A partir de 1º de fevereiro de 2025, o salário dos 94 deputados da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) será R$ 201,75 superior ao do governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos). O subsídio para parlamentares passará a ser de R$ 34.774,64, enquanto o chefe do Executivo continuará recebendo R$ 34.572,89.
Este é o terceiro e último aumento escalado pela lei nº 17.617, aprovada em caráter de urgência por 49 votos a favor e 10 contra em 16 de janeiro de 2023 pela Câmara e sancionada pelo então presidente da Assembleia, Carlão Pignatari (PSDB).
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Na época, o salário saltou de R$ 25.322,25 para R$ 29.469,99. Em abril do mesmo ano, foi para R$ 31.238,19. E em fevereiro de 2024 atingiu o patamar atual de R$ 33.006,39, superando os salários do vice-governador e secretários de Estado.
O então governador Rodrigo Garcia (ex-PSDB) deixou a sanção para seu sucessor Tarcísio, que não deu continuidade ao processo, diante de um potencial desgaste político. Dessa forma, definida pela Constituição do Estado, caso o chefe do Executivo não se manifestasse no prazo de 15 dias, o poder de sanção ou veto passou para o presidente da Alesp, que o sancionou.
Especialistas consultados por Transmissão Política (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) reiteram que o teto do serviço público brasileiro é o salário de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), cujo subsídio atual é de R$ 44.008,52. A partir de 1º de fevereiro serão R$ 46.366,19, assim como o presidente da República, senadores e deputados federais.
“No Brasil, isso hoje está uma bagunça, devido a uma mudança na Constituição há quase duas décadas que criou a possibilidade de cada Estado decidir se adota um teto único ou três tetos diferentes”, explica o especialista em Direito Constitucional do Universidade de São Paulo (USP) e Assessor Legislativo, Leonardo Quintiliano. “Em relação ao Governo Federal e ao Congresso Nacional é diferente. Lá há mais paridade e o teto para servidores federais é o do STF, independente de ser Legislativo ou Executivo.”
De acordo com a Constituição do Estado de São Paulo, o teto para servidores é o salário do governador, portanto, os servidores não poderiam ultrapassar esse valor. Porém, a Constituição Federal define que o teto salarial dos deputados estaduais deve ser de até 75% do salário dos deputados federais. Essa foi a justificativa para o aumento proposto realizado no final de 2022, além de não haver reajuste desde 2016.
Em nota, a Alesp afirma que se trata de algo constitucional. “Essa lei escalonada que fizemos em 2023 acompanhou o reajuste dos deputados federais em Brasília. Eles fizeram o mesmo e nós adaptamos aqui”, afirma. Procurado, o atual presidente da Alesp, André do Prado (PL), não comentou.
“O que acontece é que apenas três ou quatro estados não têm teto estadual unificado. Isso muda a dinâmica”, afirma o professor Quintiliano. “É mais fácil para os deputados dividir esse fardo político do que para o governador, que passa a ser alvo isolado de críticas”.
Para o professor e doutor em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), isso é algo incomum, mas realmente não é ilegal ou inconstitucional. “Foi uma emenda criada na década de 1990, quando o Brasil se preparava para promulgar uma lei de responsabilidade fiscal e havia muita disparidade salarial”, explica.
Para André Marsiglia, advogado constitucional e colunista político, o aumento constitui uma anomalia. “Entendo que a CF estipula uma regra hierárquica e ética para os subsídios públicos no artigo 37”, afirma.
“Os cargos municipais são limitados ao salário do prefeito, os estaduais ao salário do governador e assim por diante”, explica o especialista. “Caso essa regra seja descumprida, com aumentos que rompam a harmonia constitucional, entendo que é possível ao Ministério Público contestar o aumento por meio de medida judicial”.
A ex-deputada estadual e atual vereadora pela cidade de São Paulo, Janaína Paschoal (PP), foi uma das parlamentares que votou contra o aumento escalonado. Além dela, apenas Gil Diniz (PL), Valéria Bolsonaro (PL), Heni Ozi Cukier (Podemos), Patrícia Gama (PSDB) e as bancadas do PSOL e Novo votaram contra a proposta.
“Votei contra, porque entendo que o salário anterior já era bastante digno e porque acredito que precisamos dar o exemplo, como representantes do povo”, afirma o parlamentar. “Votei para simplificar o setor público e reduzir os benefícios daqueles que já ganham bem”.
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