A edição de um decreto executivo na noite da última terça-feira (12/10), que define as regras para liberação de emendas parlamentares, está longe de amenizar a crise entre o Legislativo e o Judiciário, com repercussões nas votações neste final de ano, por Congresso. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), não escondeu a irritação com a demora na solução das emendas, que ficaram paralisadas por decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal.
“A portaria e o parecer (da Procuradoria-Geral da República), se não vierem resolver isso, não têm valor”, frisou Lira, antes de se reunir com líderes partidários para definir o calendário de votação, no esforço concentrado deste e do próximo semana.
O presidente da Câmara, porém, evitou vincular a liberação de recursos para emendas às votações de projetos que precisam ser aprovados ainda este ano —como a Lei de Diretrizes Orçamentárias, o Orçamento da União e os pacotes de redução de custos e segurança pública. No caso das medidas de ajuste fiscal, Lira garantiu que os três relatores seriam nomeados o mais rápido possível.
“O assunto é polêmico. É um assunto que está fervendo, além de toda a insatisfação pelo descumprimento de uma lei que foi aprovada pelo Congresso e sancionada pelo presidente da República”, disse Lira, referindo-se ao lei que regulamenta a apresentação de emendas. “O governo sabe das dificuldades que tem em comparar a decisão do (Flávio) Dino com a lei aprovada pelo Congresso. Esse é o problema”, acrescentou.
Apesar da insatisfação no Congresso, o presidente da Câmara garantiu que há disposição para votar muitas das propostas do governo que estão em pauta. No caso do ajuste fiscal proposto pelo governo, Lira disse que há pontos polêmicos que precisam ser negociados, como o tratamento do Benefício de Prestação Continuada (BCP), do salário mínimo e do abono salarial. “São temas árduos, difíceis. Uma parte da Câmara acha que estão abaixo do esperado. Outra parte acha que são inatingíveis. Há parlamentares de esquerda que têm dificuldade de votar”, observou.
Portaria
A portaria assinada pelos ministros Fernando Haddad (Finança), Esther Dweck (Gestão), Simone Tebet (Planejamento) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) autoriza a liberação de recursos para emendas de comissão desde que um parlamentar — ou mesmo um líder — assuma a responsabilidade paternidade do pedido. No caso das transferências especiais — as alterações Pix — destinadas ao setor saúde e compromissadas até 3 de dezembro (data da decisão de Flávio Dino) não estão sujeitas às determinações do STF.
Para liberar o dinheiro das alterações do Pix, a portaria prevê a necessidade de apresentar, até 31 de dezembro, planos de utilização dos recursos —prazo menor que a recomendação de Dino, de 60 dias. Essa antecipação irá acelerar a liberação de recursos.
O documento permite ainda a execução orçamentária de alterações de comissões e bancadas cometidas este ano, sem a apresentação prévia de planos de trabalho. As medidas poderiam permitir a liberação imediata de cerca de R$ 6,4 bilhões —só para emendas da comissão, o Congresso havia destinado mais de R$ 15 bilhões este ano.
A portaria foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União (DOU) e pode aliviar a pressão sobre a agenda de votação de interesse do governo. Lira, aliás, espera começar a votar, ainda esta semana, a reforma tributária, o pacote de corte de gastos e medidas de segurança pública.
Para a próxima semana, última do esforço concentrado antes do recesso parlamentar, o presidente da Câmara trabalha com a expectativa de votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), a Lei Orçamentária Anual (LOA) e projetos que visam estimular o turismo.
Corte de gastos: frente propõe nova PEC
Os deputados que integram a Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE) apresentaram, ontem, ao secretário executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, uma PEC alternativa para corte de custos. A proposta prevê um bloqueio dos rendimentos acima do limite máximo da função pública e propõe desvincular as prestações da segurança social do salário mínimo. Os parlamentares consideram que o crescimento dos gastos com a seguridade social é “alarmante” e que deve ser reduzido neste ou no próximo governo para que não haja uma explosão ainda maior nas contas públicas.
Embora a PEC alternativa vá na direção oposta ao corte de gastos proposto pelo governo — que não afeta os gastos sociais e tenta dar alívio à população de menor renda — Durigan ressaltou que a proposta elaborada pela equipe econômica é “possível” . Ele acrescentou que o projeto que isenta do Imposto de Renda pessoas com salário inferior a R$ 5 mil está pronto e deve ser enviado ao Congresso.
Conforme explicado aos associados da FPE, Durigan garantiu que o Brasil teria superávit de R$ 15 bilhões caso não fosse mantida a desoneração da folha de pagamento para empresas de 17 setores, bem como o Programa Emergencial para Retomada do Setor de Eventos (Perse). Para o número dois do Ministério da Fazenda é preciso trabalhar com o entendimento de que 2024 é o ano da revisão dos gastos.
“Nosso apelo é tentar fazer um esforço neste ano para conseguir, em 2025, uma redução dos gastos obrigatórios. Estamos conseguindo chegar muito perto da faixa do marco fiscal. , o fim do Perse, a revisão da desoneração tributária dos municípios, também na folha de pagamento, terminaríamos este ano com pelo menos R$ 15 bilhões de superávit”, explicou.
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