Todos os governos normais procuram a estabilidade económica. Em momentos de instabilidade, os principais preços da economia tornam-se incertos e tanto as empresas como as pessoas suspendem ou adiam as suas decisões de investimento e consumo, o que naturalmente reduz o ritmo da atividade e do crescimento futuro. Portanto, qualquer que seja a orientação política do governo, a primeira missão de um governante é contribuir, através das palavras ou do silêncio, para garantir o mais alto nível possível de estabilidade ou, na linguagem do mercado, a ancoragem de expectativas.
Algumas fontes de instabilidade estão fora do controlo dos governos, como as crises financeiras internacionais, os conflitos armados e os acontecimentos climáticos. Lidar com estas crises já exige muita competência e recursos. Mesmo para quem gosta de emoção, não há necessidade de provocar novas causas de imprevisibilidade e incerteza a nível económico. Portanto, os últimos movimentos e discursos do nosso presidente são cada vez mais incompreensíveis. Por cansaço ou incompreensão, cada palavra de Lula acrescenta mais incerteza e mais pessimismo à economia, sem qualquer propósito.
Consideremos o seu antagonismo com o Banco Central. Ele não pode aceitar o fato de ter que conviver dois anos com um presidente do Banco Central indicado pelo seu antecessor, quando essa é exatamente a ideia de autonomia. As políticas de juros e de estabilidade não são questões a serem decididas em praça pública. Seu sucessor também terá que conviver com dirigentes por ele indicados por dois anos. Ao chamar o atual chefe do Bacen de adversário político, comete, no mínimo, uma injustiça, por não lembrar que, no ano de 2022, em pleno processo eleitoral, esse mesmo Bacen elevou os juros de 9,25% para 13,75%, enquanto de 2023 até agora as taxas de juros foram reduzidas de 13,75% para 10,50%. Qual é o sentido de toda essa arenga se não for para causar tumulto e procurar culpados?
Ninguém gosta de taxas de juro elevadas, mas reduzi-las através de comícios seria o pior caminho. Afinal, estávamos livres da inflação graças ao Plano Real, que já completa 30 anos, aprovado pelo Congresso apesar da oposição e dos discursos contrários do PT e de Lula. Esta é a nossa maior conquista e o maior avanço na proteção da renda da população mais pobre. Colocar isso em risco é irresponsável.
As taxas de juros são altas por vários motivos e um deles, e não o único, é a questão tributária. O desequilíbrio nas contas públicas não é hoje um facto. Ela vem de muito tempo atrás e foi agravada pela Constituição de 1988 e pelos governos petistas de 2010 a 2016. O atual governo Lula tentou equilibrar as coisas aumentando os impostos. Esse caminho chegou ao limite e agora é preciso recorrer a alguma redução de despesas.
Por uma razão difícil de compreender, Lula, em oposição à sua própria equipa económica, adoptou uma atitude defensiva, até mesmo negacionista, nesta questão. Todos sabemos que os políticos, quando encurralados, não gostam de chamar as coisas pelos seus próprios nomes, mas, ao dizer que a maior parte dos gastos do nosso Orçamento não são despesas, mas sim investimentos, Lula se superou, porque, de todos os gastos em na União, menos de 2% são realmente investimentos.
Cortar as despesas correntes da União não é apenas um imperativo económico, mas sobretudo um acto de justiça, pois todos sabemos como o Orçamento é capturado por interesses que não são os da maioria da população. Se continuarmos com os actuais desequilíbrios, as taxas de juro permanecerão elevadas e a dívida crescente pressionará a inflação e prejudicará o crescimento.
O que mais impressiona nas posições de Lula em relação ao Orçamento é que sua oposição aos cortes é praticamente desnecessária, pois já existe uma coalizão poderosa para manter as despesas públicas como estão. Talvez o problema fiscal não causasse tanta ansiedade se não fossem os discursos do presidente. A história política ensina-nos que o regresso dos políticos ao poder é quase sempre uma maldição. Mas os esforços de Lula para desestabilizar o seu novo governo permanecerão um mistério por muito tempo.
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