No dia 31, Belo Horizonte comemorou 5 anos de reconhecimento e adesão o Rede de Cidades Criativas da UNESCOno segmento de Gastronomia. A designação de Belo Horizonte foi o reconhecimento de algo que começou muito antes da candidatura, muito antes da criação da Rede pela UNESCO em 2004.
Reconhecer Belo Horizonte pela sua gastronomia é algo que nós, Belo Horizontes, Minas Gerais, já fazemos e conhecemos há muito tempo. Berço do Festival Comida di Buteco e de vários outros festivais gastronômicos; berço de um dos principais mercados do mundo, o Mercado Central, que completou 95 anos; uma das primeiras cidades a ter uma política pública de segurança alimentar e nutricional; vitrine de cozinhas de todas as regiões do Estado de Minas Gerais; da hospitalidade à mesa; a cultura do bar; local onde se encontram os produtos de referência da gastronomia mineira, cachaça, café, doces diversos, queijos artesanais: que estão em vias de ter seu modo de fazer reconhecido como patrimônio imaterial e cultural da humanidade. E claro, o pão de queijo, uma paixão nacional, e porque não dizer, internacional? Mas, convenhamos, se não traduzirmos croassaint ou empanada, ecoando a cozinheira e chef Mariana Gontijo “Me recuso a traduzir pão de queijo!”
Brincadeiras à parte, a candidatura de Belo Horizonte à Rede foi um trabalho realizado a várias mãos, com dedicação de muitas entidades e instituições, mas, principalmente, de pessoas. Apaixonados pela gastronomia local, conhecedores, investigadores, gestores, empresários, etc., que dedicaram tempo, conhecimento, e claro, entusiasmo, para poder consolidar toda a história, projectos, políticas e iniciativas em documentos a enviar à UNESCO, e posteriormente, aos avaliadores da instituição máxima.
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A candidatura de Belo Horizonte ocorreu num momento em que a Rede, e sua existência, estava se popularizando no Brasil, o que fez de Belo Horizonte e das cidades brasileiras já participantes da Rede, referências em inovação, ambição e claro, cidades que confirmam sua atenção ao temas que envolvem a economia criativa.
Desde 2019, muita coisa aconteceu. Após o reconhecimento, o mundo entrou em uma pandemia que impactou diretamente as ações planejadas, e possíveis, para popularizar o título, celebrá-lo e, claro, ampliar cada vez mais o alcance da gastronomia da capital, e de todos os atores envolvidos. Com o objetivo de proporcionar, seja ao residente ou ao turista, experiências, aprendizagem e, desculpem o trocadilho, a oportunidade de saborear toda esta riqueza, na fonte.
Porém, os ganhos são muitos, a participação na Rede tem permitido que Belo Horizonte se projete ao lado de outras cidades, seja no segmento de gastronomia, seja nos outros seis: literatura, música, design, artesanato e arte popular, cinema e mídia. Isso significa relacionamento, troca de experiências, participação em eventos e realização de outros, além de disseminação de conhecimento. A experiência internacional levou a uma tentativa nacional de criação de redes locais que, além da ação da UNESCO, também reconheceram cidades brasileiras que destacaram seus setores criativos.
Alcançar o reconhecimento de uma entidade como a UNESCO não é simples, mantê-lo é um desafio ainda maior, pois exige iniciativas constantes, projetos, programas, sua implementação e mensuração, e toda a operação para dar luz às iniciativas e fazer com que sejam um fonte de orgulho e autoestima para os moradores, diferencial para empreendedores e apoio ao desenvolvimento territorial.
Por coincidência, na mesma semana em que Belo Horizonte comemora seu primeiro aniversário de cinco anos, o UNESCO lança nova chamada para novas cidades se candidatarem. O edital está aberto e recebe inscrições até 31 de janeiro de 2025, com previsão de divulgação dos resultados no final do primeiro semestre. Inicialmente podemos entender que o processo é relativamente rápido, porém, é importante entender que a proposta é de fato reconhecer cidades que já apresentam diferenças e considerar o setor criativo, agora em sua candidatura, de forma estratégica. Ou seja, a proposta não é iniciar um processo de valorização de determinado setor criativo, é apresentar e defender que ele já é valorizado, compartilhado e motivo de reconhecimento local, e que o selo Unesco amplia essa valorização e celebra todos o trabalho e os atores envolvidos.
Acredito que o próximo ciclo de candidaturas deverá receber um dos maiores números de cidades candidatas, porque, com o número crescente de cidades participantes, hoje são 350 em 100 países, a concorrência também é mais acirrada. No caso brasileiro, essa “concorrência” pode ser ainda maior, já que há uma restrição, da própria UNESCO, que indica que cada país só chega à avaliação final, com a indicação de 2 cidades, em dois segmentos criativos diferentes, o Pré-filtro é orientado pela UNESCO no Brasil.
Porém, mesmo que apenas duas cidades cheguem à candidatura, entendo que toda a experiência é extremamente rica. O processo de candidatura é uma forma de a cidade e todos os seus agentes locais, liderados pelas suas câmaras municipais, realizarem um exercício de introspecção. Todo o trabalho em torno da candidatura é um processo de troca, conhecimento, debate, que consegue elencar uma série de iniciativas para fortalecer ainda mais o setor criativo local.
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Ou seja, mesmo que a lista restrita de dois municípios não seja alcançada, ou mesmo que a seleção pela UNESCO não seja feita, todo este processo não deve ser visto como uma frustração ou uma perda de tempo e esforço, mas sim como uma oportunidade para aprendizado, crescimento e fortalecimento. Principalmente, é uma forma de ampliar a compreensão do país sobre a economia criativa e todas as oportunidades que cercam os setores criativos, como forma de pensar o desenvolvimento territorial, especialmente das cidades, para as próximas décadas. Pensar em cidades criativas, pensar em setores criativos, é pensar em formas de diversificar as matrizes econômicas das cidades brasileiras, sejam elas pequenas, médias ou grandes.
Então, se eu puder fazer uma sugestão, ou fazer uma provocação, para gestores municipais, ou lideranças locais ligadas aos setores criativos de suas cidades, quem sabe, talvez haja espaço para reflexão, e compreensão de todo o processo de candidatura, para avaliarem o pressuposto o desafio de olhar para dentro da própria cidade? Ela poderia ser uma candidata em potencial? Aos gestores que já estão planejando a iniciativa, a partir de agora Belo Horizonte Sigo a torcida e convido vocês a conhecerem as iniciativas locais, e continuo lamentando a decisão de apenas duas cidades brasileiras participarem da short list, se somos um país continental, apenas duas, é pouco para representar toda a nossa criatividade e diversidade, porém, quem sou eu na fila do pão de queijo para concorrer, certo?
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