Dois anos depois dos atos golpistas que marcaram o 8 de janeiro, cerimônias no Palácio do Planalto, no Supremo Tribunal Federal (STF) e na Praça dos Três Poderes celebraram a força da democracia brasileira. Em discurso na sede do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva parafraseou o novo filme de Walter Salles, Ainda estou aqui — que trata da ditadura militar — para reafirmar a resiliência do regime democrático.
“Hoje é dia de dizer em alto e bom som: ainda estamos aqui. Estamos aqui para dizer que estamos vivos e que a democracia está viva, ao contrário do que os golpistas planejaram em 8 de janeiro de 2023. Estamos aqui, mulheres e homens, de diferentes origens, crenças, partidos e ideologias, unidos por uma causa comum Estamos aqui para dizer, em alto e bom som, ditadura nunca mais, democracia sempre”, enfatizou Lula, sob aplausos no Palácio do Planalto.
Desde o início da cerimônia, o público gritava “ditadura nunca mais” e “não há anistia”. Lula destacou que “se ainda estamos aqui” é porque a democracia venceu. “Caso contrário, muitos de nós talvez estaríamos presos, exilados ou mortos, como aconteceu no passado, e não permitiremos que isso aconteça novamente”, disse ele.
Em tom firme, destacou a importância de não esquecer os acontecimentos do dia 8 de janeiro, quando extremistas de Bolsonaro invadiram e vandalizaram a sede dos Três Poderes.
O presidente reafirmou o compromisso do governo em investigar e punir os responsáveis pelos ataques, incluindo os envolvidos no plano de seu assassinato, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.
“Os responsáveis pelo 8 de Janeiro estão sendo investigados e punidos. Ninguém foi ou será preso injustamente. Todos pagarão pelos crimes que cometeram, inclusive aqueles que planejaram o assassinato do presidente, do vice-presidente da República e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral terão plenos direitos de defesa e terão direito à presunção de inocência”, assegurou. Em outro momento, ele ironizou o plano: “Eu escapei, junto com Xandão e seu companheiro Alckmin, de um ataque de um bando de irresponsáveis. Eu diria um bando de malucos que achavam que não havia necessidade de deixar a Presidência depois o resultado eleitoral e quem seria fácil de tomar o poder.”
Lula rebateu as críticas ao evento vazio, com a ausência de nomes importantes da República. Os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), não compareceram; da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do STF, Luís Roberto Barroso. Lula disse ter lido na imprensa que haveria “pouca gente” na cerimônia. “Um ato de defesa da democracia brasileira, mesmo que haja apenas um cara, apenas uma pessoa, em praça pública ou em um palanque falando sobre democracia, é suficiente”, destacou.
Ao final da cerimônia, Lula e as autoridades presentes desceram a rampa do Planalto para, juntos, dar um “abraço de democracia”, na Praça dos Três Poderes. No chão, vasos de flores soletravam a palavra “democracia” e apoiadores comemoravam a presença do presidente. O evento público foi convocado pelo PT do Distrito Federal e por movimentos sindicais.
Judiciário e Legislativo
O vice-presidente do STF, ministro Edson Fachin, representou o Poder Judiciário na solenidade. Segundo ele, é preciso “lembrar sempre o que aconteceu, para que não aconteça novamente”. “Precisamos sempre lembrar o que aconteceu, para que as novas gerações não esqueçam a dor de uma ditadura e os males que o autoritarismo traz”, destacou o juiz.
Fachin também leu mensagem enviada por Barroso, que está de férias. “Os ataques de 8 de janeiro foram a face visível de um movimento clandestino que organizava um golpe de Estado. Foi a manifestação de um triste sentimento antidemocrático, agravado pela intolerância e pela agressividade. do povo brasileiro”, escreveu o presidente do STF.
Na mensagem, Barroso também enfatizou: “Não devemos ter ilusões: no Brasil e em todo o mundo, está sendo inflada a falsa narrativa de que enfrentar o extremismo e o golpismo, dentro do Estado de Direito, constituiria autoritarismo. que não desistiram das suas aventuras antidemocráticas, violando as regras do jogo e suprimindo os direitos humanos, as mentiras continuam a ser usadas como um instrumento político naturalizado.
A segunda secretária da Câmara, deputada Maria do Rosário (PT-RS), compareceu à solenidade no lugar de Lira, que estava ausente, segundo ele, por “motivos pessoais”.
Quem representou o Senado foi o vice-presidente da Câmara, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB). Pacheco, porém, se pronunciou em nota. Disse que “não existe liberdade verdadeira, responsável e plena fora do regime democrático”. “Por isso, toda ação em defesa da democracia deve ser destacada, assim como realizamos, no ano passado, a lei da Democracia Inabalável, no Congresso Nacional”.
Os comandantes do Exército, General Tomás Paiva; da Marinha, o almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen; e da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro da Aeronáutica Marcelo Kanitz Damasceno, estiveram presentes na cerimônia.
Obras de arte entregues
Na cerimônia de ontem, no Planalto, o presidente Lula recebeu 21 obras de arte que foram restauradas após os ataques golpistas. Os itens foram encontrados destruídos ou danificados na sede do Executivo, e a maior parte foi recuperada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). A exceção foi um relógio de mesa do Rei de Portugal Dom João VI, restaurado por relojoeiros na Suíça.
Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin também inauguraram o quadro As mulatas, de Di Cavalcanti, exposto novamente em seu local original, no terceiro andar do Planalto. A tela, avaliada em R$ 8 milhões, foi esfaqueada sete vezes por vândalos. Para comemorar a restauração, a filha do pintor, Elisabeth Di Cavalcanti, compareceu à cerimônia.
Das obras restauradas, 20 foram uma parceria entre a UFPel e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), também apoiado pela Universidade de Brasília (UnB). A equipe levou 1.760 horas para realizar a obra, com investimento público de cerca de R$ 2,2 milhões.
No total, 50 profissionais especializados saíram de Pelotas (RS) para morar em Brasília e trabalhar na restauração das peças durante um ano.
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