O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator da ação sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 2018, votou, nesta terça-feira (18/6), pela titulação de cinco suspeitos de réus pelo crime. Entre eles, os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão e o ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa.
Segundo o magistrado, foram atendidos todos os requisitos legais para tornar os envolvidos réus, o que vai além da denúncia do ex-policial militar Ronnie Lessa.
“Há a presença de justa causa para recebimento da denúncia porque a colaboração premiada foi corroborada por outros elementos probatórios que fornecem provas suficientes de autoria necessárias para este momento de cognição sumária do recebimento da denúncia”, disse.
Em seu voto, Moraes negou a tese da defesa de Rivaldo Barbosa de que ele deveria ser julgado na justiça comum. O crime permanece sob a jurisdição do Supremo Tribunal Federal devido ao envolvimento de figuras públicas com jurisdição privilegiada.
O magistrado também julgou improcedente o pedido de suspeição de Flávio Dino —que era ministro da Justiça quando a Polícia Federal decidiu iniciar a investigação do caso, em 2023.
Agora, os ministros Cármen Lúcia, Luiz Fux, Cristiano Zanin e Flávio Dino — integrantes da Primeira Turma do Tribunal — votam se seguem a posição de Moraes. Na sessão de hoje, o vice-procurador-geral da República, Luiz Augusto Santos Lima, defendeu a responsabilização de cinco réus na organização do crime. Os advogados de defesa dos presos também se manifestaram.
Além dos irmãos Brazão e Rivaldo Barbosa, mais dois réus serão julgados. Ronald Paulo de Alves Pereira, conhecido como Major Ronald, foi acusado do homicídio. Segundo a denúncia, ele monitorava a rotina do vereador antes do crime. Robson Calixto Fonseca, conhecido como Peixe, foi acusado de organização criminosa. Ex-assessor de Domingos Brazão no Tribunal de Contas do Estado (TCE), ele é suspeito de ter fornecido a arma utilizada no crime.
Entre as qualificadoras, a Procuradoria-Geral da República (PGR) menciona que os crimes foram cometidos com promessa de recompensa, por motivo vil, com emboscada e utilização de recurso que dificultou a defesa das vítimas e de certa forma que resultou em perigo comum.
O subprocurador Luiz Augusto Santos Lima destacou que há indícios da ligação dos irmãos Brazão com atividades criminosas relacionadas a milícias e “grilagem de terras”.
“Chiquinho e Domingos formaram alianças com grupos milicianos do Rio de Janeiro, desde a primeira década dos anos 2000. Notamos também a perniciosa relação dinâmica entre a milícia e os candidatos a cargos eletivos naquela região. Uma vez eleitos, esses aliados passam a defender os interesses desses criminosos”, afirmou.
“Com base na denúncia, há comprovação da existência de crimes de homicídio por meio de laudos periciais, bem como do crime de organização criminosa. Há provas suficientes de autoria”, acrescentou.
Motivação
No início do mês, o ministro Alexandre de Moraes retirou parte do sigilo do acordo de delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa —assassino confesso de Marielle Franco e Anderson Gomes. À Polícia Federal, ele reiterou os nomes dos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão como mandantes do crime e afirmou que a execução foi motivada para proteger os interesses econômicos das milícias.
A dupla teria contado com o apoio do delegado Rivaldo Barbosa. O Ministério Público sustenta que ele foi o responsável por dificultar as investigações, usando seu cargo de comando na Polícia Civil do Rio de Janeiro para garantir que os mandantes ficariam impunes.
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