O turismo gastronómico tem vindo a ocupar o seu devido lugar na mesa dos bons e curiosos clientes que procuram cada vez mais associar a boa e saudável alimentação ao bem-estar de uma programação imersa na natureza. Em Joinville, três rotas rurais resgatam a história dos imigrantes com passeios por propriedades e pequenos museus, e valorizam o turismo catarinense com a boa culinária mestiça. O restaurante Doce Bruxinha, da chef Denise Zimmerman, no roteiro da Estrada Bonita, é um exemplo dessa conquista.
Não é possível falar de turismo nos dias de hoje sem mencionar a gastronomia como uma grande mais-valia e diferenciadora de qualquer região. A cidade de Joinville tem se transformado, por meio do turismo, com uma intensa programação cultural, ocupando espaços como o centro da cidade, bairros históricos, revitalizando museus e investindo em projetos que repercutem na empregabilidade, no empreendedorismo criativo local e, claro, na gastronomia. A mais recente iniciativa dirigida à população local foi o Festival das Luzes, que coloriu o centro da cidade com projeções de artistas nacionais e internacionais, atraindo turistas e impulsionando negócios na região.
Do centro para o campo
A secretaria de turismo de Joinville, juntamente com a Convenção da cidade @visitejoinville e a associação de Turismo Rural, têm unido esforços para capacitar e profissionalizar pequenos produtores rurais, num movimento em direção à implementação sustentável do bem-estar, regenerativo, cultural, agrícola e gastronômico. Na Estrada Bonita, percurso de apenas 5km, fomos conhecer a culinária da chef Denise, que em sua trajetória cursou a Escola de Belas Artes de Curitiba, e de seu ilustre conterrâneo de Joinville – o artista plástico Juarez Machado, e também formado em psicologia e gastronomia, que hoje resultam no seu maior projeto de vida: o restaurante Casa da Bruxinha.
O nome, apelido de infância, traz para a mesa as mais deliciosas e engenhosas intervenções. A chef Denise vai além da cozinha clássica e propõe um banquete saudável, misturando folhas e frutas orgânicas do seu quintal com a culinária imigrante. Prova disso foi o Kessler que testamos. Uma generosa fatia de costeleta de porco curada em 26 temperos por uma semana, além de defumada por 8 horas antes de servir. Um espetáculo de pratos que nos leva da zona rural da cidade às melhores lembranças culinárias. Um prato generosamente elegante.
A elegante cozinha campestre
A trajetória da chef Denise deixa claras suas referências estéticas com uma culinária elegante em um ambiente simples e sofisticado, como poucos chefs conseguem fazer. Tal sensibilidade aliada a bons produtos e ambiente natural é um exemplo da boa e nova gastronomia brasileira que precisa ser valorizada. A comida simples revela a qualidade dos insumos, o cuidado com os processos e revela a criatividade e paixão em servir.
Outro prato que me chamou a atenção foi a releitura do shinitzel, o grande prato milanês tipicamente consumido em regiões da Itália, Áustria e Alemanha. Numa espessura diferente e com cogumelos, além dos habituais cremes doces, cada dia um diferente. Para completar o cardápio que começa com uma mesa de folhas, grãos e linguiças, além de arroz e feijão, passa pelos pratos principais, terminando com bolos caseiros, com recheios quase infantis de tão delicados e generosos. Um atendimento requintado, culinária, lugar.
Venha para a estrada
É tão bom encontrar lugares assim pelas estradas da vida. Prova que a tendência de encontrar qualidade fora dos centros urbanos veio para ficar. Isso sim, é possível se reconectar com o interior do Brasil. Que mais políticas de incentivo cheguem ao entorno das grandes cidades, para que os pequenos produtores possam receber e contar um pouco das histórias de quem produz. Afinal, queremos saber de onde vem o que comemos, quem são as pessoas envolvidas nesse processo.
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Não me canso de dizer que comida boa é comida simples. E a comida simples pode ser sofisticada. A beleza está na naturalidade, na delicadeza de saber o que está sendo servido, na técnica que combina ingredientes bons e precisos para comermos cada vez melhor. A Casa da Bruxinha é uma experiência gastronômica que vale o desvio na BR, para entrar no roteiro, pegar a “Estrada Bonita”. Joinville está de parabéns por investir no Turismo e com muito empenho e profissionalismo vem contando uma nova história no turismo brasileiro. A terra dos príncipes, que surgiu como dote de Dona Francisca, filha de Dom Pedro, tem muita história e turismo para contar. Nervoso!
Thiago Paes é consultor em turismo gastronômico, colunista de Viagens e Gastronomia e está nas redes sociais como PaesPeloMundo. Contato@paespelomudo.com.br
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