Aliado de longa data do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-chefe de Estado uruguaio José Alberto “Pepe” Mujica, 89 anos, anunciou nesta quinta-feira que seu câncer de esôfago se espalhou e que ele abandonou o tratamento.
“O câncer no esôfago está se espalhando para o fígado. Não consigo parar. Por quê? Porque sou idoso e tenho duas doenças crônicas. Não posso nem fazer tratamento bioquímico ou cirurgia, porque meu corpo pode’ não vou lidar com isso”, disse ele. Mujica, em entrevista ao jornal local Procurar. “O que eu peço é que você me deixe em paz, que não me peça entrevistas ou qualquer outra coisa. Meu ciclo já terminou. Sinceramente, estou morrendo. E o guerreiro tem direito ao descanso.”
No mês passado, Lula esteve em Montevidéu e visitou Mujica para homenagear seu amigo e aliado político. “É uma emoção poder premiar nosso grande companheiro Pepe Mujica com a maior honraria brasileira, a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, por sua luta incansável pelo melhor da América Latina e do mundo. , afirmou o presidente brasileiro, na ocasião. “Esta medalha que estou entregando não é porque ele foi presidente do Uruguai, é porque ele é quem é. Ele é a pessoa mais extraordinária que conheci”.
Na ocasião, Lula estava em território uruguaio para participar da 65ª Cúpula do Mercosul, evento em que aproveitou para citar Mujica como exemplo de “senso de justiça e inclusão”.
Presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, Mujica aprovou medidas ainda sensíveis na política brasileira, como a legalização da maconha e o aborto.
Em 2012, o Uruguai tornou-se o segundo país latino-americano a legalizar a interrupção da gravidez, depois de Cuba. A lei permite que cidadãos uruguaios realizem o procedimento até a 12ª semana de gestação. O líder político chegou a declarar em entrevistas que era pessoalmente contra o uso da maconha e o aborto, mas que a legalização era a melhor forma de combater as práticas ilegais, discurso semelhante ao de Lula em 2022.
Foi sob a administração de Mujica que o país avançou na legalização da maconha para uso pessoal. A liberação, assinada em 2013, prevê que nativos e estrangeiros residentes no país possam plantar e consumir a erva, além de criar um mercado legal de venda. A legalidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo também se tornou uma realidade no Uruguai durante o mesmo mandato.
No Brasil, as questões do aborto e das drogas continuam sem avançar no Congresso Nacional e enfrentam ampla resistência de setores conservadores e da bancada evangélica. Tanto a descriminalização do porte de maconha quanto o casamento entre pessoas do mesmo sexo não estão previstos em lei, mas são regulamentados por decisões de repercussão geral tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O político liderou o Uruguai num momento simbólico, que coincide com uma coalizão de presidentes de esquerda na América Latina. Além de Mujica, governaram no período: Lula (2003 a 2010) e Dilma Rousseff (2011 a 2016), no Brasil; Evo Morales, na Bolívia (2006 a 2019); Cristina Kirchner, na Argentina (2006 a 2015); e Fernando Lugo (2008 a 2012), no Paraguai.
A proximidade política entre Mujica, líder dos Tupamaros, movimento guerrilheiro contra a ditadura no Uruguai, e Lula manteve a amizade entre os governantes mesmo após o término de seus mandatos. Até a publicação desta reportagem, o chefe do Executivo brasileiro não havia comentado publicamente a revelação feita pelo amigo.
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