O Palácio do Planalto começou a receber, nesta segunda-feira, as obras restauradas após os atentados de 8 de janeiro. No total, 21 peças danificadas pelos invasores passaram por um longo processo de recuperação e serão expostas novamente no local. O governo apresentará oficialmente os itens na cerimônia de amanhã, em memória dos dois anos de atos golpistas.
As obras de arte chegaram em um caminhão, escoltado por uma viatura da Polícia Federal. Eles foram carregados pela rampa do Planalto até o segundo andar. Três deles foram entregues nesta remessa: o quadro As Mulatas, do pintor Emiliano Di Cavalcanti; uma escultura em madeira, do artista Frans Krajcberg; e a escultura O Flautista, de Bruno Giorgi.
As peças foram restauradas por uma equipe da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em laboratório montado no subsolo do Palácio do Alvorada, residência oficial da Presidência da República. .
Nesta terça-feira, o Planalto receberá o relógio histórico de Balthazar Martinot, quebrado durante a invasão. O objeto foi presenteado pela Corte Francesa a Dom João IV, rei de Portugal. O relógio foi enviado para a Suíça e restaurado no país europeu.
No dia 8 de janeiro de 2023, extremistas apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram e vandalizaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), na tentativa de invalidar os resultados das urnas eletrônicas, do ano anterior, que eleito presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os golpistas vandalizaram a estrutura de prédios públicos e vandalizaram itens expostos em seu interior, inclusive obras de arte. O mural de Di Cavalcanti, por exemplo, ocupou o terceiro andar do Planalto e sofreu sete cortes. O relógio, do século XVII, foi jogado no chão e quebrado pelo bolsonarista Antônio Cláudio Alves Ferreira —a ação foi filmada. O extremista foi condenado pelo STF a 17 anos de prisão.
A recuperação das peças custou cerca de R$ 2,2 milhões. O laboratório de restauro empregou mais de 30 pessoas no ano passado, e a equipa trabalhou na reparação de obras em madeira, tela, papel, metal e cerâmica, materiais que requerem diferentes técnicas. As peças de arte foram documentadas, limpas, coladas, preenchidas e pintadas de forma a restabelecer o seu estado o mais próximo possível do seu estado original.
STF
Também haverá ações no Supremo Tribunal Federal. O vice-presidente do Tribunal, Edson Fachin, conduzirá a conversa amanhã. O tribunal informou que participarão funcionários e colaboradores que trabalharam na limpeza e reconstrução das instalações vandalizadas, além de restaurar as obras destruídas durante a invasão.
O STF também lançará um hotsite memorial com informações completas, que vão desde os ataques e destruição do prédio até o processo de reconstrução e a responsabilização de quem invadiu e vandalizou as instalações do Tribunal.
Além disso, haverá apresentação de obras que foram produzidas com entulhos do que restou no local após o vandalismo. Participam do projeto quatro artistas brasilienses: Valéria Pena-Costa, Carppio de Morais, Marilu Cerqueira e Mário Jardim. O grupo entregará formalmente as peças ao ministro Fachin, momento em que os artistas apresentarão cada uma das obras que simbolizam a reconstrução do prédio do Supremo Tribunal Federal e a prevalência da democracia.
Segundo informações divulgadas pelo STF, Manto da Democracia é o título da obra de Valéria Pena-Costa. Ela convidou cerca de 60 mulheres para reconstruir simbolicamente a toga da ministra Rosa Weber, então presidente do STF na data dos atentados, 8/1/2023. A proposta da artista é reunir o que chamou de “energia criativa” de muitas mulheres em torno de uma mulher que ocupava um dos mais altos cargos de poder do país. “Um ato simbólico de identidade, solidariedade e força, manifestado através da arte.”
Apresentada dentro de uma caixa de acrílico, uma pintura sobre tela em tom preto foi inspirada no luto das páginas carbonizadas da Constituição Federal. A obra é escrita por Carppio de Morais. Segundo o artista, a peça trará um percurso histórico que retrata a sociedade brasileira, desde a escravidão até os dias atuais, passando pela primeira Constituição, para representar um Brasil diverso, mas também dividido social e ideologicamente.
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