Desde o dia 7 de agosto, o Mirante de Arte Mural Amazônica, criado pelo Circuito Urbano de Arte – CURA AMAZÔNIA, em 2023, e com vista para o Largo São Sebastião, bairro Centro, zona sul de Manaus, recebe os artistas Duhigó e Rember Yahuarcani, que pintar as empenas dos edifícios Mônaco e Monte Carlo, respectivamente, localizados na Avenida Getúlio Vargas. As obras ficarão prontas no dia 17 de agosto, quando estreiam na cidade.
Com patrocínio máster da Shell, o CURA DA AMAZÔNIA convida a capital amazonense a vivenciar, ao longo de 11 dias, mais uma inspiradora transformação da paisagem. Responsável pela empena do prédio Mônaco, Duhigó, natural da vila de Paricachoeira, município de São Gabriel da Cachoeira (852 quilômetros de Manaus), é filha do pai Tukano e da mãe Dessana.
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Em Manaus desde 1995, Duhigó concluiu o curso de Pintura na Escola de Artes do Instituto Dirson Costa de Arte e Cultura da Amazônia, em 2005, e se tornou o primeiro indígena da etnia Tukano a se profissionalizar nas artes visuais. Desde então, em suas obras, busca expressar a memória de seu povo e de seus antepassados para que a cultura Tukano não desapareça.
O CURA é um dos maiores festivais de arte pública do Brasil, com oito edições no total – sete em Belo Horizonte e uma em Manaus, com 26 murais em empenas já realizados e 4 mirantes de arte urbana. Criado em 2017, apresentou à capital mineira seu primeiro circuito de pintura de empena e o primeiro mirante de arte urbana do mundo. Seu acervo apresenta os murais mais altos pintados por mulheres da América Latina e quatro murais de artistas indígenas.
Importância
Em 2018, tornou-se a primeira artista tukano a participar da Bienal Naifs do Brasil, a mais importante da América Latina, onde também expôs seu trabalho em 2020. Em 2019 e 2020, também participou da exposição itinerante ‘VaiVém’, que circulou pelo Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, Belo Horizonte e Distrito Federal. Com a obra ‘Nep? Arquép? (“Rede Macaco”, na língua Tukano), ela narra uma cena de sua infância que ficou em sua memória: o ritual de nascimento de um bebê Tukano.
A obra foi adquirida por colecionadores, que a doaram ao Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, Masp. Assim, ela se torna a primeira mulher indígena amazonense a integrar o acervo do museu mais importante da América Latina e do Hemisfério Sul. Em 2022, Duhigó entra para o acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, com a obra ‘Máscara do Ritual I’, e em 2024, participará do Pavilhão Boliviano na Bienal de Veneza, o mais tradicional e importante evento de artes visuais no mundo.
Quando questionada sobre o poder de sua arte, ela recorre a seus ancestrais. “Na minha vida busquei, através do meu espírito, lembranças dos meus antepassados. E o que peço é força para poder levar coisas boas para a nova geração. Minha arte é um canal para mostrar minha mente espiritual, a dos meus antepassados”, comenta.
Poder
Responsável pela empena do edifício Monte Carlo, Rember Yahuarcani nasceu em Pebas, distrito de Loreto, no Peru. Desde 2003, expõe individual e coletivamente em museus e galerias de arte da América Latina, América do Norte, Europa e Ásia e, em 2024, compôs a Bienal de Veneza, além de atuar como curador.
Ao chegar a esses espaços, potencializada por um movimento, uma corrente global de artistas, produtores, curadores e pensadores, a arte indígena tem sido uma poderosa ferramenta coletiva que propõe novos parâmetros para revisitar os cânones e possibilitar a reflexão sobre o que foram os últimos séculos de apropriação da estética, dos mitos, do conhecimento e da medicina.
Rember adere a essa tendência e faz da arte indígena seu espaço de autorrepresentação, o primeiro espaço, segundo ele, em que os indígenas podiam falar na primeira pessoa. O artista acredita que a arte, especialmente a pintura, permite a transmissão da voz dos antepassados, em cada palavra, gesto e traço. Em sua obra, são os ancestrais que falam na primeira pessoa. “Não há como convidar a estética se não falarmos de materiais e poderes invisíveis porque a arte indígena transporta o conhecimento dos nossos antepassados”, afirma.
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Artista autodidata, Rember nasceu em uma família de artistas, carregando a técnica e a visão de mundo de seus ancestrais. É na cosmologia Uitoto que encontra inspiração, especialmente nas cosmologias relacionadas com o clã Aymenú, ao qual pertence. “Meu trabalho é tudo que vejo na floresta.” Suas pinturas expressam a visão que a floresta oferece, seus mitos e histórias, onde todas as respostas podem ser encontradas. São conhecimentos vivos e em constante mudança, nos quais o material e o imaterial, o visível e o invisível, não estão separados.
Primeira edição – Manaus
Em sua estreia na cidade, em 2023, o CURA AMAZÔNIA solicitou autorização para entrar no território histórico do Largo São Sebastião, conjunto arquitetônico que abriga patrimônio brasileiro. Lá, semeou pensamentos e imagens germinantes com conhecimentos dos povos indígenas da Amazônia.
Ingressando no cenário da arte urbana local, o CURA, também em 2023, transformou duas empenas em murais de arte, com obras de artistas indígenas: Denilson Baniwa, natural de Barcelos (AM), e Olinda Silvano, do Peru. Trouxe também “Entidades”, instalação de Jaider Esbell de Roraima. Com eles, conhecimentos e mistérios habitaram o Largo São Sebastião.
Números
Segundo a organização CURA, ao longo dos dez dias de programação, em 2023, foram 790 metros quadrados de área pintada, e impactaram 10 mil pessoas por meio da promoção da arte e da cultura. Ainda segundo a organização do festival, foram contratadas diretamente 40 pessoas (produção, comunicação e pintura), sendo 75% profissionais de Manaus e o restante de Belo Horizonte (onde foi criado o CURA) e outras regiões.
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Durante os três dias de programação paralela, foram 15 horas de atividades, com oito atrações musicais locais, 15 expositores criativos, três rodas de conversa com 14 convidados – entre pesquisadores, artistas, ativistas, representantes do poder público e de festivais de arte urbana. – impactando diretamente mais de 1.500 pessoas.
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