O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerra seu segundo ano de mandato com menos diversidade no Executivo do que iniciou seu terceiro mandato no país. A equipe ministerial, inicialmente com 37 pastas, contava com onze mulheres, dois homens negros e um indígena. Agora, mesmo com um ministério adicional, existem apenas dez.
No total, nos últimos dois anos, foram feitas seis mudanças no governo, com a saída de cinco ministros. Nas fotos da formação de 2023, e também deste ano, é possível perceber o predomínio de homens brancos. A “cota de diversidade” parece estar reservada às mulheres, também negras e indígenas — como é o caso de Sônia Guajajara (Povos Indígenas), Anielle Franco (Igualdade Racial), Marina Silva (Meio Ambiente) e Margareth Menezes (Cultura) .
As razões para a nova configuração são diversas. Uma delas, por exemplo, foi a nomeação de Flávio Dino, pardo e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública para o Supremo Tribunal Federal (STF). Ricardo Lewandowski, ministro aposentado da Corte, assumiu em fevereiro deste ano.
Em setembro, o então ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, foi acusado de assédio sexual pela ministra Anielle Franco. O caso veio à tona por meio de denúncia anônima, que inclui também outros funcionários de alto escalão do departamento, publicada pela organização sem fins lucrativos Me Too Brasil. Ele foi demitido pelo presidente Lula. Com isso, perdeu-se a representação de um homem negro, mas o petista escolheu uma mulher negra para ocupar seu lugar, Macaé Evaristo.
O gesto foi visto como positivo pelos apoiadores do governo, já que outras substituições, ainda em 2023, envolveram duas mulheres substituídas por dois homens. A ex-ministra do Turismo Daniela Carneiro deixou o cargo em julho, após pedir a desfiliação da União Brasil, alegando “assédio” por parte da direção nacional da associação. Seu nome também estava politicamente ligado a milicianos. O próprio partido indicou outro nome, Celso Sabino, para assumir o cargo, pois a vaga era uma garantia para o Centrão na gestão governamental.
Mulher x homem
Ana Moser, ex-ministra do Esporte, também foi substituída por um homem, André Fufuca, do Progressistas, num gesto de ampliação do grupo aliado em cargos de cúpula do governo. Na mesma época, Márcio França, de Portos e Aeroportos, foi trocado por Silvio Costa Filho, de Repúblicas. No entanto, com a criação de um 38º ministério, o do Empreendedorismo, Microempresas e Pequenas Empresas, a França foi realocada para chefiar o novo ministério.
Outra mudança no governo Lula, apesar de não fazer parte do âmbito da diversidade, foi a do general Gonçalves Dias, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) que iniciou as mudanças na equipe do presidente. Ele renunciou após a divulgação de imagens suas no Palácio do Planalto, durante os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, que culminaram na depredação dos prédios dos três Poderes. Atualmente o departamento é comandado pelo General Marcos Antônio Amaro dos Santos.
Negociação política
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, tem o cargo muito cobiçado, pois tem grande fatia do Orçamento e visibilidade. No início deste ano, passou por uma crise devido à explosão no número de pessoas com dengue no país, que ultrapassou 6,5 milhões de casos e se tornou um recorde histórico. Apesar das muitas críticas da oposição e da série de “pedidos de atenção” de Lula para entregar mais resultados, o presidente se protegeu e deu uma cara calorosa à situação.
Ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia é um dos poucos nomes técnicos que compõem a equipe ministerial, uma escolha clara para a chefia do Executivo. Apesar disso, à medida que se fortalece a pressão da base aliada e os votos ficam bloqueados no Legislativo, existe a possibilidade de o cargo ser entregue ao Centrão.
A maior crítica ao afastamento de Nísia seria o fato de que reduziria ainda mais o número de mulheres na equipe. O mesmo se repete com Simone Tebet, ministra do Planejamento e Orçamento, que esperava ser um nome forte do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) no governo, mas tem atuado com timidez.
Escolhida por Lula para integrar o time, após participação de destaque nas eleições de 2022, a expectativa era que ela auxiliasse nas negociações do presidente com o Centrão. No entanto, a atitude recente da ministra colocou em risco o seu bom relacionamento com o resto da junta económica. No dia do anúncio do corte de gastos, quando Lula, Haddad e líderes do Congresso se reuniram para discutir os últimos ajustes, Tebet estava na biblioteca do Senado Federal, lançando o livro que escreveu sobre sua trajetória política.
Entre os nomes citados para assumir os ministérios acima, ou outros, estava Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado Federal, que teve forte atuação na aprovação de projetos importantes para o governo. Esta seria a forma do presidente recompensá-lo pela sua articulação política. Porém, na semana passada, o parlamentar negou a possibilidade. “Essa definição não existe. Tenho que completar meu mandato como presidente do Senado até primeiro de fevereiro, eleger a Mesa Diretora nos primeiros dias de fevereiro, definir as comissões”, declarou.
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