A Polícia Federal (PF) mudou de posicionamento e decidiu indiciar o empresário Roberto Montovani, sua esposa, Renata Munrão, e o genro do casal, Alex Zanatta, na investigação das hostilidades contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Federal Tribunal (STF), no aeroporto de Roma.
A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo entrou em contato com a defesa, mas ainda não havia se manifestado até a publicação deste texto. O espaço permanece aberto.
Para a PF, os três cometeram o crime de calúnia ao acusar o ministro de fraudar as eleições de 2022. A Polícia Federal cita como agravante o fato de as infrações terem sido dirigidas a um funcionário público, o que poderia endurecer a pena em caso de condenação.
Roberto Montovani também foi indiciado por dar um tapa na cara do filho de Alexandre de Moraes. A PF acusa o empresário do crime de insultá-lo com “violência ou atos de violência”.
Em depoimento à PF, Moraes afirmou que foi chamado de “criminoso, comprado e fraudador de urnas”.
A virada ocorre após uma mudança na condução da investigação. Um novo deputado assumiu o caso em abril.
A investigação foi conduzida inicialmente pelo delegado Hiroshi de Araújo Sakaki. Em fevereiro, ele encerrou o caso e não pediu o indiciamento da família, alegando que não foi possível apurar se houve troca de ofensas, pois as imagens das câmeras do aeroporto não têm som.
O delegado reconheceu que Roberto Montovani bateu no rosto do filho de Alexandre de Moraes, mas também não indiciou o empresário, por se tratar de um crime com menor potencial ofensivo e cometido fora do país.
Após a PF apresentar o relatório final da investigação, a Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou novo interrogatório de Roberto Montovani para saber se ele manipulou o vídeo da altercação e divulgou uma versão editada no WhatsApp. Na prática, o pedido reabriu a investigação.
Hiroshi Sakaki então pediu para abandonar o caso, que foi redistribuído ao delegado Thiago Severo de Rezende, coordenador de contrainteligência da PF. É ele quem assina o parecer enviado nesta segunda ao STF.
“Ressalta-se que o objetivo desta investigação não é apurar a posição política ou expressão de opinião de ninguém”, inicia o documento.
Thiago Rezende afirma que, mesmo que o áudio das filmagens não esteja disponível, “todas as circunstâncias que envolveram o incidente estão de acordo com a versão apresentada pelos agressores”.
“A versão das vítimas não é em nenhum momento desmentida pelas imagens. Mesmo que as palavras proferidas não possam ser ouvidas, nada nas imagens contradiz o que foi dito em uníssono pelos agredidos. ‘ são basicamente o cerne da questão e devem ter sempre pesos diferentes, ainda mais quando as demais evidências coletadas apontam na mesma direção.”
O delegado afirma ainda que os ataques vão ao encontro de publicações encontradas no celular do empresário, o que em sua avaliação confirma a “causa para agir”.
“As ações condizem com as palavras atribuídas a ele e sua família no aeroporto”, afirma a PF. “A opinião política de cada cidadão, bem como a sua impressão sobre a forma como o país está a ser gerido, é livre. No entanto, o desacordo não dá a nenhuma pessoa o direito de atacar outra. se autoriza a agressão, o ridículo e a propagação de mentiras contra qualquer pessoa”.
Cabe à PGR avaliar se existem ou não elementos para apresentar uma denúncia.
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