O Senado aprovou em plenário o projeto de lei que trata da regulamentação da reforma tributária, mantendo armas e munições fora do Imposto Seletivo (IS). O texto base, que detalha as regras de cobrança dos três novos impostos sobre o consumo, foi aprovado por 49 votos a favor e 19 contra. Por ter sofrido modificações, o assunto retornará para apreciação final da Câmara.
A tributação extra, conhecida como “imposto do pecado”, será destinada a produtos considerados nocivos à saúde ou ao meio ambiente. O dispositivo, votado por meio de destaque, foi tema de debate na véspera entre o relator Eduardo Braga (MDB-AM) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), autor da proposta que retirou o item do texto.
O destaque apresentado em plenário pelo líder do governo, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), que previa a reinclusão de armas e munições no SI recebeu 32 votos a favor e 31 contra —houve uma abstenção. No entanto, foram necessários 41 votos para alcançar a maioria absoluta no Parlamento, que tem 81 senadores.
A permanência representa uma derrota para o governo e mais uma vitória para a bancada da bala, frente parlamentar que defende as armas civis, que já havia conseguido derrubar o dispositivo na fase anterior de tramitação na Câmara. Tal como está, itens díspares, como armas, munições, perfumes e roupas, mantêm a taxa de imposto padrão.
O projeto era uma das prioridades do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que encerra o mandato à frente da casa legislativa no final deste ano. Ao comentar a aprovação, afirmou que se tratava da “reforma possível”.
Na opinião de Pacheco, é “totalmente possível” que a matéria seja aprovada na Câmara antes do recesso parlamentar, marcado para 23 de dezembro. “Temos cinco dias úteis na próxima semana. O presidente Arthur Lira me disse que tem disposição para realizar sessão na segunda-feira. É plenamente possível submeter para apreciação e votação na Câmara”, avaliou.
O projeto detalha regras para a cobrança de três novos impostos sobre o consumo criados pela reforma tributária, promulgada em 2023. O texto passou por uma série de alterações no Senado, ampliando o rol de exceções ao novo Imposto sobre Valor Agregado (IVA).
Eduardo Braga aceitou total ou parcialmente 690 alterações, entre mais de duas mil alterações propostas. Seu parecer inclui pedidos de diversas áreas econômicas, como ampliação de benefícios para o setor imobiliário e redução de impostos para serviços de saneamento, além de ajustes acordados com o governo federal.
Braga aceitou novas alterações no plenário, incluindo a inclusão dos serviços funerários no regime diferenciado com desconto de 60% nos novos impostos criados pela reforma. Outra mudança foi a inclusão de uma emenda que garante a não incidência do Imposto Seletivo na exportação de bens minerais. Acrescentou também a atualização anual, por meio do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), da alíquota específica do Imposto Seletivo aplicável aos cigarros.
O PL foi o único partido a desaconselhar o texto-base e, mesmo assim, saiu com um bom equilíbrio de reforma, com a aprovação da maior parte das emendas sugeridas pelo partido. A taxação extra sobre armas uniu inclusive o PT e o Partido Novo a favor do destaque, que não conseguiu reinserir o item no texto.
“Sou até a favor da posse contra a posse. Agora, o que estamos vendo aqui é uma situação em que, no Brasil, 40 mil pessoas morrem por armas de fogo; os índices de suicídio aumentam exponencialmente também; muita migração de arma do bem cidadão, que é quem vai pagar o imposto… acaba migrando para o crime”, argumentou o senador Eduardo Girão (Novo-CE).
Proposta preservada
O secretário extraordinário da Reforma Tributária, Bernard Appy, afirmou que o Ministério da Fazenda está satisfeito com o projeto, apesar das diversas exceções incluídas no texto. Segundo Appy, a “espinha dorsal” está preservada.
“Como toda etapa que acontece na Câmara, no Senado, preferiríamos sempre que houvesse menos exceções. Mas sabemos que esse é o custo político para viabilizar a aprovação das diversas etapas da reforma tributária”, disse. disse aos jornalistas após a aprovação do texto pelo Senado. “Isso aconteceu em cada uma das etapas da emenda constitucional, em cada uma das etapas do projeto de lei complementar, mas o fundamental é que a espinha dorsal da reforma tributária esteja preservada e será muito positiva para o Brasil”, acrescentou.
Appy evitou estimar como será a alíquota geral com a inclusão de exceções no Senado. Ele afirmou que as equipes técnicas ainda estão fazendo cálculos e serão divulgados em breve.
Antes da votação, em discurso na quarta reunião do Conselho, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Congresso tem condições de aprovar a regulamentação da reforma tributária sobre o consumo nas próximas semanas para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva possa sancionar o projeto ainda este ano.
Saneamento
Em relação ao saneamento básico, as operadoras garantiram desconto de 60% na tarifa normal. O pedido de regime diferenciado foi apresentado pelo PL e prevê que os serviços de água e esgoto terão tratamento tributário da mesma forma que o setor saúde. O pedido não foi apreciado pelo relator do projeto.
Atualmente, as empresas de saneamento pagam uma alíquota média de 9,25% sobre a receita bruta. No novo modelo, sem a redução, o imposto subiria para 26,5%. “O brasileiro que pisa no esgoto e ainda morre por doenças causadas por água contaminada agradece a decisão do Senado”, afirma Christianne Dias, diretora-executiva da Associação Nacional e Sindicato das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon Sindcon) .
A maior preocupação relativamente à igualdade do saneamento com a saúde era a carga sobre a taxa normal de imposto. Segundo o relator, as alterações anteriores no texto aumentaram em 0,13 ponto percentual a alíquota padrão, que será aplicada via de regra a qualquer venda de produtos ou serviços. Contudo, a expectativa é que o impacto apenas do setor de saneamento seja de 0,38 pontos percentuais.
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