Há dois anos, o Brasil foi surpreendido pelo ataque mais violento às instituições democráticas desde o golpe militar de 1964. O dia 8 de janeiro de 2023 ficou para a história como o dia da agressão ao processo eleitoral e à democracia, com ataques que levaram à depredação de os edifícios dos três Poderes. Desde então, 313 pessoas que participaram de atos antidemocráticos foram condenadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo a Procuradoria-Geral da República, que apresentou a denúncia ao Tribunal, 229 foram enquadrados como executores e 81 foram enquadrados como instigadores. Na última sessão de 2024 da 1ª Turma do STF, o presidente do colegiado, ministro Cristiano Zanin, destacou as 383 ações referentes ao 8 de janeiro que foram analisadas ao longo do último ano.
Uma mudança no Regimento Interno do STF permitiu que denúncias e ações penais também fossem julgadas por grupos menores, compostos por cinco magistrados, e não exclusivamente pelo Plenário. Um total de 1.541 processos foram abertos contra os golpistas. Até o momento, o Tribunal validou acordos de não persecução penal da PGR com 521 réus e condenou outros 313 —dois na Primeira Turma.
Os suspeitos de terem relação com os atos de 8 de janeiro foram divididos em quatro grandes grupos, por tipo de envolvimento: os que realizaram a invasão e a depredação; incitadores; financiadores; e autoridades. Até agora, apenas os dois primeiros blocos tiveram julgamento e punição.
As penas dos executores variam entre 15 e 17 anos de prisão, pelos crimes de associação criminosa armada, dano qualificado, deterioração de bens tombados, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe de Estado.
Para os acusados de incitação a atos, as penas são de 1 ano de prisão, mas foram substituídas pela prestação de serviço comunitário e frequência de curso sobre democracia. O analista político Melillo Dinis avalia que, desde a tentativa de golpe, a população brasileira compreendeu o caso. Destaca também a atenção dos Poderes sobre o fato e suas consequências.
“As instituições aumentaram a percepção do conjunto das ações autoritárias e cresceram no cuidado com a democracia, além da sociedade civil, que está mais atenta. O que garante a democracia é o conjunto de instituições que servem de contenção aos interesses e movimentos que tentam derrotar a democracia através da articulação entre a força e a violação da Constituição”, aponta.
Dinis destaca o compromisso do STF em julgar e condenar os envolvidos. O especialista também critica um projeto de lei da Câmara dos Deputados, aprovado por bolsonaristas, que visa conceder anistia aos condenados. “Não vejo a anistia como uma forma de consolidar a democracia. Há muitas pessoas que colocaram esta questão como algo relevante apenas para transformar nossos procedimentos e processos em parte da arenga da eterna polarização”, disse ele.
“Não ajuda a democracia, não melhora a lei, não é uma reclamação social, não melhora as relações sociais, nem permite que atos como este não se repitam. Comparando este momento histórico, com o pacto de redemocratização que levou à anistia de 1979, no Brasil, além de equivocada, pressupõe a falta de um marco constitucional que construímos ao longo dos últimos 36 anos”, acrescenta o analista.
Punições
Os condenados pelo STF têm passaportes retidos, porte de arma cassado e deverão pagar, solidariamente, o valor de R$ 5 milhões por danos morais coletivos. No mês passado, a Justiça também condenou o ex-deputado federal Roberto Jefferson a nove anos, um mês e cinco dias de prisão por incitação à prática de crimes e agressões aos Poderes e pelos crimes de calúnia e homofobia. Na mesma sessão, foram condenados por atos antidemocráticos 57 arguidos que não aceitaram o acordo proposto pela PGR para encerrar o processo.
Na opinião do cientista político Elias Tavares, a data de 8 de janeiro também serve como ponto de profunda reflexão sobre os riscos de enfraquecimento das instituições democráticas.
“O trabalho do Poder Judiciário e do Ministério Público tem sido fundamental para responsabilizar os envolvidos e dar uma resposta contundente à sociedade. A convicção dessas pessoas, até o momento, mostra o esforço contínuo dessas instituições para fortalecer o Estado Democrático de Direito . Este processo é essencial para reafirmar a nossa confiança na democracia e garantir que episódios como o de 8 de janeiro não voltem a acontecer”, salienta.
Para o especialista, os acontecimentos antidemocráticos de 8 de janeiro serviram de alerta e também de oportunidade para reforçar o papel das nossas instituições. “Questões como a possibilidade de anistia e o aprendizado institucional continuarão na ordem do dia. Mas é fundamental que avancemos sem abrir mão da justiça e da memória, para que a reconciliação possa acontecer sem enfraquecer a nossa democracia”, conclui Tavares.
Autoridades na mira
No dia 8 de janeiro de 2023, extremistas invadiram e vandalizaram os prédios da Praça dos Três Poderes, por não aceitarem a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro nas urnas. Diante da situação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou intervenção federal para assumir a segurança do DF. O governador Ibaneis Rocha foi afastado do cargo por 90 dias pelo STF, e Anderson Torres, responsável pela segurança pública da capital, foi preso.
A Procuradoria-Geral da República indica que houve omissão de agentes públicos responsáveis pela segurança dos locais invadidos. Um dos pontos mencionados nas alegações finais é a caracterização da organização criminosa. A PGR afirma que a convocação para atos golpistas ocorreu antecipadamente e foi amplamente divulgada nas redes sociais.
Pessoalmente, a trama golpista nasceu em frente aos quartéis-generais do Exército em todo o país. Logo após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eleitores extremistas do ex-presidente Jair Bolsonaro se reuniram em frente a essas unidades, com faixas pregando o golpe e prometendo que o petista não subiria a rampa. As mensagens apelavam aos militares para que tomassem o poder.
Os golpistas chegaram a Brasília de carro, ônibus e dezenas de caminhões. Os cartazes que seguravam exibiam frases como “generais, confiamos em vocês: voto auditável, novas eleições agora”. O Exército poupou os vândalos e permitiu que permanecessem na área. Na Praça dos Cristais, em frente à sede, apoiadores do golpe montaram barracas e distribuíram comida e água.
O Centro de Comunicação do Exército, já no governo Lula, respondeu que “não houve ordem judicial classificando o acampamento em frente ao QG do Exército como ilegal, nem houve ordem judicial para que fosse desmobilizado”.
No dia 8 de janeiro, o grupo deslocou-se para a Praça dos Três Poderes, atacou a polícia e vandalizou os edifícios. O ex-comandante da Polícia Militar do DF, Fabio Augusto Vieira, que comandava a operação na época dos ataques contra os Três Poderes, também foi preso após os acontecimentos.
Segundo a PGR, Torres e a liderança da PMDF tinham plena consciência dos riscos de ações golpistas na cidade. O ex-ministro também foi acusado de omissão em viagem aos Estados Unidos, quando os prédios do Congresso, do STF e do Palácio do Planalto foram vandalizados por vândalos que não aceitaram o resultado das eleições. A agência destacou que sua conduta foi “omissiva” e demonstrou “absoluta desorganização”.
A PGR também citou a minuta do golpe encontrada na casa do ex-secretário. Segundo o vice-procurador-geral da República Carlos Frederico Santos, que assinou o comunicado enviado ao Supremo, o documento estava bem guardado e, ao contrário do que Torres alegou, não pretendia deitá-lo no lixo.
A suposta participação de militares das Forças Armadas no golpe também é objeto de investigação judicial. Em 2023, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, decidiu que cabe à Corte julgar e condenar criminalmente militares possivelmente envolvidos em atos antidemocráticos.
*Com informações do STF
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