Por Célio Sérgio — O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, reúne autoridades na capital maranhense nesta sexta-feira (21) em cerimônia para anunciar a implantação do corredor de transporte na Avenida Litorânea e do pólo receptor de energia renovável na Graça Aranha. A ordem de serviço para a ampliação do Berço 98 (área especializada em granéis sólidos vegetais) e a renovação do contrato de delegação do Porto do Itaqui também serão divulgadas na solenidade.
O presidente falou com exclusividade O Imparcial sobre a importância dessas ações, dos projetos políticos, do Partido dos Trabalhadores e das eleições de 2024. Confira a entrevista:
O Imparcial – O crescimento do PIB é um dos principais indicadores da recuperação económica. Relatórios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que a economia brasileira está no caminho da recuperação, mas ainda enfrenta vários obstáculos, incluindo a necessidade de reformas estruturais e de emprego. Nesse cenário, como você analisa a importância do Porto do Itaqui como equipamento estratégico para ações e investimentos governamentais?
Luiz Inácio Lula da Silva – O Brasil vem recuperando o emprego, crescendo acima das expectativas. Também estamos retomando as obras de infraestrutura com o PAC – são 1,7 trilhão de investimentos em todos os estados – e aproveitando as oportunidades que se abrem para o Brasil na transição energética. O Porto do Itaqui tem sido uma grande porta de entrada para as exportações brasileiras e para o desenvolvimento do Maranhão, ainda mais com a integração com a Ferrovia Norte-Sul. Estamos ampliando o relacionamento e o comércio do Brasil com o mundo, e o Porto do Itaqui é um dos lugares onde isso se transforma em riqueza, em emprego, onde podemos ver esse crescimento acontecer, liberar nossa produção e receber importações.
OI – O setor externo do Brasil se beneficiou de preços favoráveis de commodities, como soja e minério de ferro, mas enfrenta desafios devido à volatilidade dos mercados globais e às tensões comerciais internacionais. Como você vê a importância do Agro e da Mineração e do Porto do Itaqui para o seu comércio?
Lula – É inegável a importância da nossa agricultura, que tem muita, muita tecnologia envolvida, e da mineração para a balança comercial. Já abrimos 145 mercados para produtos de outros países e em 2023 criamos o maior Plano Safra da história, no valor de 435 bilhões de reais. A indústria de petróleo e gás também tem sido importante.
O mercado internacional está otimista em relação ao Brasil. Queremos diversificar o destino das nossas exportações e exportar cada vez mais produtos transformados e não apenas matérias-primas. Queremos avançar na produção de derivados de petróleo, como fertilizantes. E reforçar a nossa indústria siderúrgica para que possamos exportar mais do que minério de ferro.
OI – O Brasil continua atraindo investimentos estrangeiros, especialmente no setor de infraestrutura e energias renováveis. No entanto, o mercado ainda vê presentes instabilidade política e incertezas económicas, o que poderá afectar estes fluxos de investimento. Quais são os planos para acalmar o mercado internacional neste momento?
Lula – O mercado internacional está calmo e otimista em relação ao Brasil. No ano passado, nos tornamos o segundo maior destino de investimento estrangeiro direto no mundo. Isto não pode ser confundido com movimentos especulativos. Apenas duas pessoas governaram o Brasil por mais tempo do que eu: Dom Pedro II e Getúlio Vargas. Tenho dez anos de experiência como presidente, já vi nervosismo e especulações antes, e eles passam, porque o Brasil tem uma economia sólida, com exportações fortes, reservas internacionais importantes e inflação controlada. E tudo isso gerando mais empregos formais e mais renda para as famílias.
OI – A taxa de desemprego tem apresentado tendência decrescente, mas ainda permanece elevada. A recuperação do mercado de trabalho é lenta. No Maranhão, a população é muito dependente de programas de assistência social como o Bolsa Família. Há dificuldades para encontrar empregos formais. O que o maranhense pode esperar em termos de investimentos e ações do governo federal para reverter esse quadro?
Lula – Retomamos o planejamento de obras e desenvolvimento, que estava abandonado no Brasil. Criamos o novo Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, que é um programa que foi criado com as obras solicitadas pelo Estado e pelas prefeituras. No caso do Maranhão, o PAC garantirá investimentos da ordem de 94 bilhões, em rodovias, habitação, com a devolução do Minha Casa Minha Vida, e linhas de transmissão de energia. A duplicação da BR-010, de Imperatriz a Açailândia, já está em andamento, assim como a duplicação da BR-135. Tudo isto significa emprego e rendimento, mais empregos, a economia avançando. Os governos do Nordeste, que foram abandonados no governo anterior e mesmo assim fizeram um trabalho muito forte, agora vão avançar muito mais com um governo federal que é parceiro e não inimigo do Nordeste.
OI – O governo tem buscado equilibrar as contas públicas, mas enfrenta dificuldades devido à elevada dívida pública e à pressão para aumentar os gastos com programas sociais e infraestrutura. A reforma tributária e outras medidas de austeridade são temas de intenso debate no Congresso. Como espera equilibrar este embate com o legislativo que impôs algumas derrotas ao governo?
Lula – Aprovamos os principais projetos que enviamos ao Congresso. Aprovamos a PEC da transição, antes mesmo de tomar posse, o marco fiscal e a reforma tributária, que ninguém achava possível. Estamos fazendo isso conversando com todos, como disse na campanha, com credibilidade, estabilidade e previsibilidade. Hoje o Brasil tem um grande número de isenções e subsídios, além de alguns abusos de benefícios, que precisam ser analisados e estamos fazendo isso. No caso das isenções, houve decisão do Supremo de que o Legislativo, para estendê-las, deveria encontrar uma fonte de compensação. Então, como eles não aceitaram a proposta do Ministério da Fazenda, cabe agora ao Congresso, e estamos conversando com eles sobre isso, encontrar uma alternativa neste caso.
OI – Nas eleições de 2022, o PT teve atuação relevante no Maranhão pela sua vitória. O partido apoiou a candidatura de Carlos Brandão (PSB), eleito governador. E para o cargo de senador, o PT apoiou o ex-governador Flávio Dino, também do PSB, eleito com votação expressiva. Dino teve papel significativo na política estadual e sua eleição reforçou a presença do PT na esfera política maranhense.
Lula – Apesar disso, o PT do estado não consegue citar nomes nas disputas majoritárias. Qual estratégia é necessária para o PT maranhense reverter essa situação? O PT é um partido maduro, que sabe que precisa formar e atrair pessoal qualificado e tem maturidade suficiente para saber que, às vezes, é melhor formar uma aliança do que necessariamente lançar um candidato. Então, em todo o país, estamos debatendo as candidaturas em 2024 com muita maturidade.
OI – Das 217 prefeituras do Maranhão, apenas uma está sob o comando do PT. Apesar disso, o partido mantém uma base importante em diversas regiões e municípios do Estado. Você obteve 71% dos votos do povo maranhense quando foi eleito. O seu apoio é visto como de grande importância para a eleição dos pré-candidatos do partido. Como o senhor/parte pretende atuar nesse sentido no Maranhão?
Lula – Em todo o país agirei com muito respeito pelo cargo que ocupo, fora do horário de trabalho e com responsabilidade. Conversaremos com a direção nacional, com a direção estadual do partido e aliados e veremos caso a caso.
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