Depois de uma semana tensa, em que o dólar bateu todos os recordes, a aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC) com novas regras para abonos salariais e que amplia a dissociação das receitas da União, pela Câmara, e dois leilões extraordinários de dólares no mercado spot, no valor de US$ 8 bilhões, promovido pelo Banco Central, derrubou o preço da moeda americana, dominando o mercado.
O BC fez seis intervenções no mercado de câmbio em uma semana. Na abertura desta quinta, o dólar chegou ao patamar de R$ 6,30. No final da tarde, graças às decisões do Congresso e à intervenção firme do BC, o dólar à vista encerrou a sessão com queda de 2,29%, a R$ 6,1243 na venda. O Ibovespa encerrou a sessão com alta de 0,34%, aos 121.187,91 mil pontos.
Na quarta, o BC já havia vendido US$ 3 bilhões, mas o impasse na votação do ajuste fiscal na Câmara e um erro do próprio Ministério da Fazenda, que anunciou leilão de recompra de títulos, levaram o mercado a dobrar a aposta contra o real. Naquele dia, o Tesouro Nacional não vendeu títulos de dívida e recomprou apenas 10% do volume proposto de papéis já emitidos no leilão extraordinário de títulos prefixados com juros semestrais (Notas do Tesouro Nacional – Série F – NTN-F ).
A proposta de recompra de 4 milhões de ações da NTN-F, distribuídas nos mesmos vencimentos, enviou sinais mistos ao mercado. Enquanto o BC queimava US$ 3 bilhões para segurar o dólar, o Tesouro anunciava a intenção de injetar mais dinheiro no mercado, com a recompra de títulos. Foram aceitos apenas 10% da oferta, no valor de R$ 340,8 milhões, 100 mil títulos para cada prazo, às taxas de 15,47% (jan/29), 15,170% (jan/31), 14,84% (jan/33), 14,71% (Jan35). Resultado: o mercado ignorou as intervenções do BC, que acabaram com o gelo, e a especulação levou a melhor.
Na terça, o BC já havia realizado dois leilões, aceitando um total de quase US$ 3,3 bilhões. Na segunda-feira, vendeu US$ 1,623 bilhão e, na última sexta, US$ 845 milhões. Os dois leilões desta quinta foram a maior venda de dólares em um único dia da série histórica do BC, iniciada em 1999, quando foi adotado o câmbio flutuante no país. Nesta quinta-feira, na abertura, a moeda norte-americana atingiu a marca de R$ 6,2955, às 10h11, mesmo após o leilão de US$ 3 bilhões promovido pelo BC. Porém, com o novo leilão de US$ 5 bilhões no início da tarde, o dólar começou a cair.
Abono e Fundeb
A aprovação da PEC do pacote de corte obrigatório de gastos do governo pela Câmara serviu para diminuir as incertezas quanto ao ajuste fiscal, mesmo tendo sofrido alterações, por um placar de 348 votos a favor e 146 contra. No primeiro turno, foram 354 votos a favor, 154 contra e duas abstenções. O pacote precisa ser aprovado pelo Senado, que começou a considerá-lo na noite de quinta-feira.
Dois destaques foram rejeitados, relativos a alterações no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e no Benefício de Prestação Continuada (BPC). A PEC altera o abono salarial, que agora será reajustado pela inflação e não pelo aumento real do salário mínimo, e prorroga a Desvinculação das Receitas Sindicais (DRU).
Nas negociações, sob pressão do Judiciário, o governo aceitou a flexibilização do dispositivo que fixa o teto salarial dos servidores públicos em R$ 44 mil. Para evitar a derrota da PEC, o governo acertou com o relator do texto na Câmara, Moisés Rodrigues (União Brasil-CE), o enfraquecimento dos recursos que poderiam ficar fora do superteto salarial de R$ 44 mil. Em vez da lei complementar sobre os recursos autorizados a ficar fora do teto, o dispositivo será regulamentado por lei ordinária, que exige maioria simples.
Apesar dos avanços, o pacote aprovado é considerado, pelos analistas económicos, insuficiente para garantir o equilíbrio fiscal. O acesso ao abono salarial, modalidade de 14º salário pago aos trabalhadores de baixa renda, exigirá que o trabalhador tenha recebido dois salários mínimos no ano-base (R$ 2.640).
Atualmente, o abono é pago anualmente, no valor de até um salário mínimo, aos trabalhadores que receberam até dois salários mínimos no ano base do abono e trabalharam com carteira assinada por pelo menos 30 dias no ano base. A mudança representará uma economia de R$ 100 milhões em 2025; que passará para R$ 600 milhões em 2026; e R$ 2 bilhões, em 2027.
Também foi criada uma nova categoria para contabilizar a contribuição da União ao Fundeb. A mudança no fundo teria impacto de R$ 4,8 bilhões em 2025, porém, devido às alterações na proposta original, a economia será menor.
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