A tecnologia tem sido uma alternativa para ajudar pessoas com deficiência ou amputações. Mais uma prova disso foi apresentada em estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) na última segunda-feira (1): uma perna biônica controlada pelo cérebro, que permite caminhar, subir escadas e superar obstáculos com mais facilidade.
Os sete pacientes que participaram do estudo foram submetidos a uma cirurgia que reconecta os músculos do membro residual, permitindo que recebam feedback “proprioceptivo” sobre a prótese.
“Ninguém foi capaz de demonstrar este nível de controlo cerebral que produz o caminhar natural, onde o sistema nervoso humano controla o movimento, e não um algoritmo de controlo robótico”, diz Hugh Herr, professor do MIT e autor do novo estudo.
O artigo diz que os pacientes também sentiram menos dor e menos atrofia muscular após essa cirurgia, chamada de interface mioneural agonista-antagonista.
Conexão muscular
O que acontece: a maioria dos movimentos dos membros é controlada por pares de músculos que se revezam no alongamento e na contração. Durante uma amputação, as interações desses músculos são interrompidas.
Neste novo método, em vez de interromper as interações musculares, os médicos conectam as duas extremidades dos músculos para que ainda se comuniquem dinamicamente entre si.
“Com o procedimento, tentamos conectar os agonistas nativos aos antagonistas nativos de forma fisiológica, na maior medida possível, para que, após a amputação, a pessoa possa movimentar todo o seu membro fantasma com níveis fisiológicos de propriocepção e amplitude de movimento”, diz Herr, em comunicado do MIT.
A equipe descobriu que esse feedback sensorial se traduz em uma capacidade suave e quase natural de caminhar e contornar obstáculos.
“Por causa da interface neuroprotética, conseguimos aumentar essa sinalização neural preservando o máximo que podíamos. Isto foi capaz de restaurar a capacidade neural de uma pessoa para controlar contínua e diretamente toda a marcha, em diferentes velocidades de caminhada, escadas, declives, até mesmo passando por obstáculos”, acrescenta Hyungeun Song, que também assinou o estudo.
Nos testes que deram origem ao artigo, os pacientes utilizaram uma prótese com eletrodos capazes de detectar sinais eletromiográficos (EMG) dos músculos tibial anterior e gastrocnêmio. Esses sinais são alimentados em um controlador robótico que ajuda o protético a calcular quanto dobrar o tornozelo e quanta força fornecer.
Perna biônica eficaz
As próteses foram testadas em diversas situações: caminhar em terreno plano, subir morro, descer rampa, subir e descer escadas e caminhar em superfície com obstáculos.
Em todas as situações, as pessoas com interface neuroprotética AMI conseguiram andar quase na mesma velocidade que as pessoas sem amputações e contornar obstáculos com mais facilidade. Eles também mostraram movimentos mais naturais.
Considerando dados da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (Sbacv) — mais de 245 mil amputações no Brasil em 2012 e 2021 e uma média diária de 79,1 amputações, significa que, a cada hora, três brasileiros são amputados — surge o novo sistema necessário e relevante para a medicina no futuro. Mas ainda há um longo caminho a percorrer até que isso se torne uma realidade para estes pacientes.
Fonte: Nature Medicine, Instituto de Tecnologia de Massachusetts
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