Aquecimento global torna turbulências em voos mais frequentes e severas

O aquecimento global atingiu limites sem precedentes e poderá ultrapassar 1,5º C pela primeira vez até 2027, de acordo com um relatório recente da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Os efeitos deste aumento de temperatura têm causado preocupação em diversas áreas, inclusive na aviação.

Pesquisadores de todo o mundo coletaram dados que comprovam não só o aumento da frequência de turbulência durante os voos, mas também a intensidade com que ocorreu o fenômeno que causa terror entre os passageiros desde que as mudanças climáticas se tornaram mais pronunciadas.

A IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo) classifica a turbulência em três tipos distintos: leve, moderada e severa. E, de acordo com o professor Paul Williams, cientista atmosférico da Universidade de Reading, o aquecimento global tornou a turbulência cada vez mais severa.

O estudo liderado por Williams compilou informações e detectou que houve um aumento de 55% no tempo de turbulência anual entre 1979 e 2020, em apenas um ponto específico, acima do Atlântico Norte, uma das rotas de voo mais movimentadas do mundo. Para o cientista, isso foi causado diretamente pelo aumento das emissões de carbono, que influenciam o chamado cisalhamento do vento.

Turbulência já causou morte em voo

A preocupação com a frequência crescente de turbulências severas que ocorrem nos voos também cresceu depois de um britânico de 73 anos ter morrido e outros terem ficado gravemente feridos durante um voo da Singapore Airlines entre Londres e Singapura, em Maio deste ano.

De acordo com relatórios das autoridades sobre o incidente, o Boeing 777 despencou 178 pés (cerca de 55 metros) em apenas 4 segundos. A violência da queda repentina jogou alguns passageiros contra o teto e a consequência foi a morte de uma pessoa e a internação de outras 71 que estavam a bordo.

Guy Gratton, professor associado de aviação e meio ambiente na Universidade de Cranfield, aproveitou o caso mais grave envolvendo turbulência severa para reforçar o alerta sobre os perigos do aquecimento global.

Segundo o especialista, o aumento da temperatura tornou mais frequente o aquecimento da troposfera, camada mais baixa da atmosfera terrestre, e o resfriamento da estratosfera, que fica acima. Essa mudança de energia entre as duas camadas é justamente o que faz com que as correntes de jato, que são de turbulência, sejam mais fortes e severas.

A turbulência pode derrubar um avião?

Apesar do aumento da frequência e intensidade da turbulência durante os voos, não há risco do fenômeno, por mais forte que seja, derrubar um avião. Foi o que garantiu Patrick Smith, em seu site especializado askthepilot.com (pergunte ao piloto, em tradução).

“O avião é feito para suportar uma grande carga de força e estresse, e turbulências fortes o suficiente para realmente causar algum dano à aeronave. É algo que nem o piloto mais experiente experimentará na vida, mas é isso. projetado para resistir a esse e outros tipos de fenômenos meteorológicos, como chuvas e raios”, finalizou.