Aparentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está próximo de iniciar mais uma reforma ministerial em seu governo. Apesar de manter o tom brando, no final do ano, após uma cirurgia na cabeça, o chefe do Executivo tem assuntos que precisam de ajustes urgentes no início de 2025. Alguns nomes podem até deixar o governo no final do ano.
Da equipe de 37 ministros que lançou o terceiro mandato de Lula, em janeiro de 2023, cinco deixaram o governo, mas, no total, foram feitas seis mudanças. Márcio França foi afastado de Portos e Aeroportos para dar lugar a um representante do Centrão, mas recebeu a chefia de um 38º ministério, o de Empreendedorismo, Microempresa e Pequena Empresa.
Ana Moser (Desporto), Daniela Carneiro (Turismo), Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública), Gonçalves Dias (Gabinete de Segurança Institucional) e Silvio Almeida (Direitos Humanos) foram as vítimas destes últimos dois anos.
Um dos mais propensos a mudar de função é o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta. Como destacou o próprio presidente Lula, ao final de seminário do PT, no dia 6, antes de Lula passar pelos procedimentos de cabeça, “há um erro do governo em matéria de comunicação, e sou obrigado a fazer as correções necessárias”. Lula deixou explícita sua insatisfação com a atuação de Pimenta, entre outros motivos, por não dar tantas entrevistas quanto gostaria.
O substituto tem nome certo: é Sidônio Palmeira, marqueteiro responsável pela campanha eleitoral de Lula em 2022. Convidado para a reunião ministerial da semana passada, ele deverá ser o responsável pelo tradicional discurso à nação que Lula fará na noite de Natal. A substituição ainda não foi anunciada, segundo interlocutores, por causa do estado de saúde do presidente, que passou por uma cirurgia para drenagem de um hematoma na cabeça. Por isso, ficou dez dias em São Paulo.
Pimenta, porém, não ficará sem assistência e está bem posicionado para assumir a Secretaria-Geral da Presidência da República. Atualmente, o departamento é chefiado por Márcio Macêdo que, caso a mudança fosse feita, deixaria o governo e retornaria à liderança nacional do PT, no qual ainda ocupa o cargo de vice-diretor, após passar cinco anos como tesoureiro do partido .
Macêdo implementou uma importante ação internacional no Brasil, o G20 Social, realizado em novembro deste ano, no Rio de Janeiro — a primeira inclusão de organizações da sociedade civil na cúpula do grupo das maiores economias do mundo. Porém, algumas vezes foi criticado publicamente por Lula, como no evento de 1º de maio, Dia do Trabalho, que o presidente chamou de “mal convocado”. Num pequeno-almoço com jornalistas na semana passada, o ministro manifestou a sua aceitação da possibilidade, dizendo que era “direito” do presidente promover mudanças na equipa ministerial.
Militares
Outro ministro que deve deixar o cargo muito em breve, por vontade própria, é José Múcio Monteiro, titular da pasta da Defesa. Desde que foi convidado pelo presidente para preencher a vaga, o ministro havia avisado que não pretendia permanecer no governo até o final do mandato. Agora, ele confidenciou a interlocutores que está pronto para deixar o governo. Segundo o Correio, ele costuma dizer que já “cumpriu a missão” dada por Lula de pacificar o quartel e melhorar a relação entre as Forças Armadas e o governo, que foi abalada pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro.
Ainda não há confirmação se o pedido já foi feito ao presidente, que não gostaria de perder seu fiel assessor. A vontade de Múcio de deixar o cargo foi acentuada pelo recente vídeo publicado pelo comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, no qual compara o árduo trabalho dos militares com a suposta vida pacífica dos trabalhadores civis. A intenção era rebater a crítica de que a carreira militar oferece privilégios que deveriam ser eliminados no pacote de ajuste fiscal do governo. Uma das medidas aprovadas, que provocou reação do alto comando das três Forças, fixou a idade mínima de 55 anos para ingresso na reserva (aposentadoria). Lula ficou irritado com a situação, que comparou a uma insubordinação, e ameaçou demitir Olsen.
Além disso, o Ministro da Defesa também enfrenta a tensão da investigação da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado, cujo clímax foram os atos de 8 de janeiro de 2023. A investigação indiciou 25 militares por participação em suposta organização criminosa que preparou e tentou lançar um golpe de estado no país.
A pessoa mais provável para ocupar a vaga de José Múcio é o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin. Porém, há dúvidas se ele aceitaria o convite. Outra possibilidade, destacada por quem acompanha de perto a rotina do Planalto, é a do atual ministro da Justiça, Ricardo Lewandowsky.
Padilha
Um ponto adicional de atenção de Lula para o próximo ano deverá ser a coordenação política e econômica com outros Poderes. Alexandre Padilha, ministro da Secretaria de Relações Institucionais do governo, não conseguiu mediar a relação entre o Executivo e o Legislativo, após fortes embates com o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lira (PP-AL). Padilha também estaria de olho em pastas com maior visibilidade e orçamento, como a Saúde, que chefiou nos governos Lula (2009-2010) e Dilma Rousseff (2011-2014). (Leia mais sobre a reforma ministerial na página 3)
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