Mais de cinco mil municípios de todo o país vão empossar, nesta quarta-feira, prefeitos e vereadores eleitos em 2024. A eleição do ano passado bateu o recorde de reeleição para prefeituras: dos 3.038 prefeitos que buscaram a recondução ao cargo, segundo o No Conselho Superior Eleitoral (TSE), 2.453 foram aprovados, o que representa uma taxa de reeleição de 80,74% — a maior desde que o instrumento passou a ser permitido no Brasil. Das 26 capitais de unidades da Federação que realizaram eleições em 2024, em 15 as que venceram a disputa para prefeito já ocupavam o cargo.
O instituto da reeleição veio em 1997, com emenda constitucional aprovada no governo de Fernando Henrique Cardoso. Beneficiou prefeitos, governadores e presidentes da República —o próprio FHC aproveitou a mudança para disputar um segundo governo, em 1998. Desde então, o único presidente da República que concorreu à reeleição e perdeu foi Jair Bolsonaro (PL), em 2022.
O grupo político de Bolsonaro, aliás, foi um dos que mais se beneficiou com o resultado das urnas em 2024. Candidatos de centro-direita e direita avançaram no mapa eleitoral, o que poderá abrir caminho para um melhor desempenho desta ala política em 2026, quando serão novamente escolhidos deputados estaduais e distritais, governadores e o presidente da República. Controlar mais prefeituras significa ter a máquina em mãos em mais municípios, o que faz muita diferença numa eleição.
Em São Paulo, maior cidade do país, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) tomará posse para seu primeiro mandato completo. Impulsionado pelo apoio de Bolsonaro e do governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o atual prefeito venceu sua primeira eleição como chefe da chapa —na última eleição, concorreu como vice-presidente de Bruno Covas (PSDB), que morreu em 2021, vítima de câncer.
A disputa na capital paulista foi marcada por debates acirrados —incluindo tiros de cadeira e socos— no segundo turno, quando Nunes enfrentou o deputado federal Guilherme Boulos (PSol).
Em 2020, Boulos havia perdido para a chapa de Covas (com Nunes) também no segundo turno. Mesmo com o apoio explícito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o parlamentar foi derrotado com uma diferença de quase 20 pontos percentuais.
No Rio de Janeiro a história foi diferente. O favoritismo de Eduardo Paes (PSD) foi confirmado no primeiro turno. Foi reeleito com 60,47% (1,9 milhão) dos votos —o dobro do deputado Alexandre Ramagem (PL), apoiado por Bolsonaro.
Paes, que foi chamado por Lula de “o melhor prefeito do país” na campanha pré-eleitoral do ano passado, iniciará, nesta quarta-feira, seu quarto mandato à frente da capital do estado do Rio de Janeiro.
Ele já havia sido prefeito de 2009 a 2017. Concorreu a governador do Rio de Janeiro em 2018, mas foi derrotado por Wilson Witzel, que se tornou o primeiro governador a sofrer impeachment na história da República por indícios de irregularidades na saúde durante a pandemia de covid-19. -19 pandemia.
Paes voltou à Prefeitura do Rio de Janeiro em 2021. O principal desafio da cidade continua sendo a segurança pública, que se mistura com a expansão urbana descontrolada, coordenada, em vários casos, pelo crime organizado.
“Nosso papel é diminuir o alcance de atuação que as milícias e o tráfico de drogas têm para explorar as atividades econômicas. Uma delas é o setor imobiliário, o que não é novidade para ninguém”, disse Eduardo Paes, em entrevista ao jornal O. Globo no dia 27 de novembro. Para o prefeito, a verticalização das favelas é um problema relevante.
Todo o estado do Rio de Janeiro teve 4.270 mortes violentas intencionais (MVI) em 2023, segundo o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública deste ano. Ficou atrás apenas da Bahia, que registrou 6.578 IVMs no período.
As cidades do Rio de Janeiro e de Salvador, capital da Bahia, lideraram o ranking de municípios com maior número de homicídios dolosos em 2023, segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Em Salvador, assume Bruno Reis (União Brasil). O estado é governado por Jerônimo Rodrigues (PT), adversário político do grupo Reis (que também inclui o ex-prefeito ACM Neto), eleito em 2022 com o apoio de Lula.
Em Belo Horizonte, o prefeito reeleito Fuad Noman (PSD) também inicia seu segundo mandato. No segundo semestre deste ano, ele teve diversos problemas de saúde. Diagnosticado com linfoma, completou o tratamento em outubro, no período eleitoral.
Noman ficou internado cinco dias em novembro por causa das dores decorrentes do tratamento e voltou ao hospital no dia 15 de dezembro para ser tratado de pneumonia e sinusite. Após apresentar diarreia e sangramento intestinal, ele recebeu alta no dia 23 de dezembro. No mesmo dia, reuniu-se com secretários e assessores para definir prioridades para 2025.
Posições em risco
Em diversas cidades do país, a definição de quem será prefeito nos próximos quatro anos dependerá de decisão judicial. Só no primeiro turno foram 46 eleitos nesta situação. Isso ocorre quando há indícios de irregularidades na candidatura ou na campanha eleitoral. É o caso de Goiânia, por exemplo. O prefeito eleito Sandro Mabel (União Brasil) e sua vice, Cláudia Lira (Avante), tiveram o registro de candidatura cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Goiás.
A Corte entendeu que o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), cometeu crime eleitoral de abuso de poder político ao utilizar a estrutura do governo do estado para apoiar a candidatura de Mabel. Os três foram declarados inelegíveis por oito anos.
Como a defesa da chapa interpôs recurso na Justiça Eleitoral, a decisão ficará suspensa até que todos os recursos sejam julgados. Na prática, portanto, Sandro Mabel e seu vice poderão tomar posse nesta quarta. Caso a Justiça confirme a condenação, ambos perderão o cargo, e o município de Goiânia terá novas eleições.
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