Júlia Moita*
Estudo que alia tecnologia e impressão tridimensional melhora padrões de resistência e durabilidade de próteses mandibulares, trazendo qualidade de vida a pacientes com fraturas não reparadas, necrose vascular, doenças congênitas, doenças inflamatórias graves e degenerativas. Realizada na Universidade de Brasília (UnB), a nova tecnologia apresenta maior durabilidade, aplicabilidade e inovação. A futura publicação faz parte de um projeto guarda-chuva que viabilizará diversas linhas de pesquisa.
Próteses faciais são implantes, placas ou parafusos utilizados para tratar diversos tipos de patologias, como traumas, fraturas e até substituições da articulação temporomandibular. Porém, são tecnologias que apresentam limitações, pois duram cerca de 15 anos, necessitando de substituição ou troca.
Um grupo de pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (IB/UnB) e do Instituto de Química (IQ/UnB) registrou recentemente uma patente em parceria com a empresa CPMH, que desenvolve soluções cirúrgicas, trazendo inovação para esses dispositivos. A tecnologia é resultado de um estudo realizado pelo doutorando em biologia animal Thyago Pacheco, que envolve o uso de nanopartículas de grafeno para melhorar as propriedades mecânicas e de resistência de próteses faciais.
O líder da pesquisa explica que as próteses convencionais utilizam principalmente um material comercial de polietileno de ultra-alto peso molecular, que é “altamente resistente e utilizado” em coletes à prova de balas, por exemplo. “Apesar da resistência, esse material pode perder resistência mecânica”, disse.
Motivado pela tentativa de solucionar esse problema e outros obstáculos, como falhas e desgastes em próteses articulares, Pacheco realizou os primeiros testes com óxido de grafeno, em diferentes níveis de complexidade, resultando no aumento da resistência, durabilidade e customização do prótese.
“Todos os testes tiveram resultados positivos, com sucesso na incorporação de nanopartículas de grafeno ao material comercial, boa aceitabilidade biológica, além de melhores características de propriedades mecânicas”, destaca o doutorando. Uma das principais vantagens alcançadas foi o aumento do tempo de uso da prótese.
Os testes foram realizados em ambientes laboratoriais controlados. “Isso é uma limitação, pois ainda precisamos confirmar os resultados com os pacientes implantados”, reconhece.
Versatilidade
Os pesquisadores entendem que a perda de parte da funcionalidade da têmpora, articulação que conecta o osso da mandíbula ao osso da cabeça, pode ocorrer por diversos motivos, incluindo doenças degenerativas, como artrite e osteoartrite ou fraturas. “Essa região é que faz o movimento de abrir e fechar a boca, por exemplo, permitindo atividades como mastigar, falar e cantar. A prótese desenvolvida pode ser utilizada quando essas funções são perdidas”, explica Pacheco.
Para o pesquisador-chefe, o principal ganho da pesquisa é o aumento do tempo de uso da prótese. “A peça produzida atualmente pela indústria é feita de poliestireno de alto peso molecular, mas tem um grande problema, pois sua durabilidade gira em torno de 15 anos. Depois precisa ser substituída”, comenta. A durabilidade exata da prótese em estudo será determinada numa etapa posterior da pesquisa, porém, é certo dizer que será superior às disponíveis no mercado.
O médico Julian Machado, chefe da ortopedia e cirurgião ortopédico do Hospital Santa Lúcia, de Brasília, avalia a tecnologia como multifuncional, pois pode auxiliar na “restauração da fisionomia, sustentação do globo ocular, cirurgias ortognáticas ou próteses de articulação temporomandibular”.
“Existem no mercado dispositivos semelhantes à prótese em estudo, mas não com introdução de grafeno”, destaca o ortopedista. “A adição desse elemento reduz a espessura e o peso do aparelho”, acrescenta.
A tecnologia foi desenvolvida com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa (FAP) do Distrito Federal.
*Estagiário sob supervisão de Renata Giraldi
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