A primeira vez que refleti sobre a possibilidade de estudar turismo foi quando tive a oportunidade de viajar para a Disney, como presente de aniversário de 15 anos. A “Tia Luíza”, a guia que liderou meu grupo, foi incrível! Ela conhecia as melhores lojas, tinha as melhores estratégias para esperar menos filas nos brinquedos e ainda fez uma festa surpresa no meu aniversário.
No dia da minha volta, indo para o aeroporto, rodeada de Minnies, Mickeys e outros bichinhos de pelúcia, lembro de ter conversado um pouco com ela sobre tudo isso. Foi quando ela disse que estava estudando relações internacionais e, nas férias, trabalhava como guia, primeiro curso que fez. Ela me explicou sobre a graduação em turismo, e eu, muito confiante, no auge dos meus recém-completos 15 anos, pela primeira vez decidi seguir outra carreira que não fosse a psicologia.
Turismo: profissão do futuro?
A vida seguiu, vieram os vestibulares, comecei os cursos de Psicologia e Turismo, o primeiro caiu no esquecimento, e o segundo, ganhando coração, dedicação e tempo. Lembro-me que numa das primeiras conversas que tivemos com um profissional do setor, ele começou por dizer: “O turismo é a profissão do futuro, você está à frente de muitos jovens ao escolher a carreira que está em alta”. E todos nós, calouros, acreditávamos firmemente nisso.
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O curso passou, a realidade chegou e hoje, dos 42 formados, acredito que cerca de 10 ainda estejam trabalhando. O que mudou? Afinal, o turismo era ou não a profissão do futuro? Alguns anos depois, em outra oportunidade, participei de um evento onde, por coincidência, reencontrei esse mesmo profissional, quase 20 anos depois, que, para minha surpresa, repetiu o mesmo discurso. E, de repente, reconheci que o turismo só será o futuro, quando for entendido como estratégico, relevante e necessário no presente.
Essa minha saudade vem do fato de, esta semana, estar comemorando minhas bodas de prata com o turismo: 22 anos de formada e 25 anos trabalhando no setor. E, ao refletir sobre esse tempo, vejo avanços, mas às vezes, uma certa frustração com temas que parecem retroceder.
Avanços no turismo
Avançamos quando temos diversidade de destinos, possibilidades de conexão e serviços diferenciados para os mais variados perfis de turistas. Quando a tecnologia apoia o desenvolvimento, o turista vivencia e facilita a vida dos empreendedores. Quando as notícias de turismo ocupam não só as secções de cultura dos jornais, mas também as páginas de economia e desenvolvimento. Quando fica mais fácil para os gestores públicos desenvolverem projetos e iniciativas, com apoio tanto do poder executivo quanto do legislativo. Quando a lei geral do turismo for revista e atualizada.
Avançamos quando o turismo começa a ocupar espaços estratégicos, como a agenda COP 29 realizada recentemente no Azerbaijão, e a dialogar com setores tradicionais, como energia, agricultura e transportes. Quando começamos a entender, e fortalecer, a realização de pesquisas e inteligência de dados em torno do turismo, como forma de planejar destinos, projetos, campanhas com maior segurança e técnica. Quando vemos as comunidades a beneficiar verdadeiramente do turismo, do turismo de base comunitária e temos a actividade como montra para promover, valorizar e defender grupos tradicionais comummente vulneráveis.
Avançamos quando vemos que o conjunto de importantes instituições do setor é formado por profissionais verdadeiramente qualificados. Quando a agenda do turismo sustentável passa do discurso à prática em responsabilidade e na necessidade de trabalhar também na regeneração.
Avançamos quando, apesar de um período crítico de pandemia, que impactou consideravelmente o setor turístico, vemos o aumento da procura e a consolidação das viagens como uma necessidade real do ser humano, afinal, turismo é um encontro! Seguimos em frente quando o turismo é responsável pelo brilho nos nossos olhos.
Quando há retrocessos no turismo?
Mas, como qualquer sector, ainda enfrentamos estrangulamentos e, por vezes, alguns contratempos. Retrocedemos quando ainda vemos profissionais e líderes que não estão atentos às rápidas mudanças do setor e à necessidade de adaptação.
Retrocedemos quando projetos de lei e decretos são aprovados sem que o setor de turismo seja uma das esferas de escuta e colaboração. Quando as iniciativas de promoção do setor são consideradas triviais em comparação com setores tradicionais como automotivo, farmacêutico e construção civil.
Retrocedemos quando a formação profissional em turismo não se centra no desenvolvimento de carreiras duradouras no setor, para além do primeiro emprego e dos serviços temporários. Como resultado, perde-se constantemente mão de obra qualificada por falta de incentivos, reconhecimento profissional e financeiro e, assim, perdemos a capacidade de inclusão económica de jovens e mulheres. Quando não reconhecemos, valorizamos e incentivamos a diversidade nas empresas, instituições e eventos.
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Retrocedemos quando não reconhecemos o potencial interno de geração de emprego e renda do turismo doméstico e rodoviário e negligenciamos a segurança e a qualidade das rodovias. Quando a promoção turística e as infra-estruturas não são tratadas como necessidades indissociáveis. Quando o setor não é reconhecido como estratégico para o desenvolvimento territorial e a sua capacidade de transformar territórios e promover temas como cultura, música, literatura, arte, gastronomia, arquitetura, design, entre outros.
Retrocedemos quando continuamos a ouvir que “o turismo é uma indústria sem chaminés”.
Portanto, é hora de pensarmos no que queremos para os próximos passos do setor, não o futuro do turismo, mas o presente. Permito-me ser otimista, porque prefiro sempre olhar “o lado cheio do vidro” e dizer que, até 2025, espero que possamos praticar menos o verbo “voltar” e “avançar” mais: novas oportunidades de geração de emprego e renda, valorização da formação e dos profissionais do turismo, ampliação do debate e da prática em torno da responsabilidade socioambiental no turismo, entre tantos outros avanços possíveis.
Mas, como não se pode sonhar ou realizar transformações solitárias, na próxima coluna compartilharei também as expectativas de profissionais que reconheço como exemplos no setor e praticantes do verbo “avançar”.
Turismólogo, porque sim!
Por fim, se há todo este tempo ainda trabalho no turismo, além da minha paixão, é porque, de facto, a balança está mais para o lado positivo. E assim, é realmente um momento de celebração e como estamos encerrando mais um ano para a chegada de um novo ciclo, também é hora de renovar as esperanças e continuar com o mesmo brilho nos olhos e sorriso nos lábios!
Ps: Aos meus queridos amigos, colegas de escola e colegas de profissão, formandos da segunda turma de Turismo da Puc Minas, que o dia 10 de dezembro seja sempre motivo de sorrisos e boas lembranças! Com carinho, Marina.
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