Pesquisa Datafolha divulgada na semana passada trouxe alívio — pequeno — ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi a primeira pesquisa que interrompeu a tendência de queda de sua popularidade, registrada desde dezembro do ano passado. Os índices apresentaram leve melhora em relação ao levantamento anterior, divulgado em maio, mas dentro da margem de erro.
Uma série de notícias positivas na economia e uma mudança na estratégia de comunicação do Planalto e do próprio presidente influenciaram o resultado. O governo também trabalhou para fazer anúncios envolvendo alguns dos temas que deixaram a população insatisfeita, como preços de energia e alimentos.
No estudo do Instituto Datafolha, o índice de pessoas que avaliam o governo como bom ou excelente subiu de 35%, em maio, para 36%. Aqueles que veem a atual gestão como ruim ou péssima caíram de 33% para 31%. A avaliação regular passou de 30% para 31%. Todas as variações ocorreram dentro da margem de erro de dois pontos percentuais. Os questionários foram aplicados a 2.008 eleitores, em 113 cidades, entre os dias 4 e 13 de junho.
Os resultados na área econômica também ficaram estáveis: 40% acreditam que o cenário vai melhorar, 28% que vai piorar e 27% que vai continuar igual. O professor de ciência política da UDF André Rosa e o professor de MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV) Sérgio Praça avaliam que a pesquisa não pode ser tomada como prova de melhora na popularidade de Lula, mas indica que o governo está colhendo os resultados de algumas mudanças estratégicas. Devemos aguardar outras pesquisas nacionais, como as que deverão ser publicadas em julho pelos institutos Quaest e Ipec.
Peso no bolso
Em relação aos preços dos alimentos, um dos fatores que mais afetam o bolso da população, Lula convocou reuniões com seus ministros em março e exigiu medidas. Ele ouviu de seus assessores — especialmente do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro — que a fome era sazonal, influenciada por eventos extremos no sul do Brasil, e que em breve diminuiria. Na verdade, houve um alívio na maioria dos itens consumidos pela população desde então. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio, divulgado no início deste mês, apesar do aumento de 0,62% no preço geral de alimentos e bebidas, houve desaceleração nos itens consumidos em casa, de 0,81% em abril para 0,66% em maio.
Lula também agiu para reduzir o preço da energia elétrica. Em abril, no Planalto, o presidente assinou uma medida provisória (MP) que pode reduzir a conta de luz em até 4,5% este ano. Em relação aos preços dos combustíveis, porém, não houve movimentação significativa por parte do governo. A turbulência na Petrobras, que culminou na recente troca de comando da estatal, pode ter influenciado a inação. Embora os índices de preços destes três itens estratégicos não tenham apresentado queda, o esforço feito para “mostrar serviço” contribuiu para estabilizar a avaliação.
Comunicação
Na comunicação do governo, Lula pediu aos seus ministros uma melhor divulgação dos projetos e entregas de pastas. A chefe da Saúde, Nísia Trindade, seguiu as orientações durante a epidemia de dengue e passou a divulgar à mídia atualizações periódicas sobre a situação da doença. O Planalto também foi palco de uma série de coletivas de imprensa temáticas, nas quais o presidente assistiu a apresentações feitas por ministros sobre a atuação do governo, mas evitou fazer declarações para não ofuscar seus auxiliares.
Os discursos do presidente também sofreram ajustes. Ele foi instruído a não mencionar o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro e moderou as críticas à campanha militar de Israel na Faixa de Gaza. O discurso em que comparou as ações israelenses com o Holocausto foi mal recebido por parte do eleitorado e abriu uma crise diplomática com o governo israelense.
O presidente passou a tocar menos no assunto, e tenta deixar claro que suas críticas são dirigidas ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, e não ao Estado de Israel. Adotou também uma postura mais discreta relativamente à guerra entre a Rússia e a Ucrânia, embora não tenha deixado de defender uma solução negociada para a paz na Europa de Leste.
“Quando Lula fala sobre temas como Israel e a guerra na Ucrânia, ele pode ser visto como briguento, como alguém que dá sua opinião sobre coisas que não deveria”, disse o professor Praça.
“Ficou claro que ele adotou uma estratégia mais neutra em relação às questões diplomáticas. Um movimento para evitar conflitos bilaterais e multilaterais. “, confirmou André Rosa.
Com o lançamento da campanha Fé no Brasil, em maio, o presidente também se mobilizou para tentar melhorar sua aprovação entre os evangélicos, um dos grupos mais avessos ao petista. Segundo o Datafolha, é rejeitado por 44% dos protestantes. Lula também aumentou o número de citações bíblicas ou religiosas em seus discursos, falando com mais frequência sobre Deus, fé e milagres.
Sérgio Praça disse ver uma comunicação mais organizada do governo. “O que pode ser mau é uma divisão de responsabilidades, entre a (primeira-dama) Janja e o (Ricardo) Stuckert (fotógrafo oficial da Presidência), e com a Secretaria de Comunicação Social. dentro do PT e do governo”, destacou. O analista, porém, critica algumas das estratégias de comunicação adotadas nas redes, como ataques e divulgação de fake news, citando como exemplo o deputado federal André Janones (Avante-MG). “O método bolsonarista foi amplamente adotado pelo PT nas redes. Infelizmente esse método veio para ficar, não vejo como mudar isso”, lamentou.
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