“Nada nos atrapalhará, porque somos americanos”, disse o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao concluir seu primeiro discurso após sua posse. Trump não fez nada menos: anunciou “uma era de ouro”, reiterou os seus planos expansionistas e assinou uma enxurrada de decretos para desconstruir a administração do democrata Joe Biden, que o precedeu, e levar a cabo a sua política protecionista e anti-imigração.
Sua primeira ordem executiva foi declarar emergência na fronteira EUA-México, o que significa autorizar o envio de militares para a região. Trump não está brincando quando fala em retomar o controle do Canal do Panamá, enviar astronautas para fincar a bandeira americana em Marte e combater a diversidade sexual, para que os Estados Unidos possam voltar a ser um país “com dois gêneros: feminino e masculino”. .” masculino”.
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Na questão ambiental, Trump anunciou que os EUA sairão do Acordo Climático de Paris, o que representará um boicote à COP 30, que acontecerá em novembro, em Belém do Pará. Neste campo, pretende dificultar a produção de energia eólica e intensificar a exploração de petróleo no seu território. Sua posse ofuscou e orientou os debates do Fórum Econômico Mundial, em Davos, que começou nesta quarta-feira.
Trump fez um discurso reconhecidamente reacionário, para “tirar a América das trevas”, após duras referências ao governo Biden, sem citá-lo, com tom messiânico: “Fui salvo por Deus para tornar a América grande novamente”. Ele prometeu expulsar “qualquer pessoa que entre ilegalmente”, mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América e declarar os cartéis mexicanos como organizações terroristas. Negacionista, ele anunciou que irá reintegrar funcionários demitidos por não tomarem a vacina contra a covid. Ele disse ainda que irá anistiar os condenados pela invasão do Capitólio em 2021.
Contraditoriamente, prometeu ser um “unificador e pacificador” em relação aos conflitos em outros continentes. Citou como exemplo o acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas, no qual desempenhou realmente um papel decisivo. No entanto, a sua política protecionista pode representar uma grande ameaça à institucionalidade da economia mundial, que é o resultado de um longo processo de negociações e acordos multilaterais. Esta política de Trump está em linha com os magnatas da tecnologia norte-americanos, incluindo Elon Musk, dono da Tesla e do Twitter, que assumiu a tarefa de reduzir e modernizar o Estado norte-americano.
A política de Trump torna absoluta a liberdade de expressão, com a desregulamentação das redes sociais, sob o pretexto de restaurar “uma justiça justa, igual e imparcial no âmbito do Estado de direito constitucional”. Na verdade, é uma “libertação geral” da xenofobia, da homofobia, do machismo e do racismo. O novo presidente dos Estados Unidos é um supremacista branco e defende um tipo de patriotismo que atribui a liderança global aos americanos como o seu destino.
Barbas encharcadas
Na posse de Trump, porém, esse papel foi traduzido pela presença dos principais líderes da extrema direita na política mundial: Javier Milei, da Argentina; Giorgia Meloni, da Itália; e Viktor Orbán, da Hungria. Ultraconservadores europeus, como Tino Chrupalla, da Alternativa para a Alemanha (AfD); o espanhol Santiago Abascal, da VOX; e o ultraliberal britânico anti-União Europeia Nigel Farage também estiveram em Washington. O ex-presidente Jair Bolsonaro, impedido de viajar por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi representado por sua esposa, Michelle, e pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), seu filho.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não foi convidado para a inauguração. Na reunião ministerial desta segunda-feira, ele soltou os cabelos e disse que “não quer briga” com o novo presidente norte-americano. “Trump foi eleito para governar os EUA e eu, como presidente do Brasil, espero que ele faça uma gestão frutífera, que o povo americano melhore e que os americanos continuem a ser o parceiro histórico do Brasil”, declarou. . A embaixadora brasileira em Washington, Maria Luiza Viotti, representou o governo brasileiro.
O retorno de Trump à Casa Branca deixou a oposição no Brasil eufórica. O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), avalia que sua posse coincide com uma mudança na correlação de forças por aqui, o que deixa o governo mais fraco. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (PR), postou em suas redes sociais um vídeo usando um boné com o slogan de Trump, Make America grande novamente. Quem mais comemora é o ex-presidente Bolsonaro, que redobrou as esperanças de concorrer à presidência em 2026, apesar de inelegível.
A tomada de posse de Trump dá início a um novo ciclo para a economia mundial, cujas consequências ainda são imponderáveis. Instituições como a OMC (Organização Mundial do Comércio), o FMI (Fundo Monetário Internacional) e organizações multilaterais, fundamentais para países emergentes como o Brasil, tendem a ser protegidas ou ignoradas por Trump.
Lula já tinha muitos problemas antes da posse de Trump, que agora ganharão outra dimensão. Nesta segunda-feira, na reunião ministerial, quando cobrou mais entregas de sua equipe, disse que as eleições de 2026 já começaram. Seu maior problema não é a ligação entre Trump e a oposição, é a inflação e a política fiscal, que se alimentam e geram desconfiança no mercado e na população, como ficou evidente na crise do Pix.
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