção de impostos sobre carnes, frango e peixes conforme veio da Câmara. A incorporação de proteínas na cesta básica contrariou a equipe econômica do governo.
Os medicamentos para o tratamento do cancro e de doenças raras terão taxa zero de imposto sobre o consumo, disse Braga. A versão da Câmara previa isenção de acordo com uma lista de princípios ativos. O parecer substituiu a lista por grupos de doenças.
Segundo o relator, os medicamentos que receberam benefícios fiscais serão posteriormente definidos por um novo projeto de lei. Os medicamentos serão decididos em conjunto pelo Comitê Gestor e pelo Ministério da Fazenda, a partir de sugestões do Ministério da Saúde, e deverão ser votados no Congresso.
“A sugestão é que a lista seja elaborada junto à Comissão de Gestão, Finanças e Saúde para que isso não vire um cheque em branco e forneça remédio para aquilo que nem sabemos para que serve”, destacou.
Todas as compras públicas de medicamentos para o Sistema Único de Saúde (SUS) são isentas. A nova versão do texto estabelece ainda, através de regimes diferenciados, a inclusão de fraldas na lista de produtos de higiene pessoal, cuidados domiciliários e esterilização na lista de produtos hospitalares.
Segundo Braga, as alterações ao projeto representam um impacto de 0,13 pontos percentuais na taxa do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA). Considerando os cálculos do Ministério da Fazenda sobre as alterações no texto feitas pela Câmara — que apontavam aumento da alíquota média de 26,5% para 27,97% —, a alíquota média passará para 28,1%.
O parecer obriga ainda o governo a enviar um projeto de lei complementar propondo medidas que reduzam a percentagem do IVA para um patamar igual ou inferior a 26,5%. A nova versão do texto estabelece que o período de testes começa em 2026 e o sistema entra em pleno funcionamento em 2030. Uma fase de testes será realizada sem recolhimento do imposto.
Para técnicos do Senado, a tendência é que haja ganhos que reduzam a alíquota, com a redução da sonegação fiscal e a automatização da arrecadação.
O relatório de Braga deveria ser lido, à tarde, na sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado —cancelado por falta de quórum. Isto ameaça atrasar o processamento do projeto de lei, pois o calendário é apertado.
Apenas seis senadores compareceram à sessão, o que levou o vice-presidente do colegiado, Marcos Rogério (PL-RO), a encerrar os trabalhos. Ele disse que chegou à sala de reunião bem antes das 16h e esperou 11h. Mas a maioria dos membros da CCJ não compareceu.
Sessão extra ao meio-dia
Para tentar agilizar a tramitação do relatório da reforma tributária, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) se reúne extraordinariamente hoje, ao meio-dia, para ler o projeto de lei elaborado pelo senador Eduardo Braga (MDB-AM). Paralelamente, será formada na Câmara uma comissão para analisar as mudanças no Senado, antes que o PL retorne à Câmara para alterar ou manter as alterações feitas pelos senadores. Portanto, a expectativa é que a reforma seja aprovada até 19 de dezembro.
Mais cedo, a suspensão da sessão da CCJ havia acendido o sinal vermelho no Palácio do Planalto. “Se o governo estava preocupado com a reforma, tinha que estar presente”, criticou o senador Marcos Rogério, vice-presidente da CCJ. Além dele, Efraim Filho (União-PB), Rogério Carvalho (PT-SE), Augusta Brito (PT-CE), Ciro Nogueira (PP-PI), Esperidião Amin (PP-SC) e Mecias de Jesus (Republicanos -RR).
Até lá, a próxima reunião da CCJ seria apenas amanhã, cuja pauta inclui as audiências de cinco indicados a ministros do Superior Tribunal Militar (STM), além de inquéritos sobre os novos nomes para compor o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). ) e o Diretor do Conselho da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).
Na opinião de parlamentares ouvidos pelo Correio, já foi cogitada a possibilidade de chegar a um acordo para leitura do relatório —como aconteceu após reunião no Palácio entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Arthur Lira ( PP-AL). Caso o parecer do senador Eduardo Braga (MDB-AM) seja aprovado na CCJ, poderá ser votado no plenário do Senado no mesmo dia.
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